terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Vitória da nova Constituição significa refundação da Bolívia

Esquerda.Net

O presidente boliviano Evo Morales saudou a vitória no referendo sobre a nova Constituição boliviana como o fim do Estado colonial, do colonialismo interno e externo. "Hoje é a refundação da Bolívia", comemorou. Algumas das principais propostas aprovadas: tamanho máximo das propriedades rurais será de 5 mil hectares; povos indígenas passam a ter a propriedade dos recursos florestais e direitos sobre a terra e recursos hídricos; empresas estrangeiras serão obrigadas a reinvestir seus lucros na Bolívia.

O Sim ganhou o referendo sobre a nova Constituição da Bolívia com cerca de 60% dos votos. Nos quatro departamentos onde a oposição ao presidente Evo Morales detém o poder o "Não" ganhou. Na pergunta sobre o tamanho máximo de uma propriedade agrícola (10.000 ou 5.000 hectares), a opção 5.000 ganhou por 78%, tendo triunfado mesmo nos departamentos da chamada "meia lua" (reduto da oposição). O presidente Evo Morales declarou, no discurso que fez após ser conhecida a vitória: "Hoje é a refundação da Bolívia (...) é o fim do Estado colonial, termina o colonialismo interno e externo". O resultado do referendo, acrescentou, é "o fim da grande propriedade e dos grandes proprietários".

No referendo à Constituição os resultados foram os seguintes, segundo o jornal boliviano La Prensa: Nos departamentos do Ocidente (La Paz, Cochabamba, Oruro e Potosi) o "Sim" obteve 72% e o "Não" 28%. Nos quatro departamentos da "meia lua" (Santa Cruz, Beni, Tarija e Pando) 63% dos votantes disseram "Não" e 38% "Sim". No departamento de Chuquisaca, 51% dos votantes apoiaram o "Sim" e 49% o "Não". De salientar que no departamento de La Paz, a capital, o "Sim" ganhou com 76%.

Além do referendo à Constituição, os bolivianos votaram também sobre o tamanho máximo que uma propriedade rural pode ter. O artigo 398 da nova Constituição proíbe o latifúndio e o referendo punha duas alternativas como limite máximo da propriedade rural: 10.000 ou 5.000 hectares. A opção 5.000 venceu em todos os departamentos, mesmo nos da "meia lua", com uma percentagem de 78% no global do país, contra 22% para a opção 10.000 hectares.

Constituição amplia direitos dos povos indígenas

O novo texto amplia os direitos sociais e econômicos dos povos indígenas, num país em que 80% da população é formada por indígenas e mestiços que nunca se viram representados pelos governos de elite branca.

Mais de 80 dos 411 artigos da nova Constituição abordam a questão indígena no país mais pobre da América Latina. Pelo texto, os 36 "povos originários" passam a dispor de uma quota obrigatória em todos os níveis de eleição, a ter propriedade exclusiva dos recursos florestais e direitos sobre a terra e os recursos hídricos. Num dos pontos mais polêmicos, é estabelecida a equivalência entre a justiça tradicional indígena e a justiça ordinária do país, autorizando tribos a julgarem e punirem suspeitos de crimes segundo os seus costumes tradicionais, e não de acordo com os preceitos jurídicos herdados da colonização espanhola.

A nova Constituição prevê também uma representação indígena no Tribunal Constitucional e o direito à autodeterminação dos povos indígenas em terras comunitárias.

"Esta bela terra nos pertence: aimarás, quéchuas, guaranis, chiquitanos... Os direitos dos que nasceram nesta terra são reconhecidos na nova Constituição", disse Morales durante a campanha do referendo... "Esse processo de mudança não tem volta, a Bolívia não retornará ao neoliberalismo", acrescentou o presidente boliviano.

Outras medidas importantes votadas no referendo foram: o cultivo da coca passa a ter proteção estatal, "como patrimônio cultural, recurso natural renovável e factor de coesão social": e a ampliação do controleo do Estado sobre a economia que vai exigir às empresas estrangeiras que reinvistam os seus lucros na Bolívia.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

O Fórum Social Mundial e a crise global


Francisco Carlos Teixeira

Carta Maior

Pessoas desumanizadas e entidades fantasmáticas antropomorfizadas: este foi, e ainda, é o clima mental regressivo da globalização proposta no alvorecer do novo milênio. Embora díspare em seus objetivos e alvos de interesse, o altermundialismo conseguiu claramente impor uma agenda (ainda que precária) a governos, instituições multinacionais e grandes empresas. Com ele, a chamada “opinião pública mundial” passou a ser também um ator global.

A Recusa ao Império:

No imediato pós-Guerra Fria. Desde 1991, quando o então Presidente George Bush (sênior) declarou - no day after da vitória na primeira Guerra do Golfo (1990-1991) - a emergência de uma nova ordem mundial colocou-se a questão da natureza deste mundo surgido de mais uma vitória. As mazelas da Guerra Fria (1947-1991) eram por demais evidentes. Em primeiro lugar o risco de aniquilação termonuclear total, expressa na condição MAD/Mútua Destruição Assegurada. Era o equilíbrio do terror. Na periferia do sistema de poder mantido pelas então superpotências – EUA e URSS – explodiam guerras violentas e cruéis, como na Coréia, nos anos ‘50; no Vietnã, nos anos ’60 e em Angola nos anos ’70. O corolário da “Bipolaridade” era o tremendo antagonismo entre os dois sistemas que se queriam validos universalmente, capitalismo e comunismo.

Os Estados Unidos emergiam do conflito com a URSS como o único poder “global” – palavra que, saída de um comercial de cartão de crédito veiculado em mídia mundial, tornar-se-ia a denominação genérica da nova ordem mundial.

Naquela ocasião a maior parte da mídia, e também vários acadêmicos, apressam-se em declarar os Estados Unidos o último “império” do planeta. Não no sentido da última ocorrência na história, mas, como significando a própria realização da história. Nada haveria depois da hegemonia total, ou global, da América. É neste sentido que a noção de fim da história de Francis Fukuyama – exagerada pelo autor, mas muito mais pelos comentaristas – é concebida como a marca registrada da nossa época. A vitória final dos Estados Unidos seria a vitoria dos regimes liberais representativos (apenas aparentemente democráticos) e da economia de mercado. As idéias “velhas” – e graças ao mega-sucesso de Stevie Spielberg, denominadas desde logo de “jurássicas”- sobre a regulação econômica, sobre o Estado de Bem-Social e de controles da sociedade sobre os agentes econômicos, foram consideradas simplesmente insuportáveis.

A vitória destrutiva do liberalismo

A destruição de barreiras e entraves ao livre fluxo de capitais e a demolição sistemática dos anteparos sociais que deveriam proteger grupos, classes e minorias menos dotadas eram as únicas metas possíveis de qualquer política econômica. Somente nos anos imediatos ao “boom”de 1870, ou os “Anos Loucos” dos ’20 ( do século passado ) podem ser comparados com a apologia aos méritos da “mão invisível” como gerente geral do capitalismo.

Logo após as eleições de Margareth Thatcher e de Ronald Reagan (1979/1980 ) pareceria ao observador cuidadoso que os diversos matizes do socialismo e, mesmo, do keynesianismo regulador, estavam definitivamente condenados à lata de lixo da história. Ao mesmo tempo, embora poucos se dessem conta disso naquele momento, o próprio pensamento econômico e social no Ocidente entrava em decadência. Os grandes debates econômicos foram substituídos pela mágica da micro-economia, como os operadores do mercado substituindo os pensadores.

Por toda a parte, mas especialmente na mídia globalizada, surgiam “intérpretes” do chamado “mercado”. Este era transformado em uma entidade antropomórfica, dotado de sentimentos e, mesmo, de uma psicologia própria. Assim, conforme as grandes redes de televisão, o “mercado” variava de “otimista”, para “pessimista”, ou mesmo “nervoso”. Num exemplar fenômeno de transferência na mesma proporção em que os indivíduos eram incorporados na nova ordem como “coisa”, mera mercadoria, o mercado assumia as prerrogativas típicas da pessoa humana. Os livros de auto-ajuda, uma espécie de evangelho sacrílego do sucesso pessoal, ensinavam e impunham a idéia de um indivíduo padrão, sempre positivo, em eterna prontidão, inteiramente despido de qualquer nuance de subjetividade. O “mercado”, bem ao contrário, tornava-se cada vez mais sensível, subjetivo, idiossincrático.

Pessoas desumanizadas e entidades fantasmáticas antropomorfizadas: este foi, e ainda, é o clima mental regressivo da globalização proposta no alvorecer do novo milênio.

Resistência e Inovação nos Movimentos Sociais

O desmonte desta burocracia pode ser naquele momento, popular em virtude do seu papel espoliador das próprias massas populares que deveria promover e assistir. Contudo, tal consenso em torno de um Estado dito “mínimo” acabou por revelar, com rapidez, sua face perversa. Junto com as grandes empresas estatais – ineficientes e oligárquicas – também eram desmontados sistemas de educação, de saúde, de transporte ou de construção de moradias. Em alguns países radicalmente pobres, até a água era privatizada, como no caso da Bolívia. Na maioria das vezes, os serviços, sempre caros, não correspondiam minimamente às necessidades da maioria da população.

Ao mesmo tempo em que a “velha” Ordem ruía, em alguns países, em especial na América do Sul, surgiam novos movimentos sociais altamente reivindicatórios, muitos radicalizados, revelando que o fim da história havia sido anunciado prematuramente. Grupos sociais secularmente marginalizados, espoliados em seus direitos, tratados com arrogância e crueldade, aproveitaram-se da ordem liberal e criaram no seu interior tensões que ela mesma não estava preparada e não podia resolver.

Arranjos oligárquicos de décadas, como na Venezuela, Bolívia, Equador, ruíam deixando para trás uma elite pervertida e atônita. Regimes cruéis como o apartheid na África do Sul ou a ditadura de Pinochet no Chile foram substituídos por novos arranjos, onde os grupos subalternos passaram a desempenhar um papel central.

A nova ordem mundial proclamada na débâcle do socialismo soviético não se quadrava nos moldes do consenso ditado em Washington. Surgiam sinais inquietantes de contestação ao império global dos Estados Unidos.

Existe Alternativa

Da mesma forma, no interior das sociedades avançadas, na Europa e nos Estados Unidos (e por toda parte nos países onde uma florescente classe média urbana impunha-se no novo cenário social) surgia uma ativa crítica ao excessivo materialismo e mercantilismo da chamada Nova Ordem Mundial. Isso se dava através ora, a emergência de novas igrejas; de cultos milenaristas e salvacionistas de caráter regressivo; e de diversos e fundamentalismos.

Grandes vagas de movimentos sociais de protesto contra a destruição da natureza, da vida selvagem; de proteção às crianças ou outras minorias não atendidas, também atraiam a atenção e moldavam-se como alternativas a Ordem que emergira do fim da Guerra Fria.

O mega-movimento organizado em tono do chamado Fórum Social Mundial (inicialmente na cidade de Porto Alegre, depois em várias capitais mundiais ) erguia seu lema ( “Outro Mundo é Possível”) como um ímã aglutinador do que seria chamado de altermundialismo, no final dos anos ’90 e começo do novo milênio. Embora díspare em seus objetivos e alvos de interesse, algumas vezes até mesmo caótico posto que recusava a qualquer instituição, partido o governo um papel dirigente -, o altermundialismo conseguiu claramente impor uma agenda (ainda que precária) a governos, instituições multinacionais e grandes empresas. As noções de “desenvolvimento sustentável”, as chamadas “Metas do Milênio”, o Protocolo de Kyoto, os tratados de banimento das minas terrestres, do mercenariato de crianças, a criação de vários santuários naturais e a adoção pela ONU de uma agenda de combate ao racismo, ao sexismo machista e de debate da homofobia são resultantes em grande parte da agitação do movimento altermundialista.

Em alguns momentos, em Seatlle (1999) ou Genova (2001), as reuniões de cúpula do chamado G-7 (depois, G-8) foram alvo de manifestações gigantescas de protesto dos movimentos alternativos em busca de “um outro mundo”, fazendo com que a chamada “opinião pública mundial” passa-se a ser, também ela, um ator global.

Eis aí, no âmbito da crise mundial, o papel do FSM na história recente dos movimentos sociais.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Crímenes de guerra


Santiago O’Donnell
Página 12

El mundo se puso un poco más peligroso para los criminales de guerra del primer mundo. Las torturas y los secuestros del gobierno de George W. Bush y los bombardeos de civiles palestinos por parte del ejército israelí seguramente no recibirán el castigo que se merecen, pero al menos sus principales responsables tendrán que pensarlo dos veces antes de salir de sus países.

Según Newsweek, el mes pasado una Corte Federal de Nueva York aceptó un caso contra un ministro de Justicia de Bush, John Ashcroft, presentado por un ciudadano canadiense que fue llevado por la CIA a Siria, donde fue torturado. También el mes pasado la Corte Suprema estadounidense aceptó una causa por abusos de prisioneros de Guantánamo contra el ex secretario de Defensa Donald Rumsfeld. Esa denuncia se apoya en un duro documento firmado por una comisión bipartidista del Senado, que señala a Rumsfeld como “la causa directa” de las vejaciones en la cárcel que el jueves ordenó cerrar Obama.

El gobierno de Bush insiste en negar haber torturado prisioneros y responsabiliza por los eventuales “excesos” cometidos a los perejiles pescados infraganti. Pero es el mismo gobierno que ordenó a sus interrogadores reinterpretar los límites que la Convención de Ginebra impone al trato de prisioneros, orden que Obama revirtió en su segundo día como presidente. Al anular esa orden, Obama proclamó “Estados Unidos ya no torturará”, con lo que admitió implícitamente que lo hacía.

El caso israelí también va sumando adeptos. La semana pasada la oficina de derechos humanos de Naciones Unidas abrió una investigación sobre la posible comisión de crímenes de guerra en el ataque contra un centro de refugiados y depósito de alimentos durante la invasión de la Franja de Gaza. Por su parte, el Premio Nobel de la Paz Desmond Tutu llamó a crear un tribunal internacional para juzgar crímenes de guerra en Medio Oriente, similar a los que juzgan violaciones a los derechos humanos en Ruanda o la ex Yugoslavia. Médicos de la franja denuncian haber tratado quemaduras de fósforo blanco, un material bélico de uso prohibido. Esta semana la canciller israelí estuvo a punto de cancelar un viaje a Bruselas porque un diario israelí informó, erróneamente, que sería arrestada ni bien pisara suelo belga, donde todavía rige una orden de captura contra el ex premier Ariel Sharon por presuntos crímenes de guerra contra la población palestina.

El gobierno israelí responsabiliza a Hamas por las muertes de los civiles y asegura que militares de ese movimiento se escondían en refugios y ambulancias y disparaban desde allí, denuncias que han acompañado con videos que mostrarían algunos casos en que ello sucedió. También aseguran que Hamas exageró por mucho la cantidad de muertos civiles durante la invasión. Pero el accionar de las fuerzas israelíes fue denunciado por todas las organizaciones humanitarias que trabajan en la franja y las fotos de los niños muertos en bombardeos dieron la vuelta al mundo. Y es difícil negar que ante la censurable actitud de Hamas de lanzar cohetes que alteran la vida de ciudadanos israelíes en la frontera con la franja, y ocasionalmente lastiman, y muy de vez en cuando matan a esos ciudadanos, el gobierno israelí respondió con una masacre de civiles y la destrucción total de la infraestructura urbana del territorio palestino, que ya venía sufriendo una crisis humanitaria causada por un férreo bloqueo impuesto por Israel.

Hasta ahora los grandes criminales de guerra del primer mundo tuvieron vía libre, porque en sus países las acusaciones, cuando las hubo, siempre recayeron en agentes de bajo nivel. Por ejemplo, algunos soldados y contratistas privados fueron condenados en cortes estadounidenses por crímenes contra civiles en Irak. Pero nunca fue juzgado ni siquiera un agente raso de la CIA, o algún militar con responsabilidad de mando por encima de una patrulla o pelotón.

Según el principio de justicia universal, un criminal de guerra puede ser juzgado en otro país si su país de origen no muestra voluntad de someterlo a un juicio imparcial. Bajo ese principio, un juez español, Baltasar Garzón, pidió y obtuvo la captura de Pinochet en Gran Bretaña. En el pasado hubo intentos de someter a funcionarios norteamericanos a la justicia de terceros países. El más conocido es el caso de Kissinger, por su apoyo al Plan Cóndor, de las dictaduras del cono sur. Pero tanto en ése como en otros similares, el gobierno estadounidense presionó a los países que habían abierto causas para que abandonen sus intenciones.

Lo mismo pasaba en las cortes estadounidenses, donde en varios casos el gobierno solicitó y obtuvo la anulación de causas al invocar cuestiones de seguridad nacional. Por ejemplo, en el caso de la complicidad de empresarios estadounidenses con los paramilitares responsables de matanzas en Colombia. Pero el avance de la justicia universal de a poco va cambiando el escenario.

“Por un lado está la responsabilidad del Estado en asumir la comisión de crímenes de guerra y reparar a los damnificados. Para que eso suceda, el gobierno de Obama o el futuro gobierno israelí deben reconocer que el Estado cometió crímenes y es difícil que eso suceda. Por otro lado está la responsabilidad individual, que en el caso de la justicia universal corre por el lado de la Corte Penal Internacional (CPI) de La Haya”, explica Andrea Vlahusic, profesora de derecho internacional de la UBA, ante una consulta del cronista.

El tema con la CPI es así: La Haya nunca juzgó un crimen de Estado de un país del primer mundo. Por ejemplo, el tribunal para la ex Yugoslavia no investigó el uso de bombas racimo por parte de la OTAN. Además, ni Estados Unidos, ni Israel, ni Irak, ni Afganistán son firmantes del Tratado de Roma y por lo tanto no aceptan la competencia del tribunal.

“Pero el Estado puede aceptar que un individuo sea juzgado en la CPI por un caso particular, por más que no sea firmante del tratado de Roma”, aclara Vlahusic. Si ese país se niega a entregar al acusado, la CPI puede recurrir al consejo de Seguridad.

“Para que un caso llegue a la CPI, la víctima debe ser de un país que firmó el Tratado de Roma o el crimen tuvo que ocurrir en un país firmante. Si no se dan esas condiciones, el caso sólo se puede abrir por resolución del consejo de Seguridad de la ONU. Es lo que ocurrió en Sudán, que no es parte del estatuto. El caso de Israel es similar”, explica la profesora. O sea, basta que alguien presente la denuncia y que los aliados de Israel en el consejo se abstengan, para que los presuntos crímenes sean investigados.

“El criterio de la justicia universal se aplica. Si Garzón quisiera aplicar el mismo criterio con Bush que usó con Pinochet, podría hacerlo. Las condiciones jurídicas están dadas. La cosa es la voluntad política”, asegura la experta.

¿Y cuál es la voluntad política de Obama? Si algo dejó en claro en estos días es que no piensa encubrir ni disimular los chanchullos de su antecesor. De ahí a permitir que lo metan preso hay una gran distancia, y no es realista imaginar que eso sucederá. Pero sí es dable pensar que suspenderá los “briefs” del Departamento de Justicia pidiendo a jueces norteamericanos el cierre de causas por el bien de la seguridad nacional. También es probable que no proteja a funcionarios de Bush acusados en terceros países, si es que de veras quiere reconciliar a Estados Unidos con el mundo, tal como profesa.

“Estas cosas avanzan de a poco, pero avanzan. No me sorprendería que caiga preso algún funcionario medio, me encantaría que fuera Bush, pero no lo veo como algo realista”, redondea la profesora.

De no mediar sorpresas, lo más probable es que en el corto plazo el castigo se limite a que Rumsfeld, Cheney, Ashcroft, Gonzales, Livni, Olmert y compañía tengan que elegir con mucho cuidado su próximo lugar de vacaciones. Pero así empezaron las complicaciones para los dictadores latinoamericanos, y algunos terminaron en el calabozo. Ahora la justicia universal llegó hasta la puerta del poder real y Obama tiene la llave. Si no la usa como prometió, tarde o temprano alguien va a derribar esa puerta a las patadas.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Guantánamo, ¿y ahora qué?

Gonzalo Boye Tuset
Público

La medida de Obama de cerrar Guantánamo en el plazo de un año –que no la de poner fin a las detenciones, porque ninguna excarcelación ha sido anunciada– representa una buena pero insuficiente señal sobre el futuro comportamiento de la Administración norteamericana. Sin embargo, esa medida genera, por una parte, un alivio moral y, por otra, un auténtico quebradero de cabeza jurídico que habrá de resolverse al amparo de las normas internacionales y tendrá consecuencias de difícil justificación, cuyos únicos responsables son aquellos que han querido tomar atajos en la lucha contra el terrorismo.

La creación de Guantánamo ha sido uno más de los errores –si es que en este caso no estamos abiertamente ante un delito– de George Bush y sus asesores, porque, si lo que se pretendía era realizar una lucha eficaz contra el terrorismo yihadista internacional, lo único que se ha conseguido es la creación de un pseudo sistema jurídico para amparar el secuestro y la tortura, anulando cualquier posibilidad posterior de enjuiciar a los allí detenidos, ya que las pruebas obtenidas de esa forma no resisten el filtro de legalidad de ninguna nación civilizada y tampoco el de la legalidad de Estados Unidos.

En nuestro Derecho, el artículo 11.1 de la Ley Orgánica del Poder Judicial establece: “No surtirán efecto las pruebas obtenidas, directa o indirectamente, violentando los derechos o libertades fundamentales”. Esta norma existe también en los diversos ordenamientos comparados, lo que impide que cualquier prueba obtenida en ese limbo jurídico pueda ahora surtir efecto en ningún procedimiento penal que se intente en contra de quienes allí se encuentran o se han encontrado. A este respecto se pronunció recientemente nuestro propio Tribunal Supremo, que anuló una increíble sentencia condenatoria de la Audiencia Nacional dictada en contra de un ciudadano español que estuvo allí encarcelado.

A estas alturas, discutir lo que realmente ha sucedido en Guantánamo o la viabilidad jurídica de las pruebas que allí se hayan podido obtener es tanto como discutir la existencia de Papá Noel en una reunión de jubilados. Si abrir Guantánamo fue una tarea compleja, porque fue necesario crear al andamiaje jurídico que permitiera esa aberración, cerrarlo debería parecernos sencillo –y así debe serlo–, sin embargo, lo complejo es asumir las consecuencias no del cierre, sino de la existencia de esa antesala del patíbulo.

Básicamente, debemos tener en cuenta que llevamos años escuchando que allí se encuentra un grupo importante de los más relevantes y peligrosos terroristas yihadistas del mundo y, ahora, como consecuencia del cambio de Administración y de la asunción de las normas internacionales en materia de derechos humanos, veremos cómo esa misma gente tendrá que quedar en libertad sin cargo alguno porque las pruebas que se hubiesen podido obtener en su contra son nulas de pleno derecho. En el fondo, la existencia de ese campo de torturas sólo ha servido para generar un amplio margen de impunidad para aquellos que realmente hayan participado en actividades terroristas y para el infinito sufrimiento de muchos que, seguramente, ni saben los motivos por los cuales fueron llevados allí.

Para desmontar Guantánamo, el Gobierno de Obama deberá dictar nuevas normas que dejen sin vigor aquellas en las cuales se han venido amparando para llevar a cabo esa ignominiosa labor en dicho territorio –acción legislativa– y, como consecuencia de la derogación de dicho ordenamiento, tendrá que asumir la repatriación de los rehenes a sus respectivos países de origen o a aquellos Estados amigos que estén en disposición de acogerlos, pero con todas sus consecuencias, entre otras, la de la impunidad y el desconocimiento absoluto sobre la realidad de las personas que acojan.

Si los que han estado secuestrados en Guantánamo eran o no culpables de algún delito es algo que ya nunca más sabremos, porque si a ellos se les ha privado de sus más fundamentales derechos, a nosotros –la sociedad en su conjunto– se nos ha privado de la posibilidad de conocer la verdad y saber, realmente, quiénes eran y a qué se dedicaban antes de ser encarcelados. La verdad política –si eso existe– impedirá obtener una verdad jurídica, es decir, la brutalidad ha triunfado sobre el Derecho.

En todo caso, lo relevante no son tanto las consecuencias, sino las lecciones que de tan ilegal experiencia se pueden sacar y, una vez más, queda demostrado que los atajos en materia de seguridad nacional o internacional sólo llevan a situaciones aberrantes como la planteada, y la exigencia de responsabilidades penales –que las hay– a quienes no sólo han permitido o coadyuvado a su existencia, sino también a aquellos que han ayudado a su creación, porque tan responsable es el que tortura como el que genera la impunidad para dichas acciones.

La paradoja es que, al final, con el cierre del centro y si las normas que lo amparan se derogan, las únicas pruebas legalmente válidas con las que contaremos para enjuiciar a alguien serán aquellas que permitan la imputación de graves delitos –perseguibles universalmente– en contra de los planteamientos de quienes han creado las leyes que han permitido la existencia misma de Guantánamo, así como de las personas que han participado directa e indirectamente en las más atroces vulneraciones de los derechos humanos cometidas en ese campo de concentración.

En resumidas cuentas, la creación de Guantánamo tenía como finalidad confesada acabar con el terrorismo yihadista –objetivo no alcanzado–, pero podemos conformarnos con que sirva, al menos, para perseguir el terrorismo de Estado, que es justamente lo allí realizado.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Adiós para siempre

David Brooks
La Jornada

Todo empezó con un fraude y acabó con una estafa.

Y todo el mundo –no sólo los que lo eligieron– está pagando la cuenta.

Han sido ocho años en los que el mundo ha estado al borde de un ataque de nervios (con cientos de miles sufriendo ataques físicos). Con relojes, calendarios y sitios de Internet diseñados para mantener una cuenta del tiempo hasta por segundos para marcar el fin de la era de George W. Bush, el presidente con la mayor desaprobación popular de la era moderna, y considerado por historiadores y analistas como, tal vez, el peor de todos (y no es una competencia fácil de ganar) está por desalojar la Casa Blanca y regresar a la vida privada en Texas.

Pocos meses después de llegar a la Casa Blanca, justo después del 11 de septiembre de 2001, Bush alcanzó los índices de aprobación más altos con 90 por ciento. Hoy, en la última encuesta de CBS News/New York Times, difundida este fin de semana, Bush gozaba de 22 por ciento de aprobación, el peor nivel jamás registrado (sólo podría consolarse con que Dick Cheney, su vicepresidente, tenía 13 por ciento).

El hombre que declaró una nueva cruzada en nombre de Dios contra los infieles, tanto dentro como fuera de Estados Unidos, quien proclamó que “o estás con nosotros o estás con el enemigo”, quien rompió la Constitución, la Carta de Naciones Unidas, las Convenciones de Ginebra, quien encabezó el gobierno más clandestino en tiempos recientes, y que se tropezaba con el idioma ofreciendo un diccionario de términos atropellados ahora famosos, se irá hacia su puesta del sol, apostando –como afirmó en su última conferencia de prensa– más o menos algo como que la historia lo absolverá.

Pero por el momento, sólo los llamados neoconservadores, algunos cristianos fundamentalistas, grandes intereses de energía, y los cómicos, han expresado su tristeza al concluir esta presidencia.

La Junta Cheney/Bush

Lo que pocos registran dentro y fuera de este país es que hace ocho años llegó al poder un gobierno radical derechista, en muchos sentidos, fundamentalista, dispuesto a transformar el panorama político, económico, militar y cultural no sólo de este país, sino del mundo. Desde sus primeros discursos hasta su mensaje de despedida al país el jueves, Bush colocó esto en términos simples: todo se trataba de una lucha milenaria entre “el bien y el mal”.

Todo comenzó en noviembre de 2000 con una elección en el país autoproclamado líder de la democracia, de la que hasta la fecha nadie puede comprobar quién ganó. La elección destruyó el mito de “una persona, un voto”, ya que sí se comprobó que no todos los votos se cuentan, y que el fraude a la antigüita, combinado con el cibernético, está sano y vivo. Por la institución anticuada y absurda del Colegio Electoral que sustituye el voto directo para presidente, George W. Bush ganó la elección aunque perdió en el voto popular (por aproximadamente 500 mil sufragios). Para colmo, la elección no fue determinada por la voluntad popular, sino por la Suprema Corte de Justicia.

Con ello, llegó al poder lo que Gore Vidal bautizó como la “junta Cheney-Bush” (puso a Cheney primero, por considerarlo como el poder real en la Casa Blanca). Hace poco más de un año, en entrevista con La Jornada, Vidal explicó lo que ha implicado todo esto para el país: “Hemos perdido la república y nuestras instituciones; hemos sufrido un golpe de Estado y Bush ha derrocado la Constitución”.

Gore agregó que “hasta hemos perdido el único regalo que nos dejó Inglaterra cuando nos abandonó a nuestro individualismo: la Carta Magna y el habeas corpus, todo lo que dio el tono del Siglo de las Luces a Estados Unidos”. Bush, subrayó, “odia a la república” y su gobierno “legalizó todo acto inconstitucional de este presidente inconstitucional y malicioso que cree en la tortura, cree en matar gente, cree en la guerra unilateral contra otros países que no nos han ofendido de ninguna manera y que no nos pueden dañar de ninguna manera”. Concluyó que “de eso se trata un golpe de Estado. Estas (quienes están en el gobierno) son las peores personas en el mundo. Los hombres del petróleo, del gas, los ladrones”.

Vale recordar que como candidato Bush señaló que como texano y gobernador de un estado fronterizo tenía “experiencia” en relaciones exteriores, y al llegar a la presidencia declaró que México sería su prioridad en las relaciones exteriores. Su primera cena de Estado fue con Vicente Fox, su primer viaje al exterior fue al rancho de Fox en Guanajuato, donde los “dos cowboys” hablaron de una nueva relación. Su primer gran iniciativa fue impulsar una reforma migratoria.

El 11-S

Pero pocos meses después, dos aviones secuestrados se estrellaron contra las Torres Gemelas del World Trade Center en Nueva York, otro contra el Pentágono y un cuarto, dirigido probablemente contra el Capitolio, cayó en Pensilvania, todo cambió (México fue relegado a un segundo plano). Noam Chomsky, en entrevista con La Jornada, advirtió que las primeras víctimas del atentado serían los palestinos y las fuerzas progresistas y de izquierda por todo el mundo.

Los neoconservadores, el agrupamiento político-intelectual que había tomado el poder junto con Bush, se habían preparado para este momento desde más de una década antes, cuando elaboraron una estrategia para garantizar hasta el infinito que Estados Unidos sería el único superpoder en el planeta, y que parte de ello era rehacer el mapa geopolítico, incluido Medio Oriente.

Bush declaró una guerra permanente contra algo llamado el “terrorismo”, y se elaboró todo un esquema sobre el nuevo enemigo que llenara el vació dejado por la desaparición del otro enemigo, el “comunismo”, usado durante décadas para justificar invasiones, intervenciones, operaciones clandestinas, gastos militares y maniobras políticas. Hasta se podían usar los mismos discursos de antes de la caída del Muro de Berlín, sustituyendo sólo la palabra “comunismo” por “terrorismo”.

Contra el terror

Fue el inicio de uno de los engaños más extraordinarios de la historia. Imponiéndose sobre las agencias de inteligencia, sectores del Pentágono, del Departamento de Estado y de otras partes del gobierno permanente estadunidense, el nuevo equipo ordenó que el mundo era como ellos deseaban. Se distorsionó y fabricó inteligencia, se lanzó una campaña de propaganda de proporciones sin precedente con la colusión, aunque con maravillosas pero pocas excepciones, de los medios masivos de comunicación, culminando con una presentación ante la comunidad internacional en el Consejo de Seguridad de la Organización de Naciones Unidas para justificar la invasión de un país que nada tenía que ver con el 11-S en lo que ahora es la guerra más larga de la historia de Estados Unidos.

Pero la declaración de una “guerra global contra el terror” fue más que sólo lanzar las dos guerras, la otra contra Afganistán, ambas inconclusas al fin del régimen de Bush. Bajo ese rubro, se impuso lo que el historiador Arthur Schlesinger calificó de nueva “presidencia imperial”, que otorga enormes poderes al presidente e incluye ordenar operaciones militares donde quiera, incluso dentro de Estados Unidos.

En la “guerra contra el terror” se rompieron barreras institucionales y hasta legales del gobierno, a tal nivel, que literalmente se anuló por orden presidencial uno de los fundamentos del sistema legal estadunidense, el habeas corpus, concepto creado hace más de 700 años, que protege al individuo del poder del gobierno. A la vez, se legalizó la tortura, incluida la práctica de waterboarding, considerada como tortura y violatoria de la ley internacional por Estados Unidos en la Segunda Guerra Mundial.

Además se le otorgó al presidente el poder de designar a cualquiera, extranjero o estadunidense, como “combatiente ilegal”, y con ello anular todas las garantías y derechos constitucionales básicos (presentación de cargos, acceso a abogados, un proceso judicial en un tribunal y más) y permitía su secuestro, desaparición y detención arbitraria e indefinida, como en el caso de los detenidos en el campo de concentración de Guantánamo.

Aún más, el gobierno de Bush, por orden secreta, ordenó el espionaje sin orden judicial de estadunidenses y sus comunicaciones internacionales, como toda una serie de operaciones clandestinas, incluida una red de cárceles secretas en varias partes del mundo y la práctica de “rendición”: se entregaba a un detenido en el extranjero a otro gobierno para ser interrogado bajo tortura.

El presidente del Comité Judicial de la Cámara de Representantes, John Conyers, acaba de presentar un amplio informe documentando de lo que califica de “transgresiones a la Constitución”, que incluye casi todos los aspectos del gran logro de Bush de establecer una presidencia suprema con poderes extraordinarios bajo la justificación de medidas necesarias durante “tiempos de guerra”. A la vez, frente a todo crítico, este gobierno también se dedicó, en palabras de Conyers, a “la intimidación e intento de callar a críticos y denunciantes que se atrevieron a contarle a sus conciudadanos lo que se estaba haciendo en su nombre”.

Salvar vidas

Pero en nombre de los estadunidenses, Bush y su equipo lograron, durante más de 7 años, una restructuración radical del gobierno y de la expresión del poder a nivel mundial. Bush dijo la semana pasada, en su mensaje de despedida a la nación, que todo fue para salvar vidas estadunidenses. “Hay debate legítimo sobre muchas de estas decisiones. Pero no puede haber mucho debate sobre los resultados. Estados Unidos ha pasado más de siete años sin otro atentado terrorista en nuestro terreno”.

Sin embargo, el hecho es que meses antes del 11-S, Bush fue alertado, hasta advertido de manera repetida por las agencias de inteligencia, que Osama bin Laden y Al Qaeda preparaban un ataque “con aviones” contra este país, y no hizo nada. “¿Bush salvó vidas? Que le diga eso a las familias de los 4 mil 200 militares que han fallecido en la guerra innecesaria en Irak… la verdad trágica es que estaban participando en una guerra que no deberíamos estar librando y que fue vendida al Congreso, a los medios y al pueblo estadunidense con justificaciones exageradas y hasta falsas”, escribe Richard Clarke, quien fue asesor presidencial antiterrorista de Bill Clinton y al inicio de la presidencia de Bush.

También, agrega, se tiene que incluir a los que casi nunca se cuentan aquí, los casi 100 mil civiles iraquíes (por el cálculo conservador de Irak Body Count) “muertos porque George W. Bush invadió ese país. Eso es 30 veces un 11-S... Las acciones de su gobierno contra el terrorismo, incluido Irak, mataron a muchos más estadunidenses que los salvados por las agencias de inteligencia de Estados Unidos en los últimos ocho años”, concluye Clarke.

Guerra en otros frentes

El gobierno de Bush promovió también una guerra contra el medio ambiente, los derechos de los homosexuales, la salud, la educación y la ciencia. Desde promover versiones bíblicas de la evolución, hasta colocar interpretaciones bíblicas oficiales sobre la creación de fenómenos naturales como el Gran Cañón, y cuestionar la abrumadora evidencia científica sobre el calentamiento global, no hubo rama del gobierno que no fuera infectada por la ideología fundamentalista del gobierno de Bush.

A la vez, se buscó privatizar desde la educación pública hasta las prisiones. Tal vez lo más notable es que se instaló una fuerza de mercenarios y contratistas privados en Irak de las mismas dimensiones que las fuerzas armadas estadunidenses.

Aunque presidió sobre la ampliación del gobierno federal, sobre todo con la creación del gigantesco Departamento de Seguridad Interna, Bush promovió la desregulación de la economía y el debilitamiento de agencias e instancias dedicadas a velar por los derechos laborales, ambientales y civiles.

Con el huracán Katrina, se reveló otra abdicación de las responsabilidades básicas del gobierno en la era Bush. Con la prioridad de la guerra sobre todo lo demás, el inepto e irresponsable manejo de la respuesta al desastre natural que casi destruyó Nueva Orleáns y otras comunidades, dejaron a la vista que la vida de los pobres y la obligación de invertir en la infraestructura para el bien común eran considerados asuntos secundarios. Así, el huracán tal vez no fue el culpable del desastre, sino la respuesta, o falta de ella, del gobierno a todos los niveles.

La crisis

El costo financiero de esa guerra a largo plazo superará los 3 billones de dólares, calcula el economista y premio Nobel Joseph Stiglitz. Junto con el manejo de la economía estadunidense durante los últimos ocho años, Stiglitz calcula que “la cuenta por los excesos de la era Bush –el total de nueva deuda combinado con nuevas obligaciones– llega a 10.35 billones”.

Lo que se proclamaba como un triunfo del mercado libre y el libre mercado –el mantra de los neoliberales desde los tiempos de Reagan– tanto en Estados Unidos como en el mundo, estalló como una bomba en una crisis en la capital del capital mundial, en lo que ahora todos coinciden, que es la peor crisis financiera y económica desde la Gran Depresión.

Durante el gobierno de Bush, Wall Street se congratulaba de su auge como prueba de que la fe en la libertad del mercado abría las puertas a un paraíso. Pero aparentemente todo fue una ilusión.
El caso de Madoff es tal vez el mejor símbolo de todo lo ocurrido, cuando esta figura tan respetada en el mundo financiero confiesa que todo fue un juego piramidal y que perdió tal vez 50 mil millones de dólares del dinero de sus clientes. Se cree que fue la estafa financiera más grande de la historia. Pero el hecho es que sólo fue una pequeña representación de un sistema financiero entero.

De hecho, tan grave es esta crisis que podría marcar el fin de Nueva York (y Estados Unidos) como el centro financiero mundial, advierte el influyente Consejo de Relaciones Exteriores.
Pero quizá lo más asombroso es que la crisis obligó a Bush y a su gobierno a confesar que el sistema del libre mercado está al borde del colapso y que sólo podrá sobrevivir con lo que será tal vez la intervención estatal más grande de la historia en la economía. La crisis del neoliberalismo, que primero se expresó en América Latina, llegó finalmente a la capital del capital.

Bush acaba su mandato obligado a promover algo así como una nacionalización parcial del sistema financiero estadunidense. Después de que se privatizaron todas las ganancias a lo largo de estos ochos años (aunque el esquema es mucho más viejo que eso), ahora se están socializando los costos, o como afirman algunos críticos, esto es socialismo al revés, o socialismo para los ricos.

El fin

A eso del mediodía del martes 20 de enero, el presidente Bush se convertió en el ex presidente Bush. Y hasta el fin, él y su equipo insistieron en que tenían razón, y que no se cometió ningún grave error, por lo menos ninguno que estén dispuestos a reconocer. Llegó al poder con la promesa de una reforma migratoria y acabó con redadas masivas, deportaciones récord, un muro fronterizo y criminalizando a los indocumentados.

Llegó con un superávit en el presupuesto y deja un déficit y por lo tanto un deuda que pesará sobre futuras generaciones. Llegó a un país sin guerra y deja dos conflictos que cada día cobran decenas de vidas, y con promesas de promover la paz entre palestinos e israelíes, dio luz verde a una agresión tan bárbara e inhumana de Israel en Gaza que hasta la Organización de Naciones Unidas la ha denunciado, y muchos acusan que esto es “un crimen de lesa humanidad”.

Deja atrás un pueblo que enfrenta despidos masivos, una sociedad que pierde sus hogares y más hambre en las calles. Deja atrás al pueblo más encarcelado en el mundo. Deja atrás un mundo entero al borde de múltiples crisis.

En su mensaje final al pueblo estadunidense afirmó: “cuando los pueblos viven en libertad, no escogen de manera voluntaria a líderes que promueven campañas de terror. Cuando la gente tiene esperanza en el futuro, no cederá sus vida a la violencia y el extremismo. Así, por todo el mundo, Estados Unidos promueve la libertad humana, los derechos humanos y la dignidad humana”.

Agregó que “en el siglo XXI, la seguridad y prosperidad en casa dependerá de la expansión de la libertad en el extranjero. Si Estados Unidos no encabeza la causa de la libertad, nadie la encabezará. Al abordar estos desafíos... Estados Unidos tiene que mantener su claridad moral. Frecuentemente les he hablado del bien y el mal. Esto ha incomodado a algunos. Pero el bien y el mal están presentes en este mundo, y entre los dos no se puede hacer concesiones”.

Desafortunadamente, Bush no tenía frente a sí un espejo al pronunciar estas palabras. E irónicamente será difícil que la historia lo absuelva, ya que su política de hacer todo lo posible para mantener secreto el manejo de su gobierno ha resultado en la desaparición de una extensa colección de documentos y registros de órdenes y comunicaciones sobre una amplia gama de asuntos.

La conciencia

El jueves había indicios de que parte de esta larga noche ha acabado: el designado próximo procurador general de Estados Unidos, Eric Holder, declaró sin equivocación que “el waterboarding es tortura”. Ni Holder ni Obama son izquierdistas. Más bien, un retorno a lo que antes era la “normalidad” parece ser un giro radical ante los hechos del inicio del siglo XXI en Estados Unidos.

Bush dijo que se va con la conciencia tranquila. El cómico Jon Stewart, conductor del noticiero satírico The Daily Show, y una de las figuras más influyentes y críticas de este país, comentó sobre las últimas palabras de Bush que se iba con la conciencia tranquila porque “no tuviste que vender tu alma: vendiste todas las nuestras”.

Adiós para siempre.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

La reivindicación de los quechuas

Cristina Espinoza
La Nación

No sólo es una de las 422 lenguas vivas catastradas en nuestro continente, sino que una de las más habladas. Incluso en Chile, donde se creía extinta. De hecho, no sólo hay hablantes entre los más de 6 mil quechuas criollos, sino que éstos pretenden dar vida a su propia academia de la lengua, como ya lo hicieron los aymara y rapa nui.

"Papa", "callampa", "charqui", "guagua", "huincha", "huaso", "yapa" y "zapallo". Todas palabras incorporadas hace siglos en Chile y que tienen un origen común: el quechua o runasimi (lengua de la gente), una de las lenguas aborígenes más habladas en Latinoamérica, pero que se creía extinta en Chile. Tras años de ser confundidos con aymaras y peruanos, los descendientes de uno de los pueblos más numerosos de la época precolombina, hoy buscan su renacimiento.

Más de 6 mil quechuas habitan en la actualidad territorio chileno, según el último Censo, aunque son muchísimos más los que aún sienten vergüenza de reconocerlo, explica Martín Chamba, presidente del Consejo Nacional Quechua Tarapacá. Muchos menos son los que conservan la lengua, en comparación con los que habitan otros países andinos, pero los suficientes para demostrar una situación por años desconocida. "En Chile siempre se negaba que hablaran quechua, pero de un tiempo a esta parte surgen informaciones fidedignas, de investigadores, de que sí se habla. Depende de cómo se recoge el dato, si es a través de una pregunta o haciendo un estudio etnográfico", sostiene la lingüista sueca, Inge Sichra.

Radicada en Bolivia, Sichra coordinó la investigación que da origen al primer Atlas Sociolingüístico de Pueblos Indígenas de América Latina y el Caribe, obra que reúne la información referente a los primeros pueblos del continente que continúan vivos a pesar de la urbanización. Más de 30 lingüistas de la región, Francia y EEUU, participaron de la investigación, que tras un año y medio de análisis, logró constatar la presencia de 552 pueblos en toda Latinoamérica (exceptuando Uruguay), una referencia mínima, "pues en varios países se reúnen pueblos muy minoritarios en la categoría "Otros pueblos", que no fueron contabilizados", indica la lingüista.

En total, se registraron 420 lenguas amerindias, que provienen de 99 familias lingüísticas, una diversidad sin paralelo en el resto del mundo, donde África destacaba por tener 20 familias lingüísticas diferentes.

Lenguas vivas en pueblos vivos

"El proceso de españolización, después de peruanización y chilenización, mató la identidad y mató la lengua también. Llegó un momento en que aquí no nos considerábamos indígenas, nos considerábamos iquiqueños o chilenos", asegura Chambe. No aceptaban ser considerados indígenas, porque lo consideraban ofensivo, "nos dolía en el alma", asegura. Pero esa situación cambió cuando alentados por la ley indígena comenzaron a investigar "y descubrimos que somos quechuas, que quechua significa 'gente de los valles, de tierras templadas o calientes'", explica.

Así también se propusieron recuperar su lengua y tradiciones, lo que los llevará a tener su propia academia nacional de la lengua, la que ya están proyectando. Hoy conversan muy poco en quechua, pues el proceso de asimilación (chilenización) casi mató la lengua, asegura Chambe, a diferencia de lo que sucedió en Bolivia, por ejemplo, donde el quechua se ha recuperado casi completamente.Y es que la única manera de lograr que estos idiomas no engrosen la lista de lenguas desaparecidas, es "asegurar que los pueblos sigan viviendo". Una tarea compleja para Chile, pues lleva sobre sus hombros el peso de ser catalogado -junto a Argentina- como uno de los países que, históricamente, ha establecido una política de exterminación indígena o asimilación forzosa.

Ocho pueblos, cinco lenguas

En la actualidad quedan ocho pueblos indígenas en territorio chileno, según el Censo 2002 -utilizado para esta investigación-, lo que se traduce en más de 690 mil personas y 5 lenguas indígenas que aún se conservan. "El mapuche y aymara son las más fuertes, porque como un símbolo de reivindicación étnica, han cobrado importancia", sostiene Sichra. Sin embargo, afirma que en ambos casos ha habido una fuerte política de "invisibilización y chilenización" que ha causado que el uso de las lenguas ancestrales se enfoque al ámbito familiar, en especial, en el caso nortino, para diferenciarse de Perú.

Distinto es el caso del pueblo Mapuche, dice la lingüista, donde han sido sus demandas de reivindicación territorial las causantes de la poca protección, aunque, de todas maneras, la etnia es la más numerosa del país y la que más conserva su lengua. El rapa nui, el quechua y el kawashkar o alacalufe, completan la lista de idiomas indígenas vigentes. La última, de origen patagónico, está en peligro de desaparecer. Sichra señala que "si la docena de hablantes de la lengua kawashkar no se esfuerza por reproducir la lengua, es decir, hablarla, asegurarla en la generación joven y hacer uso de ella en espacios tradicionales y públicos, también podría extinguirse", como hace pocos años lo hizo la lengua yámana o yagán.

Israel se retira después de acometer la masacre en Gaza

Agencias

Docenas de agentes de la Policía de Hamas, que han sido objetivo de las tropas israelíes durante las últimas tres semanas, han regresado esta mañana a las calles principales de Gaza capital, donde han tratado de organizar el tráfico.

Desde que Israel empezó a aplicar la madrugada del domingo un alto el fuego y las milicias palestinas horas después el suyo de una semana, cada uno por su lado, las calles de la ciudad están repletas de gente que, tras semanas de encierro, pudo salir por fin para visitar a sus familiares, evaluar los daños y empezar a regresar a la normalidad. Según el Ministerio de Sanidad, las víctimas mortales son más de 1.300 y los heridos superan los 5.500.

A su vez, el Ministerio de Vivienda en la franja ha presentado los primeros datos de daños, que cifran el número de casas totalmente destruidas en unas 4.000 y dañadas más de 20.000. Además de la Policía, los ministerios e instituciones públicas han empezado también a volver al trabajo.

"A pesar de que el ministro de Interior, Said Siam, ha sido asesinado durante la guerra, el Ministerio continúa su trabajo en base a un plan de seguridad que él aprobó", ha declarado a los periodistas Ihab al Ghusein, portavoz de ese Ministerio en Gaza. Interior trabajará "para mantener y proteger el frente interno palestino, porque eso ayudará a apoyar a la resistencia armada contra las agresiones".

El máximo líder de Hamas en Gaza, Ismael Haniye, aseguró ayer en un mensaje televisado que considera que el alto el fuego es un "triunfo" que "tiene que abrir una puerta para el diálogo y la reconciliación interna".

A pesar de la tregua, en el norte de Gaza se han registrado combates entre los pocos milicianos que aún no han aceptado el alto el fuego y las tropas israelíes que continúan en el territorio, según cadenas de radio locales.

La mayor parte de las facciones palestinas y sus brazos armados aceptaron ayer responder el alto el fuego unilateral de Israel con un cese de las hostilidades de una semana pero, algunos grupos, como Frente Popular para la Liberación de Palestina (PFLP), rechazaron dejar de luchar antes de que las tropas israelíes abandonen totalmente su territorio.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Gaza me rompe el alma

Iñaki Egaña
Izaronews

Asistí hace unos días a una manifestación en solidaridad con el pueblo palestino y percibí, quizás con retraso, uno de los muchos y profundos cambios que se han producido en nuestra sociedad. Al frente de la protesta un numeroso grupo de árabes, supongo que de diversa procedencia, gritaba consignas cuyo significado ignoraba por completo.

La parafernalia la conocía de imágenes que, hasta entonces, había percibido lejanas. La iconografía, en cambio, era muy cercana. El murmullo y los gritos eran ensordecedores y alteraban mi percepción habitual del silencio, tan pegado a nuestras costumbres. No era para menos. Cientos de muertos exasperan hasta el más templado.

Mi corazón está con Palestina, sin duda. Me sentí muy cercano de la tragedia, con el alma partida. ¿Quién puede soportar el peso de la muerte de un niño sin sentir el desasosiego de la responsabilidad? Rescaté, como en cierta ocasión, el relato del bombardeo de Otxandio en 1936, cuando un avión fascista dejó caer varias bombas sobre la plaza del pueblo. La narración del médico José Antonio Maurolagoitia era estremecedora: “Desgajados miembros humanos, vísceras palpitantes y cabezas seccionadas de sus cuerpos por la metralla y aún gesticulantes esparcidas por el suelo”.

El primer bombardeo de la historia en suelo vasco, el de Otxandio, tuvo un impacto extraordinario, tanto o más probablemente que los que sufre Gaza diariamente. Entonces murieron cerca de un centenar de personas, la mitad niños, entre ellos cinco de una misma familia, los Garcés: Pedro, Teodoro, Juan Manuel, Mertxe y José Mari ¿Quién puede negar el llanto a una madre ante su hijo muerto? Las semillas del odio germinan en estos escenarios. No puedo menos que sumarme a esos sentimientos y percibir la enorme repugnancia que me sugiere el Estado de Israel, sus instituciones, sus argumentos, su religión. Su racismo elevado a categoría divina. Su fundamentalismo. Sus armas de última generación. Todo. Es un sentimiento de rechazo, acumulado por años de fechorías.

La manifestación de solidaridad con el pueblo palestino, sin embargo, me demostró cuán lejano estaba de los árabes que llevaron el peso de la protesta. No son los míos. Por cultura, pero también por otras razones. Me une el sufrimiento, la defensa de la pluralidad, la reivindicación de la tierra de los antepasados. Poco más. Aunque sea suficiente. No puedo, como hacen otros colegas, compartir más allá que esas cuestiones. Sobran las religiones, por más que busquemos refugio en el abismo galáctico. Sobran las humillaciones de género, sobra la sumisión. Me impacta, en cambio, y no deja de tener cierto sarcasmo el que lo diga desde un ordenador que teclea ideas gracias a mi posición económica primermundista, el objetivo de gran parte de la humanidad, la supervivencia.

Hace unos meses visité uno de los lugares emblemáticos de la monstruosidad humana: Hiroshima. Decenas de miles de muertos en un instante, enemigos sin nombre de una guerra en la que las víctimas, precisamente, estaban catalogadas en el campo de los infames. Japón había luchado al lado de Hitler y Mussolini. Su propósito no era otro que repartirse el mundo. Me sentí acongojado ante la barbarie y no pude contener un estremecimiento frente al reloj parado de la historia, a la hora del infierno. Suspiré aliviado al sentir empatía hacia aquellos miles de niños representados en Sadako Sasaki, convertida en estatua de piedra. Aunque sus padres estuvieran del lado de la tiranía.

Semanas antes de la visita a Hiroshima tuve que desplazarme a París a un encuentro con editores y escritores. Aproveché la ocasión y visité el renovado Centro del Holocausto, ubicado en el Marais. En ese barrio más de 500 niños fueron detenidos por la Policía colaboracionista de Vichy y enviados a Auschwitz. Como en Hiroshima, la memoria abrasa y el recuerdo todavía quema. En la cercanía, creo percibir aún el terror de las hermanas Sarah, Nelly y Denyse Pérez, arrebatadas a sus padres en Baiona antes de ser llevadas, en 1944, a un campo de exterminio para ser gaseadas y pienso si aquellas niñas que jamás fueron adultas hubieran formado también parte del Estado de Israel. O quizás de ese espacio vasco que nos niegan con tozudez.

Hoy los niños son otros. Niños que no conozco y cuyos nombres apenas acierto a encontrar a pesar de la velocidad con la que circula la información: Hani Mohammed Ghaben y sus hermanos Bassam y Mohammed, Rajeh Ghassan, Jaber Abdullah, Mohammed Hassan Ghaben, Jibril Abdul Fattah al-Kaseeh... ¿Alguien sabe de ellos, enterrados bajo una tierra que dijeron prometida? Perdieron su casa, sus juegos, sus muñecos, perdieron… ¡qué importa! Perdieron la vida cuando aún no sabían qué los cuentos no existen más que en la imaginación. No puedo menos que hacerme preguntas y preguntas que sé de antemano que no tienen respuesta. Conozco los códigos para intuir de sobra que generalizar es un pecado imperdonable. Pero las sociedades se hacen a sí mismas, bebemos de ellas y compartimos más de lo que imaginamos. Nos decimos vascos, precisamente, por ese sentimiento de grupo, como otros lo comparten con apellidos distintos: congoleños, iraquíes, uruguayos, judíos o palestinos. Aunque no participe con los míos más que en la tierra que nos acoge, aunque no comparta con las victimas más allá que la solidaridad, el odio a su verdugo o el llanto por esos niños que martillean mi conciencia.

Y, por ello, no dejo de sentirme responsable. Responsable por las armas que venden empresarios de mi tierra a los matarifes sionistas, mientras animamos al equipo de casa. Responsable por que mis hijos duerman sin sobresaltos ocho horas al día. Responsable por el color de mi piel. Y por ello, siento que, a pesar de la distancia, de la cultura y de otras cuestiones quizás innombrables, mi lugar está con los palestinos.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Guerra e Paz: o capitalismo sem espírito


Olgária Mattos
Carta Maior

Na pulsão contra-humanista do capitalismo contemporâneo não se reconhece dívida simbólica com o passado de quem o tem. Na impossibilidade de fazer da história do Outro um bem comum compartilhado, opta-se por sua destruição. Os EUA reduziram a escombros o Museu Arqueológico de Bagdá. Israel bombardeou a Universidade de Gaza. No exercício da razão do mais forte revela-se a vontade de destruir a vida biológica e a vida do espírito.


A situação dos palestinos na Faixa de Gaza, sob o poder da tecnologia bélica do Estado de Israel e de seu militarismo expansionista, expressa, de maneira cabal, a condição de suas vítimas: o crime justificado pela lógica da “guerra justa” e da destruição em nome da segurança e da paz. Ao limbo jurídico no qual, hoje, Israel exerce a soberania, a Idade Média denominou “estado de exceção”. Se, historicamente, os Estados nacionais se fundaram em algum tipo de violência, também é verdade que só se mantiveram e prosperaram porque acederam à legitimidade. Na dificuldade em consegui-la, o Estado de Israel exerce o poder ab-solutus e o terror, acima do concerto das Nações.

A partir da Primeira Guerra Mundial - com o fim dos campos de batalha e o bombardeio de populações civis desarmadas - , o mundo inteiro tende a se converter em trincheira, cada indivíduo transformado em um puro objeto sem defesa, simples alvo em uma zona de tiro.

Na contramão da violência nua, os bens culturais materializam os esforços da humanidade para se humanizar. Assim, os lugares de memória, escolas, universidades e museus.

O Museu Arqueológico de Bagdá era o guardião da primeira história do homem, lá onde, segundo o relato bíblico, tudo começou. Entre o Tigre e o Eufrates, viveram Adão e Eva. Aí se gestaram a civilização e a vida. O Museu não foi conquistado pelas forças militares norte-americanas, por um comando que, admirando seus bens, usurpava-os para si. Dele só restaram escombros.

Na pulsão anti-genealógica do capitalismo contemporâneo - anti-intelectual e contra-humanista - não se reconhece dívida simbólica com o passado de quem o tem. E na impossibilidade de fazer da história do Outro um bem comum compartilhado, houve ainda o bombardeio da Universidade Palestina da Faixa de Gaza e da Escola cuidada pela ONU.

Desde a Academia de Platão, do Liceu de Aristóteles e do Pórtico dos estóicos, Escola e Universidade constituíram um espaço de autonomia e liberdade a que demagogos do povo, polícia e exércitos não tinham acesso. Produzindo a vida do Espírito, sua função é a de desenvolver conhecimentos, aprimorar os costumes, elevar o indivíduo e sublimar o povo. Com a percepção aguda da brevidade da vida e da fragilidade das coisas humanas, escolas, universidades e museus são os guardiães que transmitem,ao longo das gerações, tudo o que é preciso lembrar e interrogar, e o que é digno de renome e fama.

No exercício da razão do mais forte revela-se, porém, a vontade dos poderosos em destruir, além da vida biológica, a vida do espírito; e o desejo do povo de viver em paz. A paz - estado de tranqüilidade moral - só acontecerá, como anotou Simone Weil, quando os homens deixarem de enaltecer a força, valorizar a violência e humilhar os vencidos. “Duvido que seja para já”.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

David Fromkin: Paz e guerra no Oriente Médio


César Benjamin


O Oriente Médio, tal como o conhecemos, é uma criação recentíssima. Resultou de decisões tomadas pelos países vitoriosos na Primeira Guerra Mundial, especialmente Inglaterra e França, que desagregaram o Império Otomano (1299-1922), a única potência muçulmana que desafiou a hegemonia européia no mundo moderno.

Novos países, com os respectivos governos, foram fabricados pela Europa. A Inglaterra inventou o Iraque e a Jordânia, traçou em um mapa as fronteiras entre a Arábia Saudita e o Kwait, transformou o Egito em protetorado e deu abrigo, na Palestina, a um Lar Nacional Judaico, precursor do Estado de Israel. A França decidiu a atual configuração da Síria e do Líbano. A maior parte do mundo árabe foi dividida, basicamente, entre duas famílias, que deveriam inaugurar dinastias. A Turquia – centro do antigo império – conquistou com muito sangue o direito à existência, mas os curdos foram deixados sem Estado próprio. A Pérsia, atual Irã, foi humilhada e retalhada.

Há muito tempo os europeus desejavam dominar o Oriente Médio. A ousadia imperial na região, porém, começou tarde demais. A própria Europa estava esgotada pela guerra, incapaz de sustentar tão grande empreitada, desafiada pelos Estados Unidos, de Wilson, e pela União Soviética, de Lenin. Já era incapaz de controlar regiões tão extensas, que abrigam civilizações orgulhosas, com crenças próprias e enraizadas. Na década de 1920, até mesmo para um número crescente de europeus, o velho imperialismo já parecia fora de lugar.

As mudanças, trazidas de fora para dentro, não geraram uma configuração estável. Na região, permanecem pulsantes não apenas disputas de fronteiras ou rivalidades econômicas, mas questões muito mais fundamentais, como o próprio direito à existência das entidades políticas que a compõem. Guerras de sobrevivência nacional ainda estão na ordem do dia. Não há acordo, sequer, sobre as regras do jogo. A permanência do atual arranjo regional é incerta. A própria crença moderna na legitimidade de Estados nacionais leigos, que para nós parece ser natural, é um credo alienígena em sociedades que, há mais de mil anos, se organizam em torno de uma Lei Sagrada que governa toda a vida, inclusive a política.

O professor David Fromkin, da Universidade de Boston (EUA), reconstitui neste livro a história da criação do Oriente Médio moderno, depois de mais de 25 anos de estudos. “Em 1979, quando iniciei minha pesquisa, parecia que tínhamos chegado a um ponto em que, por fim, seria possível contar a verdadeira história do que acontecera. Abriram-se arquivos de documentos oficiais e papéis particulares que eram secretos. Por isso este livro existe.”

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Ver, imaginar, sentir, el dolor ajeno

Juan Goytisolo
El País


Millón y medio de palestinos padecen el asedio en el gueto de Gaza. Entretanto, los políticos de Israel proclaman su indiferencia ante los sufrimientos de los sitiados. Esto sólo puede producir más violencia.

"Sólo dañamos a los demás cuando somos incapaces de imaginarlos", leí en algún libro, no sé si de Todorov o de Carlos Fuentes. La frase se refería a gestas lejanas, como fueron la Conquista española de América o las guerras coloniales europeas del siglo XIX, cuando las crueldades de aquéllas, sufridas por pueblos "inferiores", se revestían con un nimbo de altruismo y heroicidad: misión evangelizadora o aportación de las luces de la civilización a su barbarie y atraso.

Las cosas son hoy distintas. Ya se trate de guerras de agresión, ya de supuestamente defensivas e incluso preventivas, las imágenes del daño causadas por ellas nos llegan directamente a domicilio. Asistimos en nuestra casa a las atrocidades de los bombardeos, a la muerte casi en directo de mujeres y de niños, al martilleo continuo de poblaciones aterrorizadas. La vista sobrecogedora de ruinas, cadáveres, desesperación de los próximos a las víctimas, puede ser captada no obstante sin que imaginemos los sentimientos de impotencia, rabia o dolor ajenos, sin que nos pongamos en la piel de quienes los sufren. El rechazo voluntario o inducido al reconocimiento del daño que causamos es a menudo producto de la ansiedad, del horror a nuestro propio pasado, de temores ancestrales a su reiteración en lo por venir. Matamos por miedo, atrapados en una espiral de zozobra, recelo e impulsos agresivos de la que es difícil escapar. A causa de ello dejamos que la fuerza de la razón ceda paso a la razón de la fuerza. No nos sentimos culpables del mal que infligimos en función del que pudiera abatirse sobre nuestras cabezas. La lógica del temor / castigo / temor no tiene fin, pero la angustia y la confianza ciega en la propia fuerza son malas consejeras.

Escribo esto a propósito de Gaza. ¿Era necesaria tal exhibición de prepotencia militar para poner fin al lanzamiento de cohetes artesanales a Sdirot y a otras localidades israelíes cercanas a la franja? El asedio por tierra, mar y aire a un millón y medio de personas hambrientas y que claman venganza, ¿conduce a una resolución del problema securitario de Israel o, más previsiblemente, lo agrava? ¿Era la única opción sobre el tapete después del minigolpe de Estado de Hamás contra la desacreditada Autoridad Palestina, como repiten a diario los portavoces militares y gubernamentales del Estado hebreo? La comunidad internacional, salvo los halcones de Bush, piensa lo contrario.

Machacar, machacar y machacar no garantiza el futuro de Israel: lo enclaustra en una mentalidad asediada que a largo plazo juega contra él. Sembrar el odio y el afán de revancha refuerzan, al revés, a Hamás, Hezbolá, y a sus mentores iraníes y sirios. ¿No es contradictorio alegar la legítima defensa del Estado judío contra "los lobos" que le rodean (empleo la terminología de un conocido analista norteamericano) y fomentar al mismo tiempo la proliferación infinita de estos "lobos" con una política de asfixia y destrucción de todas las infraestructuras civiles de la franja, incluidas escuelas, mezquitas, edificios administrativos y centros de acogida para refugiados de Naciones Unidas?

No basta con ver el destrozo cruel en los noticiarios televisivos para ponerse en la piel del daño infligido al otro: a estos centenares de miles de jóvenes de la franja, indignados por la patética incapacidad de Abbás y la complicidad en su desdicha de supuestos países hermanos, como el Egipto de Mubarak. Cualquier observador extranjero comprobará el efecto inverso del encarnizamiento que convierte a este gueto infame en un auténtico infierno: desde la frase de un profesor, laico por más señas, reproducida en uno de mis reportajes sobre Gaza de la pasada década -"mire a los jóvenes de los campos. Viven apretujados, sin trabajo, distracciones, posibilidades de emigrar ni de fundar una familia. Poco a poco se sienten morir en vida y su corazón se transforma en bomba. Y un día, sin avisar a nadie, correrán con un arma cualquiera a una operación terrorista suicida. No les importa morir porque se sienten ya muertos"-, hasta la recogida por el corresponsal de este periódico el pasado día 5 -"la gente apoya más que nunca a Hamás porque ha llegado un punto en el que la vida y la muerte son casi lo mismo"-, los hechos confirman que el Plomo Endurecido no resuelve nada: dilata y dificulta inútilmente la ya compleja y ardua resolución del conflicto.

Confieso mi perplejidad ante un dislate como el que, tras la terrible frase de Sharon -"los palestinos deben sufrir mucho más", formulada hace siete años a guisa de programa de acción-, un intelectual como Abraham Yehoshua la acepte hoy a su manera cuando, en estas mismas páginas, afirmaba sin rubor que "la capacidad de sufrimiento de los palestinos es mucho mayor". ¿Se basa ello en un diagnóstico científico, en un psicómetro capaz de medir el dolor propio y ajeno? O ¿no será más bien reflejo de esta incapacidad de imaginar el padecimiento de los demás, ya fueren judíos, indoamericanos, negros o palestinos? Una oportuna lectura de Todorov nos sacaría de dudas.

El aplastamiento de Gaza no responde a una estrategia bien meditada: se funda más bien en una política oportunista de rentabilidad electoral de cara a las próximas elecciones parlamentarias, a costa de desvanecer las últimas ilusiones de quienes, desde Oslo a Annápolis, creyeron en la posibilidad de una solución dialogada, aunque desmentida año tras año, sobre el terreno, en los Territorios Ocupados: extensión imparable de la colonización, humillaciones diarias de los habitantes de Jerusalén Este y de Cisjordania, miseria y asfixia de Gaza, sobre todo después del triunfo electoral de Hamás, calificado de movimiento terrorista por Norteamérica y por una Unión Europea trágicamente desunida e incapaz de desempeñar el papel de mediador creíble que aconsejan las circunstancias.

El juego de separar el supuesto Estado palestino en dos entidades y de fragmentar el territorio cisjordano en bantustanes inviables perjudica ante todo al desacreditado Gobierno de Mahmud Abbás. Pues el radicalismo de una parte alimenta al de la otra y, con la excusa de no dialogar con los terroristas -obviando el hecho de que fueron democráticamente elegidos- el único "Estado democrático" de la región viola a diario las resoluciones de la ONU y desdeña olímpicamente la reprobación casi unánime de la opinión pública internacional.

Me vienen a la memoria la frase de alguien tan poco sospechoso de parcialidad antiisraelí como Marek Halter después de su visita a los Territorios Ocupados -"tengo miedo por Israel e Israel me da miedo"- y las reflexiones de mi amigo Jean Daniel sobre la paradoja histórica de que Israel -creado por los padres del movimiento sionista con el objetivo de constituir un Estado como los demás-, actúa desde 1967 como un Estado diferente de los demás, en la medida en que se sitúa deliberadamente al margen de la comunidad internacional que reconoció su existencia hace 60 años. La falta de imaginación respecto al dolor de los palestinos -la capacidad ética y, a fin de cuentas, humana de ponerse en su lugar- le encierra en un callejón sin salida: el de golpear más y más duro a sus enemigos, tanto a los que se niegan a aceptar la realidad con su infausta retórica e insostenibles bravatas -las de "arrojar a los judíos al mar"- como a los que aspiran a una paz y a un horizonte compartidos mediante el retorno a la llamada línea verde, conforme a la resolución 242 del Consejo de Seguridad de Naciones Unidas.

Escucho, con esperanza y alivio, la voz de sus intelectuales disidentes, de esos hombres y mujeres resueltos a distanciarse de la unanimidad clamorosa que señalan las encuestas por el éxito efímero de la devastadora operación militar en la franja. Son los disidentes laicos de uno y otro bando quienes abanderan la vuelta a la razón. Su aún quimérico anhelo de paz, se basa en la esperanza de alcanzar algún día un acuerdo pragmático y justo. Simples seres humanos, ven, imaginan y sienten el daño que infligen a los otros y que no quieren para sí mismos. En la línea ejemplar de Edward Said, desarraigado a la fuerza desde su niñez palestina, se niegan a echar raíces, como los árboles en el suelo de la opresión. Quieren ser el viento y el agua, como todas las cosas que fluyen en la constante mutabilidad del río de Heráclito. ¡Ojalá un día, más temprano que tarde, la historia les dé la razón!

Herencia maldita


terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Naomi Klein: Israel deve ser alvo de boicote e sanções

Naomi Klein
Folha

É mais que hora. A melhor estratégia para pôr fim à sangrenta ocupação é que Israel se torne alvo do tipo de movimento mundial que pôs fim ao apartheid na África do Sul. Em julho de 2005, uma grande coalizão de grupos palestinos apresentou planos para isso. Eles apelavam às ''pessoas de consciência em todo o mundo que impusessem amplos boicotes e iniciativas para retirar investimentos contra Israel semelhantes às aplicadas contra a África do Sul na era do apartheid''. Assim nasceu a campanha BDS (boicote, desinvista e sancione).

Cada dia de ataque de Israel contra Gaza atrai mais adeptos à causa. Há apoio até mesmo entre judeus israelenses. Em meio aos ataques, cerca de 500 israelenses, dezenas dos quais artistas e acadêmicos conhecidos, enviaram uma carta aos embaixadores estrangeiros que servem em Israel na qual pediam pela ''adoção de medidas restritivas e sanções imediatas'' e estabeleciam um claro paralelo com a luta contra o apartheid. "O boicote contra a África do Sul foi efetivo, mas Israel é tratado com luvas de pelica... O apoio internacional ao país precisa ser retirado." Sanções econômicas são a ferramenta mais eficiente no arsenal das medidas não violentas. Eis as quatro principais objeções à estratégia BDS, respondidas com argumentação em contrário.

1) Medidas punitivas alienarão os israelenses. O mundo já tentou aquilo que costumava ser descrito como "envolvimento construtivo". Falhou. Desde 2006, Israel vem ampliando cada vez mais seu comportamento criminoso; expandindo colônias, lançando uma guerra absurda contra o Líbano e impondo punição coletiva aos habitantes de Gaza por meio de um bloqueio brutal. A despeito da escalada, Israel não enfrentou medidas punitivas. As armas e a assistência anual de US$ 3 bilhões que os EUA oferecem ao governo israelense são só o começo.

Ao longo desse período crucial, Israel desfrutou de um drástico avanço em seu relacionamento diplomático, cultural e comercial com diversos aliados. Por exemplo, em 2007, Israel se tornou o primeiro país de fora da América Latina a assinar um tratado de livre comércio com o Mercosul. Nos primeiros nove meses de 2008, as exportações israelenses ao Canadá subiram em 45%. Um novo acordo comercial com a União Europeia deve dobrar as exportações israelenses de alimentos processados. E em dezembro, os europeus "atualizaram" o Acordo de Associação entre Israel e a União Europeia.

É nesse contexto que os líderes israelenses deram início à sua mais recente guerra: confiantes em que não enfrentarão custos significativos. É notável que, nos sete dias úteis de guerra, o principal índice da bolsa de valores de Tel Aviv tenha na verdade subido em 10,7%. Quando o estímulo não funciona, a punição é necessária.

2) Israel não é a África do Sul. Claro que não. A relevância do modelo sul-africano é que ele prova que uma tática BDS pode ser efetiva quando medidas menos vigorosas fracassaram. E, na verdade, há ecos profundamente perturbadores do apartheid sul-africano nos territórios ocupados. Ronnie Kasrils, um conhecido político sul-africano, disse que a arquitetura da segregação que ele viu na Cisjordânia e na faixa de Gaza era "infinitamente pior que o apartheid". Isso em 2007.

3) Por que tomar Israel como único alvo quando EUA, Reino Unido e outros países ocidentais fazem as mesmas coisas no Iraque e no Afeganistão? O boicote não é um dogma; é uma tática. O motivo para que uma estratégia BDS possa ser experimentada contra Israel é de ordem prática: em um país tão pequeno e que depende tanto do comércio externo, a ideia pode funcionar de fato.

4) Boicotes interrompem comunicações; precisamos de mais, e não de menos, diálogo. Conto uma história pessoal. Quando escrevi "A Doutrina do Choque", queria respeitar o boicote. Aconselhada por ativistas, entrei em contato com uma pequena editora ativista, profundamente envolvida com o movimento de resistência à ocupação. Redigimos um contrato que garante que todos os proventos das vendas sejam destinados ao trabalho da editora, sem que eu receba nada. Em outras palavras, estou boicotando a economia de Israel, mas não os israelenses.

Desenvolver nosso modesto plano editorial requereu dezenas de telefonemas, e-mails e mensagens instantâneas. Meu argumento é o seguinte: quando você começa a implementar uma estratégia de boicote, o diálogo se intensifica dramaticamente. E por que não o faria? Construir um movimento requer comunicação incessante. O argumento de que apoiar boicotes nos isolará mais é ilusório, dadas as tecnologias que nos oferecem informação barata e imediata. Não há boicote que nos detenha.

A essa altura, muitos sionistas orgulhosos estão se preparando para rebater perguntando se eu não sei que muitos desses brinquedos de alta tecnologia foram criados nos centros de pesquisa israelenses, destacados no setor. Verdade, mas nem todos eles.

Alguns dias depois de iniciado o ataque israelense contra Gaza, Richard Ramsey, diretor executivo de uma empresa britânica de telecomunicações, enviou um e-mail ao grupo tecnológico israelense MobileMax, afirmando que "como resultado das ações do governo israelense nos últimos dias, não mais poderemos fazer negócios com vocês nem com outra companhia de Israel".

Ramsey diz que sua decisão não foi política; ele só não desejava perder clientes. "Não temos condições de perder cliente algum", disse, "e por isso a decisão foi puramente defensiva do ponto de vista comercial". Foram cálculos comerciais frios como esse que levaram muitas empresas a sair da África do Sul duas décadas atrás. E é exatamente esse tipo de cálculo que representa nossa esperança mais realista de levar justiça à Palestina depois de tão longa ausência.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Tres propuestas simples a propósito del martirio de Gaza

Jean Bricmont - Diana Johnstone
Counterpunch


Debemos ser muchos –millones, seguramente— los que, invisibles los unos para los otros, nos sentimos tan indignados como impotentes ante el espectáculo de la masacre de Gaza y la descripción de la misma, por parte de nuestros medios de comunicación, como "represalia contra el terrorismo" y ejercicio del "derecho de Israel a defenderse". Hemos llegado a un punto en que responder a los argumentos sionistas es, además de inútil, indigno de la humanidad. Mientras no se reconozca que los obuses que caen sobre Ascalón probablemente sean lanzados por descendientes de los habitantes de esa misma región expulsados por los sionistas en 1948, hablar de paz no será sino una cortina de humo destinada a encubrir el repetido asalto de Israel a los supervivientes de aquella gran injusticia.

¿Qué hacer, entonces? ¿Un diálogo entre árabes "moderados" e israelíes "progresistas"? ¿El enésimo "plan de paz" destinado a convertirse en papel mojado? ¿Una declaración solemne de la Unión Europea (UE)?

Gestos y ademanes de los poderes establecidos, meras distracciones de la estrangulación que hoy sufre el pueblo palestino. También otras exigencias más radicales resultan parecidamente inútiles: el llamamiento a la creación de un tribunal internacional para juzgar criminales de guerra israelíes, o a la intervención efectiva de la ONU, o a la implicación de UE; nada se consigue con eso. Los tribunales internacionales realmente existentes reflejan la relación de fuerzas en el mundo, y nunca resolverán contra los aliados más preciados de los EEUU. Es esa misma relación de fuerzas lo que debe cambiar, y eso sólo puede conseguirse de manera gradual. Es cierto que Gaza sufre una situación de emergencia calamitosa, pero también lo es que, hoy por hoy, no puede hacerse nada realmente eficaz para detenerla, precisamente porque el paciente trabajo político que debería haberse hecho hace tiempo está aún por hacer.

En lo que respecta a las tres propuestas que siguen, dos son ideológicas y una es práctica.

1. Librarse de la ilusión de que Israel resulta "útil" para Occidente

Muchas personas, especialmente entre la izquierda, persisten en la creencia de que Israel es solamente el peón de una estrategia capitalista o imperialista para controlar el Oriente Medio. Nada podría estar más lejos de la realidad. Israel no tiene utilidad alguna para nadie ni para nada, como no sea la de satisfacer sus propias fantasías de dominación. No hay petróleo en Israel, ni en Líbano, ni en Golán, ni en Gaza. Las llamadas guerras del petróleo, en 1991 y 2003, fueron libradas por EEUU sin la ayuda de Israel, y en 1991, con la explícita petición de los EEUU de que Israel se mantuviera al margen (porque la participación israelí podría haber socavado la coalición árabe con Washington). Para las petromonarquías prooccidentales y los regímenes árabes "moderados", la ocupación israelí de tierras palestinas es una pesadilla que radicaliza más a sus poblaciones y daña su papel. Fue Israel, con sus políticas absurdas, quien provocó la creación de Hezbolá y de Hamás: Israel es indirectamente responsable de buena parte de los avances recientes del "Islam radical".

Además, lo cierto es que los capitalistas, en conjunto, hacen más dinero en paz que en guerra. Solamente cabe comparar los beneficios obtenidos por los capitalistas occidentales en China o Vietnam desde que hay paz en esos países con los que hacían cuando la "China roja" estaba aislada y los EEUU libraban una guerra contra Vietnam.

A la mayoría de los capitalistas les importa un higo que el "pueblo" deba tener a Jerusalén como su "eterna capital"; de alcanzarse la paz, tendrían las manos libres para explotar en Cisjordania y en Gaza una fuerza de trabajo harto calificada que apenas tiene otras oportunidades.

Finalmente, cualquier ciudadano estadounidense preocupado por la influencia de su país en el mundo puede ver de forma bastante clara que convertir a miles de millones de musulmanes en enemigos con el único fin de satisfacer el capricho criminal israelí de turno dista por mucho de ser una inversión racional de futuro.

Muchos sedicentes marxistas cuentan, los primeros, entre quienes no ven a Israel sino como mera emanación de fenómenos tan generales como el capitalismo o el imperialismo (Marx mismo, huelga decirlo, fue harto más circunspecto en la cuestión de la determinación económica de los fenómenos políticos). Pero no rinde el menor servicio al pueblo palestino el mantenimiento de esas ficticias gedeonadas: en realidad, nos guste o no, el sistema capitalista está muy lejos de ser tan robusto como para jugarse la supervivencia en la ruleta de la ocupación judía de Cisjordania: Y conviene recordar que al capitalismo le ha ido francamente bien en Sudáfrica desde el fin del Apartheid.

2. Permitir a los no judíos dar su opinión sobre Israel

Si el apoyo a Israel no se funda en intereses estratégicos o económicos, ¿por qué la clase política y los medios de comunicación aceptan pasivamente todo lo que Israel hace? Muchas personas pueden sentirse despreocupadas por lo que ocurre en un lejano país. Pero eso no se aplica a los líderes formadores de opinión, que nunca descansan en sus críticas a las pretendidas maldades políticas de Venezuela, Cuba, Sudán, Irán, Hezbolá, Hamás, Siria, Islam, Serbia, Rusia o China. Ni siquiera los más infundados rumores y las más ciclópeas exageraciones se libran de una persistente e insidiosa repetición. Sólo Israel ha de ser tratado con guantes de seda.

Una de las explicaciones ofrecidas para tal trato especial es la del "sentimiento de culpa" occidental por las persecuciones antisemitas del pasado, en particular por los horrores infligidos a los judíos durante la II Guerra Mundial. A veces se observa que los palestinos no son en absoluto responsables de esos horrores y que no deberían pagar el precio de crímenes perpetrados por otros. Y es verdad, pero lo que, siendo obvio, apenas se dice es que la inmensa mayoría de los franceses, de los alemanes o de los curas católicos de nuestros días son tan inocentes de lo que sucedió durante la guerra como los palestinos, por la simple razón de que nacieron después de la guerra o eran niños entonces. La idea de culpa colectiva era muy cuestionable ya en 1945, pero la idea de transmitir intergeneracionalmente la culpa colectiva es un concepto religioso. Aunque se dice que el Holocausto no debería justificar la política israelí, es sorprendente que las poblaciones que supuestamente se sienten culpables de lo sucedido (alemanes, franceses y católicos) sean las más reticentes a tomar la palabra.

Es extraño que, al mismo tiempo que la Iglesia católica renunciaba a la noción de que los judíos eran el pueblo que asesinó a Cristo, tomara el relevo la idea de la culpa casi universal por el exterminio de los judíos. El discurso de la universal culpabilidad por el Holocausto presenta analogías con el discurso religioso en general por la manera en que legitima la hipocresía, trasladando la responsabilidad de lo real a lo imaginario (conforme al modelo mismo del "pecado original"). Somos todos supuestamente culpables por los crímenes cometidos en el pasado, un pasado sobre el que, por definición, no podemos hacer nada. Pero necesitamos no sentirnos culpables o responsables por los crímenes que se cometen ante nuestras narices por parte de nuestros aliados israelíes o estadounidenses, sobre quienes sí podemos esperar influir.

Que no seamos todos culpables de los crímenes del Tercer Reich, es un hecho simple y suficientemente obvio, pero es preciso internalizarlo para permitir a los no judíos hablar libremente sobre Palestina. Porque lo cierto es que los no judíos a menudo sienten que deben dejar en manos de los judíos el monopolio del "derecho" a criticar a Israel y de defender a los palestinos. Pero dada la relación de fuerzas entre los judíos críticos de Israel y las influyentes organizaciones sionistas que dicen hablar en nombre del pueblo judío, no hay la menor esperanza de que solamente las voces judías puedan salvar a los palestinos.

Sin embargo, la principal razón del silencio, no ofrece duda, no es el sentimiento de culpa (precisamente, porque es demasiado artificial), sino, más bien, el miedo. Miedo a "qué pensarán", miedo a la difamación, y aun a ser procesado por "antisemitismo". Si duda de eso, haga el experimento: ponga a un periodista, a un político o a un editor en algún lugar donde nadie esté escuchando y no haya micrófono o cámara escondida, y pregúntele a él o a ella si dice en público lo que piensa sobre Israel en privado. ¿Qué, si no? ¿Miedo a dañar los intereses del capitalismo? ¿Miedo a debilitar al imperialismo estadounidense? ¿Miedo a la interrupción del suministro de petróleo? Miedo, mas bien, a las organizaciones sionistas y a sus implacables campañas.

Después de múltiples conversaciones con profesionales en este tipo puestos, nosotros albergamos pocas dudas de eso. La gente no dice lo que piensa sobre el sedicente "Estado judío" por miedo a ser tildada de anti-judía e identificada con los antisemitas del pasado. Este sentimiento es aún más fuerte, en la medida en que la mayoría de personas que están conmocionadas por la política israelí también están genuinamente horrorizadas por los crímenes perpetrados contra los judíos durante la II Guerra Mundial, y sinceramente indignadas por el anti-semitismo. Pensándolo bien, resulta claro que si existieran hoy en día, como antes de 1940, movimientos políticos abiertamente antisemitas, esas personas no se sentirían tan intimidadas. Pero, hoy, ni siquiera el Frente Nacional francés se dice antisemita, y quien critica a Israel, habitualmente comienza por proclamar que no es antisemita. El miedo a ser acusado de antisemita es más profundo que el miedo al lobby sionista: es el miedo a perder la respetabilidad lo que lleva a que la condena del antisemitismo y del Holocausto sea el valor moral contemporáneo más grande.

Es imprescindible liberar a los críticos de Israel del atenazante miedo a ser falsariamente acusados de "antisemitismo". Amagar con esa acusación es una forma insidiosa de un chantaje moral que acaso constituya hoy la sola fuente potencial de un surgimiento generalizado del resentimiento anti-judío.

3. Las iniciativas prácticas se resumen en tres letras: BDS (boicot, desinversión, sanciones).

La exigencia de sanciones ha sido adoptada por la mayoría de organizaciones propalestinas, pero como ese tipo de medidas es prerrogativa de los Estados, es evidente que no se adoptarán en breve. Las medidas de desinversión pueden ser tomadas por los sindicatos y las iglesias a partir de decisiones de sus miembros. Otras empresas que colaboran de cerca con Israel no cambiarán su política, a menos que estén bajo presión pública, esto es: la presión que pueden ejercer los boicots. Esto nos lleva a la controvertida cuestión de los boicots, no solamente de los productos israelíes, sino también de las instituciones culturales y académicas de Israel.

Esta táctica fue usada contra el régimen de apartheid en Suráfrica en una situación muy similar. Tanto el apartheid como la desposesión de los palestinos son herencias tardías del colonialismo europeo, a cuyos practicantes les resulta difícil percatarse de que esas formas de dominación ya no le resultan aceptables al mundo en general, ni siquiera a la opinión pública occidental. Las ideologías racistas subyacentes a ambos proyectos representan un ultraje al grueso de la humanidad, y traen consigo un sinfín de odios y conflictos enconados y duraderos. Se podría hasta decir que Israel es otra Suráfrica, una Suráfrica que explota "el Holocausto" a beneficio de inventario.

Cualquier boicot se arriesga a generar víctimas inocentes. En particular, se argumenta que, boicoteando a las instituciones académicas, podrían resultar injustamente castigados los intelectuales que están por la paz. Quizá sea cierto, pero Israel mismo admite de buena gana que hay víctimas inocentes en Gaza, cuya inocencia no estorba a su asesinato. Nosotros no proponemos asesinar a nadie. Un boicot es un perfecto acto no violento por parte de la ciudadanía. Puede compararse con la desobediencia civil o con la objeción de conciencia ante el poder injusto. Israel desacata abiertamente todas las resoluciones de la ONU, y nuestros propios gobiernos, lejos de tomar medidas para obligar a Israel a cumplirlas, simplemente refuerzan sus lazos con Israel. Tenemos el derecho, como ciudadanos, de exigir de nuestros propios gobiernos el respeto del derecho internacional.

Lo que más importa de las sanciones, especialmente en el plano cultural, es su valor simbólico. Es una forma de decir a nuestros gobiernos que no aceptamos su política de colaboración con un Estado que ha optado por convertirse en un forajido internacional.

Algunos ponen objeciones a un posible boicot por idénticos motivos a los avanzados tanto por algunos israelíes progresistas como por un cierto número de palestinos "moderados" (no por el conjunto de la sociedad civil palestina). Pero lo principal para nosotros no debe ser lo que ellos dicen, sino la política exterior que queremos para nuestros propios países. El conflicto árabe-israelí está lejos de ser un conflicto meramente local, y ha alcanzado relevancia mundial. Se trata de la cuestión básica del respeto al derecho internacional. Un boicot debería ser defendido como un medio de protesta dirigido a nuestros propios gobiernos para forzarles a cambiar de política. Tenemos derecho a querer viajar por el mundo sin necesidad de avergonzarnos. Razón suficiente para fomentar el boicot.