sábado, 31 de outubro de 2009

A televisão como Moderno Príncipe

Giulio Ferroni
Gramsci e o Brasil

Para o professor de literatura italiana da Universidade La Sapienza, de Roma, Giulio Ferroni, a concepção gramsciana do moderno Príncipe não está presente nas ideias dos atuais partidos de esquerda italianos. Ele é enfático ao dizer que, na Itália, “o moderno Príncipe atual é a televisão”. Ferroni ressalta que na política italiana Gramsci foi usado como modelo polêmico, principalmente entre 1950 e 1960. “O Partido Comunista procurou construir um modelo gramsciano”, impondo uma “hegemonia” cultural própria, ele explica. E, em seguida, dispara: “Mas aquele modelo atuou apenas em parte sobre as massas trabalhadoras e foi cancelado totalmente pelo domínio da mídia, da cultura da aparência, da publicidade, do espetáculo”.

De sua produção intelectual, citamos: Mutazione e riscontro nel teatro di Machiavelli (Roma: Bulzoni, 1972), Il comico nelle teorie contemporanee (Roma: Bulzoni, 1974) e Istruzione, cultura e illusioni della riforma (Turim: Einaudi, 1997).

Qual é a atualidade do conceito de intelectual orgânico, cunhado por Gramsci?

Poder-se-ia dizer que o conceito de intelectual orgânico é, ao mesmo tempo, atual e inatual. Atual pela lucidez com que Gramsci estendeu a categoria de intelectual, incluindo não só as figuras tradicionais (escritores, filósofos, artistas, etc.), mas abrangendo todas as figuras de técnicos e de mediadores do consenso e das formas de consciência e conhecimento sob títulos diversos (aqueles que hoje poderíamos chamar de operadores culturais). Inatual porque hoje não podemos mais falar de intelectuais que sejam orgânicos para uma classe ou um grupo de classes. Quando muito, há intelectuais funcionários que são orgânicos em relação ao sistema de comunicação e intelectuais “não orgânicos”, que resistem ao sistema global da comunicação, sem nenhum mandato social.

Na Itália, como a intelectualidade da esquerda e a da direita se posicionaram no século XX com base neste conceito?

No fundo, os verdadeiros intelectuais orgânicos foram aqueles “políticos” com que precisamente o fascismo tentou construir, mesmo que contraditoriamente, um modelo de atividade intelectual centralizada, reunindo em torno de uma função orgânica até mesmo intelectuais divergentes e de oposição (como é o caso do Instituto da Enciclopédia Italiana e da atividade de Giovanni Gentile, ou da revista Primato, dirigida por Giuseppe Bottai). Na esquerda, foi o Partido Comunista Italiano, de 1945 a 1970, que tentou, de várias maneiras, criar um grupo de intelectuais orgânicos, empenhados no trabalho de construir o consenso para aquele “Moderno Príncipe” que era o partido. Mas diga-se que se tratou prevalentemente de intelectuais “políticos” ou de intelectuais funcionários, enquanto as contribuições mais fecundas para o pensamento e a política de esquerda vieram precisamente de intelectuais “não orgânicos”.

Como o senhor faz a análise da influência de Maquiavel no pensamento político de Gramsci? Que elementos conserva do escritor florentino e em que o supera?

Para Gramsci, Maquiavel é um grande modelo “mítico”. Gramsci vê em Maquiavel a capacidade de confrontar-se com as mais avançadas monarquias europeias da época e a busca de uma intervenção sobre a situação italiana que criasse, também na Itália, um regime centralizado e moderno: o Príncipe é aquele que sabe dar-se conta da situação e sabe pôr em campo todos os meios para agir sobre ela, conquistando no “povo” o necessário consenso. Assim, o partido moderno deve ter, como o Príncipe de Maquiavel, aquela capacidade de suscitar consenso e de intervir de modo revolucionário na situação contemporânea. Este é, precisamente, o mito do “Moderno Príncipe”. Mas Gramsci também percebeu, no cárcere, a falência do projeto de Maquiavel, acabando por também ver nele uma imagem de sua própria derrota.

Quais seriam as maiores diferenças entre a concepção de Estado de Gramsci em relação a Marx e Lenin?

A maior diferença está no fato de que, em seu pensamento mais maduro, Gramsci parece indicar a imagem de um Estado muito articulado, cuja estrutura não deve apoiar-se sobre a ditadura do proletariado, mas sobre a capacidade do proletariado de ser “hegemônico”, de impor o desenvolvimento revolucionário através do consenso e da aliança com as classes intermediárias.

Togliatti afirmou que Gramsci era o primeiro bolchevique italiano, o primeiro leninista do país. De que modo a concepção gramsciana de “Moderno Príncipe” influencia os atuais partidos de esquerda na Itália?

Bolchevique nos anos da revolução soviética e naqueles da fundação do Partido Comunista Italiano, Gramsci se afastou do bolchevismo no pensamento mais maduro dos Cadernos do cárcere, pensamento que também é animado por uma forte contraditoriedade e por uma grande tensão dramática. Quanto à concepção do “Moderno Príncipe”, os atuais partidos de esquerda, também aqueles que ainda pretendem ser “comunistas”, estão, com efeito, muito distantes disto. Na realidade, o atual “Moderno Príncipe” não é mais um partido ou o partido, mas é a televisão.

Para Lenin, os sovietes são órgãos do governo para os trabalhadores, os quais são conduzidos pelo estrato de vanguarda do proletariado e não pelas massas trabalhadoras. De que modo esta situação se apresentou na Itália? Houve na Itália uma revolução cultural do ponto de vista gramsciano?

Parece-me que, na política italiana, Gramsci tenha sido usado como modelo polêmico e lhe tenham sido atribuídos os pontos de vista mais diversos e até mesmo opostos. Sobretudo nos anos 1950 e nos primeiros anos 1960, o Partido Comunista procurou construir um modelo gramsciano, procurando impor uma “hegemonia” cultural própria, até mesmo por causa da inteligência, da rica cultura dos seus dirigentes, mas que atuou apenas em parte sobre as massas trabalhadoras e foi totalmente eliminado pelo domínio da mídia, da cultura da aparência, da publicidade, do espetáculo.

Poderia dar detalhes do contexto no qual emergem e o que eram as Comissões Internas, consideradas por Gramsci como embriões de sovietes?

Em meio aos conflitos econômicos e sociais da Itália saída da Primeira Guerra Mundial, no contexto muito vivaz e vital da Turim operária, os conselhos de fábrica foram uma grande tentativa de gestão direta da fábrica por parte dos operários (que o turinense Gobetti apreciava precisamente a partir de um ponto de vista “liberal”): certamente havia muitas semelhanças com os sovietes, mas eles emergiam num horizonte cultural, econômico e social muito diverso.

Gramsci teve influência na literatura italiana? De que forma?

A influência foi importante do ponto de vista da crítica e da teoria literária, e, sobretudo, da linguística. Um eco da reflexão de Gramsci é sentido provavelmente naquelas experiências que confrontaram a língua nacional com os diversos dialetos, que deram atenção aos encontros e conflitos entre a língua literária e a expressividade das línguas regionais (de Pasolini a Meneghello). No famoso livro de Pasolini, Le ceneri di Gramsci, há uma referência a um modelo heroico, à perspectiva histórica e política e ao empenho por uma nova humanidade que Gramsci representa, mas não se pode falar de um verdadeiro influxo de Gramsci. Sobre narradores e poetas a influência de Gramsci foi somente indireta.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Repensando os Trópicos: um retrato intelectual de Gilberto Freyre


Originalmente concebido para o público estrangeiro, Repensando os Trópicos: um retrato intelectual de Gilberto Freyre, oferece aos leitores lusófonos a oportunidade de encontrar uma análise global que vai muito além de Casa grande e senzala. Combinando os trabalhos de pesquisa desenvolvidos por Maria Lúcia Pallares-Burke e Peter Burke, a obra traduz muito da visão internacional que Freyre tinha de seu país, analisando-o, por vezes, como participante de seu processo histórico e, por outras, como um crítico analisador de seus costumes.

O livro valoriza um Freyre crítico cultural e intelectual público, que se pronunciava sobre arquitetura, raça, regionalismo e sexo. Conta também como ele lia e escrevia intensamente, tendo o apoio de familiares, amigos e discípulos que digitavam seus manuscritos (originalmente escritos a lápis) ou copiavam documentos para ele nos arquivos. É mostrado como um rompedor de tabus, dono de um estilo coloquial que ofendeu alguns de seus primeiros leitores no início da década de 1930.

Na tentativa de explicar o multidisciplinar pesquisador - que além de historiador foi um ativo sociólogo, jornalista, crítico cultural, deputado, romancista, poeta e artista plástico - Maria Lúcia e Peter Burke buscaram em entrevistas a conhecidos do pernambucano, em teses acadêmicas, pesquisas sobre hábitos brasileiros e documentos redigidos pelo próprio Freyre a fonte para construir uma narrativa substancial sobre sua vida e trabalho. Ao mesmo tempo em que fazem uma abordagem crítica da obra escrita pelo pernambucano, os Burke reconhecem suas muitas qualidades positivas, apresentando uma rica variedade de contextos culturais e políticos, em vez de simplesmente analisarem textos.

Repensando os Trópicos contextualiza e atualiza o pensamento e os acontecimentos que levaram às análises do sociólogo, descrito pelos autores como "um grande pensador social; um dos poucos que não surgiram da Europa Ocidental ou dos Estados Unidos" e que, por esse mesmo motivo, é singular em sua maneira de interpretar os fatos. Uma obra que destaca uma das forças de Gilberto Freyre, a de conseguir observar o Brasil tanto de um ponto de vista externo quanto interno.

Honduras: Micheletti acepta acuerdo para restituir a Zelaya

Agencias

El Presidente del gobierno de facto de Honduras, Roberto Micheletti, aceptó anoche un acuerdo para restituir al depuesto Mandatario Manuel Zelaya en el poder, previo consentimiento del Congreso, lo que supondría el primer golpe de Estado que se revierte en América Latina. “Me complace anunciar que hace unos minutos autoricé a mi equipo negociador a firmar un acuerdo que marque el inicio del final de la situación política del país”, señaló Micheletti en una declaración en la Casa Presidencial tras una intensa jornada de reuniones de ambas comisiones, bajo la presión de una delegación de Estados Unidos, encabezada por Thomas Shannon.

El acuerdo propone que el Congreso Nacional, tras consultar a la Corte Suprema de Justicia, sea el que decida “retrotraer todo el poder ejecutivo previo al 28 de junio del 2009”, fecha en que fue depuesto Zelaya por el golpe de Estado.

Zelaya declaró su “satisfacción y optimismo” por este “proceso histórico” que supone el “retorno de la democracia en el país” y facilita la “reconciliación nacional” tras cuatro meses de crisis. “Estamos creando escuela”, declaró ufano a la prensa local desde la embajada de Brasil donde se refugia desde que llegó al país clandestinamente el pasado 21 de septiembre.

Las delegaciones, que en el jueves tuvieron una jornada maratónica de reuniones, deben establecer todavía un calendario para la aplicación de lo que han denominado Acuerdo de Guaymuras, el primer nombre que le dieron los conquistadores españoles a Honduras. “Les pido calma, estas cosas no se van a resolver de la noche a la mañana, pero sí en los próximos días”, dijo el Presidente constitucional.

El jefe de la delegación estadounidense, el responsable de la diplomacia latinoamericana, Thomas Shannon, quien había decidido quedarse hasta el viernes para facilitar el acuerdo, calificó de “héroes de la democracia” a los negociadores y alabó el “liderazgo político de Zelaya y Micheletti” que permitieron alcanzar este acuerdo. “Es un gran momento para Honduras”, dijo tras asegurar que Estados Unidos va a “acompañar” el proceso electoral.

El representante de la Organización de Estados Americanos (OEA) Víctor Rico, también elogió el “esfuerzo particular de los negociadores” que hace dos días “parecía prácticamente imposible”. Además de la restitución de Zelaya, el acuerdo, que debe ser ratificado este viernes, también contempla la creación de un gobierno de reconciliación nacional, el rechazo a la amnistía política y el compromiso de no convocar una Asamblea Constituyente para reformar la Constitución que fue lo que le costó el puesto a Zelaya.

También se comprometen a realizar elecciones presidenciales el 29 de noviembre y la transferencia de la autoridad de las Fuerzas Armadas al Tribunal Supremo Electoral, entre otros puntos. Asimismo, los negociadores acordaron crear una comisión de verificación para hacer cumplir los puntos del acuerdo, y una de la Verdad para investigar los sucesos antes, durante y después del golpe de Estado.

Micheletti solicitó a la comunidad internacional que derogue las sanciones contra Honduras y envíe observadores internacionales a las elecciones presidenciales del 29 de noviembre.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Condenan a Washington por el bloqueo a Cuba

Agencias

Por decimooctava vez, Estados Unidos recibió la censura de la comunidad internacional. Dos países que antes no votaban el proyecto, El Salvador e Irak, apoyaron el pedido de La Habana. El bloqueo le costó a Cuba 96 mil millones de dólares.

La Asamblea General de las Naciones Unidas aprobó ayer, una vez más, una resolución en contra del embargo de Estados Unidos a Cuba. La victoria para el gobierno de La Habana fue aplastante. Con 187 votos a favor, sólo tres en contra y dos abstenciones, la condena a la política de la Casa Blanca contra la isla fue casi mundial. “El bloqueo es una política absurda que provoca carencias y sufrimientos, es una violación masiva, flagrante y sistemática de los derechos humanos. Esta es otra sonada victoria de la diplomacia cubana en la ONU hacia la política hostil de Washington”, afirmó tras la votación Bruno Rodríguez, canciller de Cuba.

La de ayer fue la decimooctava vez que Estados Unidos recibió la censura de la comunidad internacional, desde que en 1992 la resolución se aprobó por primera vez con 59 votos a favor. Desde entonces, los apoyos para Cuba se acumulan y los aliados de Estados Unidos se fugan. Las dos abstenciones fueron las mismas que el año pasado: Islas Marshall y Micronesia. Dos países que antes no votaban el proyecto, El Salvador e Irak, sumaron sus voces y apoyaron el pedido de La Habana. Al lado de Washington sólo permanecieron dos Estados: Israel y Palau.

El gobierno de Tel Aviv, uno de los principales receptores de ayuda financiera y militar directa de Washington en el mundo, es un aliado incondicional de la Casa Blanca sea cual fuera la situación. Palau, un archipiélago en el océano Pacífico independizado de Estados Unidos en 1994, cuenta apenas con 20 mil habitantes. Su defensa nacional está a cargo de Washington y este país cuenta con bases militares en su territorio. Pero además, su embajador ante la ONU, Stuart Beck, no es originario del país. Abogado neoyorquino con doble nacionalidad estadounidense-israelí, casado con una mujer de las islas, Beck representa a Palau por la módica suma de un dólar por año. “Les dije: ustedes no producen nada, a nadie le interesa su mano de obra, no tienen nada que alguien quiera; Estados Unidos ya tiene derechos de defensa y bases militares, así que lo único que tienen es un voto en la ONU”, le contó Beck al International Herald Tribune en una entrevista. De este modo el abogado obtuvo sus credenciales diplomáticas y, según el periódico cubano Granma, es el encargado de asegurar la aprobación en el Capitolio del paquete de ayuda anual a Palau de 240 millones de dólares.

Acompañada de sus aliados en el organismo multilateral, Susan Rice, la embajadora norteamericana ante el organismo, se quejó por la resolución y aseguró que el texto no refleja los avances que hizo Barack Obama desde que llegó a la presidencia. Entre éstos, mencionó el levantamiento de las restricciones para el envío de remesas, la eliminación del límite de tiempo para los viajes de los cubanoestadounidenses a la isla y la reanudación del diálogo sobre cuestiones migratorias y de envíos postales. “Esta resolución no refleja las realidades actuales. Sin embargo, Estados Unidos continuará expandiendo las oportunidades para el pueblo de Cuba, para que se habiliten los canales de acceso a la información y a otros recursos”, explicó la embajadora. “Nuestra política busca que Cuba haga lo correcto hacia su población”, agregó la diplomática.

Para ilustrar los efectos de las intenciones estadounidenses, el canciller cubano mencionó algunos de los efectos del bloqueo. “Niños cubanos que padecen de leucemia no pueden ser tratados con productos norteamericanos. Tampoco se ha podido aumentar el tratamiento de cáncer de mama en las mujeres debido a que la tecnología tiene patente norteamericana”, denunció Rodríguez. “Nos limitan el acceso a las nuevas tecnologías, el acceso a Internet, quieren bloquear nuestro desarrollo”, sentenció el representante cubano.

Impuesto en febrero de 1962 por el entonces presidente John F. Kennedy para forzar la caída del régimen comunista, el bloqueo provocó pérdidas a la economía cubana durante el 2008 por más de 500 millones de dólares. Si se tienen en cuenta los 48 años de vigencia de la medida, la cifra asciende, según economistas cubanos, a 96 mil millones de dólares. El bloqueo, además, tiene medidas de alcance extraterritorial –incluidas en la Ley Helms-Burton, puesta en vigencia en 1996– por las que se multa a empresas europeas, latinoamericanas y de cualquier parte del mundo que se atreven a hacer negocios con la isla.

Ayer, el jefe de la diplomacia cubana precisó que el jefe de la Casa Blanca tiene una oportunidad única entre sus manos para revertir la historia de las relaciones bilaterales. “Ninguna persona seria cree que Cuba es una amenaza a la seguridad nacional de Estados Unidos. El presidente Obama tiene la oportunidad histórica para eliminar el bloqueo. Puede hacerlo, tiene instrumentos en sus manos”, señaló el funcionario ante el pleno de la Asamblea General. “El bloqueo no ha cumplido ni cumplirá jamás el propósito de doblegar el ideal político de Cuba; pero daña nuestra economía, daña a nuestro pueblo y es el obstáculo fundamental para el desarrollo del país”, explicó Rodríguez.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Rio de Janeiro: uso de força militar divide opiniões

Agencias

O debate sobre a utilização das Forças Armadas em operações de segurança pública voltou à tona nesta semana após a mais recente onda de violência no Rio de Janeiro, mas especialistas divergem sobre a forma que os militares seriam empregados no combate ao crime e se poderiam solucionar crises deste tipo em todo o país.

Pelo menos 38 pessoas morreram desde sábado, quando começaram confrontos entre facções criminosas rivais e a polícia em favelas no Rio de Janeiro, entre elas três policiais que estavam em um helicóptero abatido por criminosos no Morro dos Macacos, zona norte fluminense.

"O Exército, para entrar aí, não pode ser empregado como força policial. Ele tem de ser empregado como força militar", argumentou o coronel da reserva Geraldo Cavagnari, pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp, acrescentando que não vê o governo e a sociedade brasileira dispostos a arcar com o ônus da participação dos militares em crises urbanas.

"A missão dos militares nesse caso seria aniquilar as gangues do ponto de vista militar e praticamente fulminar o narcotráfico", acrescentou, lembrando que mortes de civis seriam inevitáveis nas densamente povoadas favelas do Rio. "Não há condições de uma operação desse tipo numa favela do Rio de Janeiro, porque nem o governo nem a sociedade aceitam esse compromisso, com esse ônus."

A participação das Forças Armadas foi defendida esta semana pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, que propôs uma política nacional abrangente para combater a violência desde a entrada de armas pelas fronteiras até os confrontos urbanos.

O Ministério da Defesa estuda o envio ao Congresso de um projeto que cria um estatuto jurídico para a atuação das Forças Armadas na segurança pública e o ministro Nelson Jobim costuma citar a experiência dos militares brasileiros no comando da força de paz da ONU no Haiti para afirmar que há competência para isso.

Mas o diagnóstico da professora Jaqueline Muniz, integrante do Grupo de Estudos Estratégicos da Coppe/UFRJ e da Universidade Cândido Mendes, vai no sentido contrário. Para ela, a crise da segurança no Rio de Janeiro é de governança e corrupção, não do tamanho das forças envolvidas. "O uso das Forças Armadas na segurança pública não vai produzir o resultado desejado. Isso é uma cortina de fumaça, no meu ponto de vista. É como se se quisesse pôr o problema para longe", disse.

Para a especialista, falta regulamentação sobre o que as polícias podem e não podem fazer. Isso, argumenta, transforma os mandatos policiais em "cheques em branco", dando margem a "toda forma de manipulação". Segundo Jaqueline Muniz, é crucial para o Rio de Janeiro e outras cidades brasileiras seguir o exemplo de metrópoles como Nova York e Chicago que se concentraram no combate à corrupção em todos os níveis da polícia para solucionar seus problema de segurança pública. "Me surpreende que o Supremo, o Congresso não se mobilizem para a construção de uma força-tarefa anticorrupção no Rio de Janeiro. É disso que nós precisamos", avaliou.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Fernández Buey: Por una Universidad Democrática


Por una universidad democrática aborda la historia y el presente de la Universidad prestando especial atención a los movimientos críticos y alternativos que han actuado en ella durante los últimos cuarenta y cinco años. El libro analiza sucesivamente: la creación del Sindicato Democrático de Estudiantes de la Universidad de Barcelona (SDEUB) en 1966; la evolución posterior de los sindicatos democráticos de estudiantes en España; la rebelión estudiantil del 68 en Europa y América, lo que fue el mayo del 68 en Francia y su impacto en las universidades españolas; la historia del movimiento de profesores no-numerarios en la década de los setenta; los proyectos oficiales y extraoficiales de reforma de la Universidad en las décadas siguientes (LRU, Informe Bricall y LOU); establece, por último, las luces y sombras de la situación universitaria actual a propósito del Proceso de Bolonia.

Fernández Buey fue uno de los fundadores del SDEUB en 1966 y miembro destacado de la Coordinadora Estatal del movimiento de profesores no-numerarios a mediados de los setenta. Después de la muerte de Franco, contribuyó a la creación de las Comisiones Obreras de la Enseñanza. Ha sido profesor en las Facultades de Filosofía y de Económicas de la Universidad de Barcelona, en la Facultad de Económicas de la Universidad de Valladolid y en la Facultad de Humanidades de la Universidad Pompeu Fabra, vicedecano durante algunos años en las dos últimas y miembro, en la década de los noventa, del Consejo de Coordinación Universitaria, a propuesta de Izquierda Unida. En la actualidad es catedrático de filosofía política en la UPF, donde coordina, además, un Centro para el Estudio de los Movimientos Sociales (CEMS).

En los once ensayos que componen Por una universidad democrática, Fernández Buey ha juntado su experiencia universitaria, sus recuerdos personales y su vocación de historiador de las ideas para trazar una amplísima panorámica, crítica y analítica, de lo que ha sido y de lo que es la Universidad, de lo que ha cambiado y de lo que sigue sin cambiar a pesar de las múltiples reformas.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Uruguay: Mujica enfrentará una apretada segunda vuelta

Agencias

La segunda vuelta de las elecciones presidenciales uruguayas, el próximo 29 de noviembre, se anuncia muy reñida. Acabado el escrutinio, el candidato del Frente Amplio, José Pepe Mujica alcanzó el domingo, en primera ronda, 47,49% de los votos, pero la suma de la oposición -los tradicionales Partido Nacional (28,53%) y Partido Colorado (16,66%)- llegó al 45,19%, y ya han confirmado que acudirán juntos. El Frente, coalición de izquierda y centro izquierda, depende de un escaño, que sigue sin atribuir, para alcanzar la mayoría absoluta en el Congreso (50 de 99 escaños) y el Senado puede quedar partido en dos mitades.

Mujica, de 74 años, ex dirigente tupamaro y ex ministro de Agricultura, aseguró que seguía muy esperanzado. "Soy un hombre de lucha. Nunca se nos regaló nada. Seguiremos luchando". Su candidato a vicepresidente, Danilo Astori, aseguró en que noviembre las cosas estarán más claras porque "los votantes se enfrentarán a una opción simple: elegir entre la gestión de los partidos que llevaron a este país al desastre y la del Frente Amplio, que logró en los últimos cuatro años, bajo la presidencia de Tabaré Vázquez, conquistas y logros muy importantes".

La mejor noticia para el Frente Amplio fue que el candidato del Partido Nacional, el ex presidente Luís Alberto Lacalle, de 68 años, tuvo un resultado personal francamente malo: perdió más de seis puntos (cien mil votos) respecto a las elecciones de 2004. Los sufragios se fueron prácticamente en bloque al Partido Colorado, de Pedro Bordaberry (hijo del dictador), que pasó de 10,6% en las pasadas elecciones a un notable 16,6% en éstas, con un discurso bastante conciliador. Bordaberry anunció inmediatamente su apoyo a Lacalle, pero un sector importante de su partido, e incluso del propio Partido Nacional, cree que el ex presidente, que acabó su mandato en 1995 con serias acusaciones de corrupción, es un mal candidato y que su vicepresidente, Jorge Larrañaga, podría haber logrado un mejor porcentaje. La realidad es que Mujica, con un resultado que no puede ser considerado brillante, le ha sacado a Lacalle prácticamente medio millón de votos (sobre un censo de dos millones y medio).

En el Frente Amplio, no todo el mundo estaba seguro en que Mujica fuera el mejor candidato, por su peculiar y socarrona manera de hablar, su imagen de viejo guerrillero, y, sobre todo, por el hecho de que el actual presidente Tabaré Vázquez, muy popular, hubiera apoyado a otro candidato en las elecciones internas del FA. "Lo que tenemos que hacer ahora es no dispersar el discurso y centrarlo en los logros del actual gobierno, un gobierno y unos logros que son del Frente Amplio y no solo de Vázquez", ha asegurado hoy lunes un miembro de la campaña de Mujica.

"No se puede tener un candidato que llegue a todos los frentes. Mujica es insuperable a la hora de establecer una comunicación emocional con las capas más humildes de Uruguay y con un amplio sector de jóvenes. Lo fundamental es poner a los votantes en noviembre ante la disyuntiva de un gobierno del Frente o uno de Lacalle, que fue la quintaesencia de la corrupción", explica el escritor Mauricio Rosencof, destacando militante del Frente Amplio.

Uno de los resultados más llamativos de la jornada del domingo fue el fracaso del referéndum (no se llegó al 50% del voto favorable requerido) para anular la actual Ley de Caducidad, que arrebata a la justicia la decisión de procesar a militares y policías por crímenes y violaciones de los derechos humanos durante la dictadura. "El país mira al futuro y no a los fantasmas del pasado", aseguró el ex presidente Julio María Sanguinetti, bajo cuyo primer mandato se refrendó la ley.

Los impulsores del referéndum consideran, sin embargo, que los uruguayos se desmovilizaron porque la Corte Suprema dictaminó hace pocos días que la Ley de Caducidad no se podía aplicar, por inconstitucional, en el caso de una joven torturada y asesinada durante la dictadura. El fallo hizo creer que la ley había quedado ya invalidada en su totalidad. En cualquier caso, los máximos responsables de la dictadura se encuentran ya procesados por decisión del Ejecutivo: Juan María Bordaberry permanece en arresto domiciliario, por problemas de salud, y el general Gregorio Álvarez fue condenado el pasado jueves a 25 años de prisión por el asesinato de 37 opositores entre 1977 y 1978.

sábado, 24 de outubro de 2009

Uruguay: hacia un segundo gobierno progresista

Raúl Zibechi
La Jornada

Es muy probable que mañana domingo la mayoría absoluta de los uruguayos elija a José Mujica presidente. En caso de que no alcanzara a superar 50 por ciento de los votos, habría que esperar un mes más para que en un balotaje se defina la presidencia entre el líder tupamaro y el ex presidente neoliberal Luis Alberto Lacalle. De un modo u otro, el triunfo de Mujica es un hecho. Un segundo gobierno del Frente Amplio premiará una gestión considerablemente mejor que las anteriores.

¿Qué ha cambiado en Uruguay en los cinco años de gobierno progresista? El Estado es más fuerte y cuenta con mayor legitimidad; el pequeño y frágil país, rodeado de dos gigantes, es algo más viable que antes, cuenta con mayor autonomía energética y tiene planes de futuro; la pobreza ha caído de 30 a 20 por ciento, por las políticas sociales y la excepcional coyuntura internacional para las exportaciones; el sistema de salud se ha democratizado, siendo la principal reforma estructural del gobierno de Tabaré Vázquez; el salario real creció por primera vez en muchos años, la desocupación bajó a la mitad y se instaló la negociación colectiva Estado-empresarios-sindicatos, que redundó en un crecimiento sostenido de la afiliación sindical, aun en ramas donde nunca había existido organización laboral.

Por otro lado, la producción agropecuaria creció exponencialmente, con la introducción masiva de técnicas como la siembra directa y la alimentación del ganado en espacios cerrados, materias en las que este país tenía considerable retraso. El crecimiento agropecuario favorece a los grandes productores vinculados a multinacionales de la soya y otros granos, y a los grandes frigoríficos, lo que supone una profundización del modelo neoliberal en el campo o, se si prefiere, un avance del agronegocio. En contrapartida, los pequeños productores, sobre todo los vinculados al sector lechero, se han visto perjudicados y una parte abandonó el rubro pese a la política oficial de apoyo a la producción láctea.

En estos cinco años, alrededor de 25 por ciento de las tierras cultivables pasaron a manos de extranjeros, sobre todo argentinos y brasileños, sin que el parlamento haya limitado la compra por foráneos en las zonas fronterizas. El 40 por ciento de la producción de carne, principal rubro de exportación, y un porcentaje mayor del arroz, están controlados por grandes empresas brasileñas, con lo que los principales exportadores pertenecen ahora a ese país. En paralelo, el proyecto forestal sigue en pie pese a la crisis global, lo que implica que a la fábrica de celulosa Botnia le seguirán dos o tres más, dependiendo de la evolución de la economía mundial.

Con todo y que el país no ha abandonado, sino profundizado el modelo, la mayor parte de la población –en especial los más pobres– cuenta con mayores ingresos y tiene expectativas de futuro algo mejores que en el pasado. La introducción del Plan Ceibal (una laptop por niño en edad escolar que se ampliará a secundaria) es la iniciativa que cuenta con mayor apoyo social. Es probable que en los próximos 10 años contribuya a disminuir la brecha entre los más ricos y los más pobres, diferencia que las políticas sociales apenas han modificado. El objetivo de las elites políticas es convertir al país en un polo de alta cualificación laboral especializado en tecnologías avanzadas, por lo cual la difusión de la computación forma parte central de ese proyecto.

¿Qué se puede esperar del gobierno de Mujica? En las grandes líneas, continuará los trazos del gobierno de Vázquez. Los equilibrios internos en el Frente Amplio, de hecho el moderado Danilo Astori será su vicepresidente, y en el conjunto de la sociedad uruguaya se tornan inviables virajes más o menos profundos o radicales. Con Mujica habrá una mejora en las relaciones con los socios del Mercosur, deterioradas desde el conflicto por la celulosa con Argentina y porque Uruguay acusa a sus vecinos de proteccionismo.

Mientras Cristina Kirchner sea presidenta, y Lula siga en Planalto, el segundo gobierno progresista uruguayo se esforzará por minimizar los conflictos y diferencias, y profundizará la integración regional, tanto en relación al Mercosur como en la Unasur (Unión de Naciones Suramericanas). En este sentido, no parece posible que vuelvan a registrarse coqueteos para firmar un tratado de libre comercio con Estados Unidos como sucedió en la primera parte del actual gobierno, a impulso del presidente Vázquez y su ministro de Economía, el futuro vicepresidente.

Tampoco parece posible que Uruguay se integre a la Alba. Más allá de las simpatías personales entre Chávez y Mujica, el proceso uruguayo es bien diferente del de Venezuela, Bolivia y Ecuador, por poner tres ejemplos. Uruguay atravesó la década neoliberal sin que su sistema político sufriera el menor traspié, siendo la continuidad institucional el signo distintivo de un país con fuerte tradición estadocéntrica, en todos los sectores sociales, en todo el abanico político e ideológico. La ausencia de movimientos sociales de los excluidos, no sólo lo diferencia del resto de los países del continente, sino que es consecuencia, precisamente, de esa fuerte impronta estatal que ha calado tan hondo en la izquierda política y social. Mientras el sistema político de los países andinos mencionados se vino abajo y en Argentina la estructuras políticas crujieron fuerte auspiciando el que se vayan todos, en Uruguay los grandes debates, como las privatizaciones, se zanjaron votando.

Uno de los cambios que pueden producirse es la anulación de la Ley de caducidad, que pondría fin a una legislación infame que avala la impunidad de los militares que violaron los derechos humanos. En todo caso, el actual gobierno consiguió agujerar la legislación y llevó a la cárcel a los más conspicuos violadores. La anulación cerraría un ciclo histórico que no pudo clausurarse 20 años atrás, cuando la derecha ganó un referendo que avaló la continuidad de la impunidad.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Uruguai: As três vitórias do povo

Rafael Michelini
La República


No dia 25 de outubro, nós, uruguaios, teremos que tomar três decisões que definirão boa parte de nosso destino. Está diante de nós não só a oportunidade de um novo triunfo da Frente Ampla no primeiro turno, mas também o desafio dos plebiscitos, que representam decisões fundamentais para o futuro de nossa democracia.

Não prestar atenção nisso ou preocupar-se somente com perfil ou o resultado eleitoral desta ou daquela lista da Frente Ampla, não dar a prioridade que os plebiscitos merecem nem considerar o enorme valor democrático de ambas as instâncias, representaria um grave e imperdoável equívoco, do qual nos arrependeríamos em um prazo muito curto.

Votar na papeleta rosada é votar SIM à anulação da Lei da Caducidade. É expressar uma demonstração, um gesto cidadão indispensável contra a impunidade. É colocar-nos em dia com uma dívida que temos conosco mesmo como país, como comunidade. Significa eliminar, apagar de nosso ordenamento jurídico uma lei que só expressa injustiça e impunidade, que representa um lastro autoritário e um anti- valor no marco de nossa democracia. É um voto a favor da verdade, da justiça, da igualdade de direitos e da liberdade.

Votar SIM para anular a Lei de Caducidade é uma reafirmação democrática, a reafirmação dos valores que dignificam a vida cidadã, é a melhor forma de dizermos todos juntos: “nunca mais terrorismo de Estado, nunca mais ditadura”.

A luta contra a impunidade pertence a nossa democracia, a nossa sociedade, e a temos levado adiante em todo momento e em diversas dimensões. Estamos fazendo isso, desde o nosso governo, como nunca antes foi feito: com a busca e descoberta de cidadãos desaparecidos, investigando e tratando de obter a maior informação possível para colocá-la à disposição das vítimas, dos familiares das vítimas e de toda a cidadania.

Mas o capítulo mais importante tem sido aplanar o caminho da justiça. Aqueles casos que foram encaminhados ao nosso Poder Executivo receberam todos a mesma resposta. Eles foram considerados fora da Lei de Caducidade e graças a isso foi possível deter e processar alguns militares e policiais responsáveis por graves violações de direitos humanos. Mas enquanto se mantiver essa lei, muitos outros casos não poderão ser esclarecidos e seguirá havendo impunidade em nosso país.

A dor e a morte são irreparáveis. A verdade e a justiça constroem o presente, cimentando o futuro. Votar no dia 25 de outubro contra a impunidade é apostar em nós mesmos, recuperando nossa dignidade e o orgulho de superar-nos como sociedade. É uma grande aposta no futuro para que as novas gerações possam viver em liberdade, sem a carga de um passado de impunidade, sem o peso vergonhoso de uma lei que consagra a injustiça.

No outro plebiscito, votar na papeleta branca é votar SIM para garantir o direito de voto aos cidadãos uruguaios que residem no exterior. Representa uma decisão coerente com uma visão moderna e inclusive de nossa democracia, que busca ampliar e garantir o exercício de um direito fundamental, como é o do voto, a todos os cidadãos. O mesmo direito já consagrado e exercido pelos cidadãos de uma enorme quantidade de países no mundo e na nossa própria região, como México, Chile, Argentina e Brasil, entre outros.

Porque o Uruguai é mais que um território, é a vida de uma comunidade e, portanto, não pode restringir o exercício de direitos somente aqueles cidadãos que vivem dentro de nossas fronteiras. Somos um país de quatro milhões de uruguaias e uruguaios; o Uruguai é seu povo e residir no exterior não pode significar a exclusão da cidadania de nossos compatriotas.

Tornar possível o exercício do direito ao voto para os uruguaios que estão no exterior é o primeiro passo para recuperar sua participação e integrá-los ao sistema de decisões de nossa democracia. É um passo imprescindível também para garantir a igualdade de direitos entre os eleitores.

Pois hoje exercem livremente o direito ao voto aqueles uruguaios que, residindo no exterior, têm as possibilidades materiais para viajar a seu país e estar presentes no dia da eleição. Enquanto isso, a enorme maioria, aqueles que não têm condições de viajar, não podem exercer seu direito. Possuem esse direito ao voto, portanto, os uruguaios que, estando no exterior, vem votar no Uruguai. Mas, para isso, têm que ter tempo, saúde e, sobretudo, recursos. É por isso que queremos que este direito possa ser exercido plenamente por todos os uruguaios, estejam onde estiverem, tenha os recursos que tiverem.

A outra vitória para nosso povo é o triunfo da Frente Ampla, no primeiro turno. Essa luta de dar oportunidades aos filhos dessa terra, estejam onde estiverem, é fundamental para gerar uma participação cidadã superior e permitir que todos os cidadãos deste país possam eleger o presidente, por mais longe que estejam.

Nenhum destes triunfos será completo se não agregarmos a vitória da esquerda no primeiro turno. Não se trata simplesmente de ganhar uma eleição nacional, de ganhar por ganhar, de ganhar para que não ganhe a direita. Bem longe de nós querer converter esse processo em um evento desportivo. Trata-se, isso sim, de afirmar a continuidade no governo do único projeto de mudança capaz de gerar a modernização e o desenvolvimento do nosso país. Trata-se de assegurar o rumo e o aprofundamento das reformas implementadas pelo governo de Tabaré Vázquez, com novos objetivos e desafios para o Uruguai do futuro, para a construção progressiva de um Uruguai integrado, mais próspero.

Trata-se de ganhar para consolidar o projeto igualitarista de esquerda. É isso que está em jogo: dois projetos. Um de esquerda, solidário, igualitário e eqüitativo; o outro, da direita, individualista e conservador.

Uma nova vitória da Frente Ampla no primeiro turno constitui um grande passo adiante para romper definitivamente com o passado de crise e mediocridade que suportamos durante tanto tempo e para consolidar o caminho do Uruguai pujante, empreendedor, em crescimento, dos últimos cinco anos. Seria um golpe demolidor para as aspirações de “voltar atrás”, proclamadas pela fórmula Lacalle-Bordaberry, a melhor expressão da direita e do conservadorismo, a melhor fórmula para fazer o Uruguai regressar ao passado e ao fracasso, para o país da estagnação e da mediocridade. Seria demolidor para essa visão individualista que a direita tem da sociedade.

Efetivamente, o triunfo da esquerda no primeiro turno evidenciará as debilidades políticas dos partidos tradicionais, que terão que se renovar muito para apresentar-se novamente, com chances no futuro, à sociedade uruguaia. Ao mesmo tempo, o triunfo da esquerda vai consolidar todos os êxitos do governo de Tabaré Vázquez, aprofundar todas as reformas que temos feito, implementar as mudanças e propostas para esta segunda etapa que foram aprovadas no V Congresso da Frente Ampla, Cro. Zelmar Michelini.

Mas o mais importante é que um novo governo da Frente Ampla representará um golpe mortal para o clientelismo político que blancos e colorados desenvolveram neste país e que trouxe tanta pobreza. Esse país do passado, com essas práticas e essa forma de fazer política deve ser sepultado para sempre.

Vamos por nossas três vitórias, três vitórias para o Uruguai e sua gente, vamos conquistá-las, todos juntos, no dia 25 de outubro. São três vitórias em um mesmo ato e em um mesmo momento. São três vitórias pela liberdade, pela justiça e pelo futuro. São três vitórias históricas e nenhuma pode ficar pelo caminho.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Rio de Janeiro sitiada por la violencia

Francho Barón
El País

La dramática situación que ha vivido la ciudad brasileña de Río de Janeiro este fin de semana ha puesto de manifiesto que las facciones criminales, cuando se lo proponen, siguen teniendo la capacidad de sembrar el pánico en la ciudad más turística del país. El más reciente capítulo del enconado conflicto armado entre narcotraficantes y agentes policiales se extendió por varios puntos de la zona norte de la ciudad y se saldó con 14 muertos, ocho heridos, ocho autobuses incendiados y un helicóptero de la Policía Militar derribado a tiros desde una favela.

Ante la gravedad del conflicto, el Gobierno de Río reforzó la seguridad en las calles con 2.000 policías adicionales, activó la alerta máxima en los cuarteles y suspendió los días de descanso de todos los agentes. Se sabe que las organizaciones criminales cariocas no tienen disciplina interna ni una organización creíble frente a una de las policías mejor entrenadas del planeta en el pantanoso terreno de la guerrilla urbana.

Sin embargo, grupos delincuentes como Comando Vermelho o ADA (Amigos Dos Amigos) continúan fuertemente armados, algo que les otorga un poder de fuego que preocupa sobremanera a las autoridades cariocas, principalmente de cara a los Juegos Olímpicos de 2016.

La circulación irregular de armas, íntimamente ligada al tráfico de drogas, es una de las facturas pendientes en una ciudad donde los narcos se jactan de tener acceso a armamento antiaéreo. La ONG Viva Río presentó el pasado jueves en Brasilia un preocupante informe en el que se pone de manifiesto que el control de las armas de fuego que circulan en Brasil es aún muy precario.

Crimen armado

"En general, el país va muy mal", confirma Antônio Rangel, uno de los coordinadores de la investigación. "En el fondo, sigue existiendo una simpatía de los sectores atrasados de la sociedad brasileña hacia las armas. Una simpatía que no cuestionamos, porque están en su derecho de que les gusten las armas. Sin embargo, como ciudadanos no tienen el derecho de ignorar que el crimen en Brasil es un crimen armado, letal. Ésta es la diferencia entre la violencia brasileña y la de cualquier otra sociedad", resume el sociólogo, especialista en violencia y armamento.

En términos absolutos, Brasil es el primer país del mundo en número de homicidios provocados por arma de fuego. Si se toman como parámetro los homicidios por número de habitantes, la situación sólo es peor en El Salvador, Venezuela y Suráfrica. Según la investigación, el problema radica en que buena parte de las armas incautadas por las fuerzas de seguridad regresa tarde o temprano a las manos de los narcotraficantes.

Esto se debe al elevado nivel de corrupción instalado en la Policía Militar. No existen depósitos centrales de armas, ni bancos de datos mínimamente fiables y, lo más grave, tampoco existe voluntad política para mejorar la situación.

Paradójicamente, el informe de Viva Río pone de manifiesto que Río de Janeiro es, tras el Distrito Federal, el Estado brasileño que actualmente ejerce un control más eficaz del armamento y las municiones que circulan por sus calles. No obstante, el dato parece no tener un reflejo en los niveles de violencia con armas de fuego, que siguen siendo alarmantes, como se ha comprobado este fin de semana.

17 millones de armas

Según datos del investigador Pablo Dreyfus, desaparecido en el reciente accidente aéreo del Airbus de Air France, en Brasil circulan 17 millones de armas de fuego, de los cuales el 90% está en manos de la sociedad civil, legal o ilegalmente.

El dato es preocupante, sobre todo si se tiene en cuenta que hasta el submundo del crimen han llegado 3,9 millones de esas armas, el 86% de fabricación brasileña. De esta manera, el informe de Dreyfus tira por tierra las teorías que insisten en que los narcos se nutren de fusiles y pistolas provistas por el tráfico internacional.

La infructífera política represiva aplicada tradicionalmente por las autoridades de Río de Janeiro para controlar la situación en las favelas ha experimentado un giro radical durante el último año. La puesta en marcha de las Unidades de Policía Pacificadora (UPP), que ya están presentes en las favelas Dona Marta, Jardim Batam, Cidade de Deus, Babilônia y Chapéu Mangueira, ha supuesto un rayo de luz en la difícil gestión de la seguridad pública en Río. El proyecto está cosechando sus primeros frutos y estas comunidades, que vivían bajo la tiranía del crimen, respiran ahora un cierto clima de tranquilidad y distensión.

El pasado viernes, la prensa local se hacía eco de un curioso dato: el cónsul general de EE UU en Brasil y ex consejero político del comandante general de las tropas estadounidenses desplegadas en el este de Afganistán, Dennis Hearne, visitó la unidad pacificadora desplegada en Dona Marta. Ante los periodistas, el diplomático no confirmó ni desmintió que su presencia en la favela pueda estar relacionada con la posibilidad de exportar el modelo carioca al conflicto afgano, enquistado desde hace años.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Berlín: La capital trágica de Europa

Lluís Bassets
El País

Berlín es la capital trágica del siglo XX. Ese muro que cayó la noche del 9 de noviembre de 1989 pone punto final a un periodo catastrófico en el que la capital prusiana y alemana fue menos la protagonista que la víctima. Esa ciudad que creció en una llanura fluvial y lacustre ha sido la capital más cambiante de la historia contemporánea europea. Corte del reino prusiano primero y de la Alemania unida en el primer imperio después, capital democrática de la República de Weimar ya bien entrado el siglo XX, se convirtió con Hitler en urbe imperial y militarizada desde donde se controlaba un imperio totalitario en constante expansión y después en ciudad dividida, símbolo y víctima de la guerra fría hasta 1989, año de su auténtica liberación.

Los doce años de nazismo fueron un martirio para la ciudad y sus habitantes. Era la capital del III Reich, pero Hitler no tenía más que desprecio y rencor contra el símbolo del cosmopolitismo y de la vida urbana moderna y democrática. Había sido una de las grandes capitales del movimiento obrero europeo a principios de siglo, hasta culminar en la efímera revolución espartaquista de 1919 en la que por unos breves días los consejos de trabajadores y soldados tomaron el poder. Pocas ciudades en el mundo tuvieron en los años veinte la vitalidad y el dinamismo cultural, científico e industrial de Berlín. También fue, con la depresión económica, capital de la miseria y del paro, y caldo de cultivo del populismo extremista rampante, que llevaría a sangrientos enfrentamientos entre izquierdistas y nazis. De haber podido elegir, Hitler habría preferido Múnich como capital. Y aunque Berlín fue metrópoli nazi, lo fue a contrapelo: también fue ahí donde más cuajó la resistencia, donde conspiraron los conjurados con Claus von Stauffenberg, el militar aristócrata que intentó asesinar al Führer, y donde fueron sumariamente ejecutados.

El nombre de Berlín se asocia al de la época nazi en múltiples declinaciones de la infamia: empezando por el del Eje, con el que se denomina la alianza entre la Italia mussoliniana, el Japón imperial y la Alemania hitleriana. Desde los ministerios hitlerianos de Mitte, el centro berlinés, se tomaron las decisiones que encendieron el polvorín europeo y condujeron al mundo entero a la mayor confrontación bélica de la historia y a una colosal orgía de sangre y de muerte. Desde Berlín también, en una villa en las orillas de la laguna de Wansee, se tomaron las disposiciones genocidas para exterminar a los judíos de Europa. En los salones de la cancillería hitleriana surgieron los sueños arquitectónicos demenciales destinados a cambiar la ciudad hasta convertirla en Germania, la capital de un imperio que debía durar mil años.

Afortunadamente, de aquel proyecto urbanístico sólo quedaron los esbozos. No alcanzó su vida ni los trece años, la edad de un adolescente, y en lugar de las obras de la megalópolis hitleriana, el Führer legó a los berlineses un cráter poblado de cadáveres y de ruinas, abierto como una herida horrible junto a la Puerta de Brandeburgo y los restos del Reichstag, el Parlamento alemán, incendiado justo a su llegada al poder. La batalla de Berlín, que terminó con Hitler, con el régimen y con la guerra en territorio europeo, dejó el centro de la ciudad en ruinas, la vació de su población y causó varios centenares de miles de muertos civiles y militares y medio millón de prisioneros alemanes. Fue una de las más fieras de la entera guerra mundial y terminó con el Ejército Rojo acampado en sus parques y la entera ciudad y sobre todo sus mujeres a merced de los soldados soviéticos. En el cráter de la batalla de Berlín anidó y permaneció durante cuarenta años más el huevo de la serpiente de otra guerra que amenazó con el espanto de la destrucción nuclear a la humanidad entera, la guerra fría.

También fue en el Berlín dividido en cuatro zonas, una por cada potencia aliada, donde se libró la primera batalla de la sorda confrontación que mantuvieron Estados Unidos y la Unión Soviética, y la última, pues en Berlín se derrumbó el comunismo, 41 años más tarde, a la vez que caía el muro que dividía la ciudad desde 1962. A partir de junio de 1948, durante 10 meses y 23 días, dos millones y medio de berlineses quedaron atrapados en el cerco decretado por las autoridades soviéticas, que cerraron todos los accesos terrestres e impidieron los desplazamientos de las tropas de ocupación aliadas. La jugada fue la respuesta a la introducción del Deutsche Mark, la nueva moneda destinada a convertirse en el motor federador de la Alemania Occidental y en expresión de la fortaleza de su economía. El Kremlin quería obstaculizar la formación del nuevo Estado alemán en el Oeste y que el control de la vieja capital alemana cayera entero en sus manos. No consiguió ni lo uno ni lo otro. El bloqueo aceleró la formación de la República Federal de Alemania, y el puente aéreo organizado por Estados Unidos, que mantuvo a la ciudad abastecida y comunicada durante diez meses, impidió que Berlín cayera como una fruta madura en manos de Stalin.

El puente sobre Berlín fue la mayor operación militar realizada por los aliados una vez terminada la guerra. Participaron 132 aviones norteamericanos y británicos, que realizaban cada uno dos vuelos de ida y dos de vuelta por los tres corredores aéreos establecidos en los acuerdos de ocupación. La opinión pública norteamericana siguió la espectacular operación logística como sólo se siguen las conflagraciones bélicas, en un clima de unidad nacional y de fiebre antisoviética. Estados Unidos confirmó así su compromiso con Europa, después del impacto producido por la instalación de un régimen comunista en Praga unos meses antes, en febrero de 1948.

Berlín, víctima directa del reparto del mundo en zonas de influencia entre Moscú y Washington, protagonizó un segundo episodio trágico el 17 de junio de 1953, cuando los obreros de la construcción que levantaban el bloque 40 de la avenida de Stalin se declararon en huelga y se lanzaron a la calle en manifestación. La protesta se dirigía contra un paquete de medidas económicas que incluía un aumento de los precios, de los impuestos y de la jornada laboral, sin incremento salarial alguno.

la acción de los albañiles berlineses fue como una cerilla que encendió la joven República Democrática Alemana, en el primer levantamiento de masas contra un régimen comunista de la historia, que terminó con la intervención armada de 16 divisiones acorazadas y de 20.000 hombres del Ejército Rojo, y una represión implacable que incluyó un centenar de ejecuciones, millares de detenciones y largas penas de cárcel para un buen número de ciudadanos. Fue un antecedente del levantamiento de Hungría en 1956, de la Primavera de Praga en 1968, de la fundación de Solidaridad en Gdansk en 1980 y de la propia caída del muro en 1989. Bertolt Brecht escribió con tal motivo su poema La solución, que termina con los célebres e irónicos versos en que sugiere que "el Gobierno disuelva al pueblo y elija a otro".

Después del levantamiento obrero y popular de 1953 ya vino la construcción del muro, el episodio infamante con el que el régimen títere de Moscú encerró a su población en un recinto de seguridad, lleno de alarmas y de guardias, para impedir que siguiera la huida masiva hacia el Oeste. La operación, realizada en muy pocas horas en la noche del 12 al 13 de agosto de 1961, convirtió Berlín Occidental en una isla dentro de la República Democrática Alemana, y en una cárcel el entero país bajo dominación comunista. Hasta esta fecha, más de tres millones y medio de personas habían huido del bloque soviético a través de la frontera interalemana, la mayor parte andando o utilizando el transporte público berlinés. Cinco mil más intentaron saltar hasta 1989 aquel muro de 45 kilómetros que iba creciendo en dificultad y en vigilancia, y entre un centenar y dos perdieron la vida en el intento.

Fue otra noche, la del 9 al 10 de noviembre de 1989, cuando culminó y terminó la sincronización trágica entre la historia de Berlín y la del mundo. En unas pocas horas nocturnas terminó la guerra fría con la apertura de los puestos fronterizos al tráfico libre de los ciudadanos del Este hacia el Oeste. Se inició también el camino veloz hacia la unificación alemana, que sólo tardó once meses en llegar, el 3 de octubre de 1990, y el de la recuperación de la capitalidad de la República unificada, que se produjo en 1999 con el traslado del Gobierno y el Parlamento a la vieja ciudad prusiana. Pero ésta ya es otra historia, lejos de la tragedia y de la muerte, aunque nunca del olvido. La capital de la República Federal recuerda en multitud de monumentos y edificios su biografía convulsa, pero lo más destacado es que la herida que cruzó su rostro durante 28 años y el cráter que quedó abierto desde 1945 han sido las zonas donde se ha producido el mayor crecimiento y el mayor cambio en las dos décadas transcurridas desde la clausura de su historia trágica.

domingo, 18 de outubro de 2009

Wolfgang Sperling: "A humanidade é bipolar"


Peter Moon
Época

O vírus da gripe suína surgiu num momento auspicioso – para o vírus, é claro. O agente causador da pandemia iniciou seu assalto à humanidade em abril, no México. Seis meses antes, a quebra do banco americano Lehman Brothers aprofundou a maior crise econômica em 80 anos. Se o mundo não estivesse em recessão, talvez o surto de gripe não tivesse virado pandemia, diz o psiquiatra alemão Wolfgang Sperling, na revista Medical Hypothesis. Sperling culpa os novos meios de comunicação. A rapidez com que a imprensa noticiou a falência do Lehman e o surto no México gerou ondas globais de pânico, só comparáveis à alegria gerada pelos primeiros sinais de retomada. Esse fenômeno faz a população oscilar entre a euforia e a depressão. “Se a humanidade fosse um paciente, ela seria bipolar.” A entrevista é de Peter Moon.

Como o senhor vê a reação global à quebra do banco Lehman Brothers, em setembro de 2008?

O que houve foi um efeito dominó. A quebra do Lehman Brothers desencadeou uma reação em cadeia global de pânico nos mercados financeiros, levando à quebra de outros bancos, e assim por diante. Tudo se deu muito rápido. Em questão de minutos, a onda de pânico deu a volta ao mundo, atingindo praticamente todas as pessoas com conexão à internet. Quando se analisa aquela reação em cadeia global, percebe-se que as novas mídias tiveram papel crucial na crise. O Lehman Brothers foi apenas a primeira pedra. A culpa da crise é dos meios de comunicação.

O senhor diz que a pandemia é uma consequência da crise. Como assim?

Eu enxergo a pandemia como um efeito indireto da crise global. O novo vírus influenza A(H1N1) surgiu no México, em abril. Apesar de não ser mais perigoso que o vírus da gripe comum, o H1N1 deu origem a uma pandemia. O que explica a eclosão da pandemia é a existência de uma conexão entre o surgimento do H1N1 e a crise mundial. Essa conexão são os meios de comunicação.

É uma hipótese muito ousada.

Não, não é. Há precedentes. Esta não é a primeira vez que uma pandemia sucede a uma crise econômica. Quem se lembra da síndrome respiratória aguda grave (Sars, de suas iniciais em inglês), uma forma letal de resfriado que matou 800 pessoas na China e no Canadá, em 2003? A Sars foi a primeira pandemia do século XXI. Ela ocorreu após o estouro da bolha da internet, em 2000, e os ataques de 11 de setembro de 2001. Hoje, temos a gripe suína.

Mas qual é o papel dos meios de comunicação nessa história?

Eu não conseguia entender como podíamos ter duas pandemias num espaço tão curto de tempo. A resposta veio quando analisei os aspectos econômicos e tecnológicos da questão. No mundo globalizado, as pessoas viajam de um continente para outro em menos de um dia. Elas estão conectadas 24 horas por dia. As condições estavam dadas para que os meios de comunicação pudessem incendiar o planeta com a notícia da quebra do Lehman. Fizeram o mesmo com o H1N1. Não importa o lugar, Alemanha, Brasil ou Fiji, todos sabem o que é a gripe suína. Há cem anos, ninguém saberia.

Ainda não está clara qual seria a conexão entre a crise e a pandemia.

A primeira vez que uma crise mundial e uma pandemia ocorreram em sucessão não foi em 2009, com o H1N1, nem em 2003, com a Sars. Foi no fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o pior conflito que a humanidade viveu até então. A Grande Guerra foi o primeiro evento global, que conectou todo o planeta. Em 1918, após quatro anos de conflito e 10 milhões de mortos, as pessoas estavam cansadas, famintas, sem esperança. Os milhões de soldados nas trincheiras da Europa tinham vindo de todos os cantos do mundo e não queriam mais lutar. Não viam sentido no conflito. Foi quando eclodiu a Gripe Espanhola de 1918. Ela deu a volta ao mundo em seis semanas, mas a população só soube disso muito depois. A diferença entre 1918 e 2009 é que hoje, graças às telecomunicações, nossa sociedade é transparente. Sabemos o que ocorre do outro lado do mundo em tempo real. A crise bancária foi um produto dessa sociedade transparente.

O crash da Bolsa de Nova York, em 1929, não antecedeu a uma pandemia?

É, mas o crash de 1929 talvez tenha sido mais localizado. Não foi uma crise global que contaminou todos os mercados financeiros, pois eles não eram interligados como hoje. Em tempos de globalização, se um banco alemão tem problemas de caixa, isso pode refletir imediatamente em bancos no Brasil. Não foi assim em 1929. Por isso, aquela crise não pode ser comparada à de hoje.


Mas recessões e guerras são eventos independentes de uma pandemia.

Não, não são. Graças às telecomunicações, todo o mundo sabe tudo o que acontece o tempo todo. Esse bombardeio de informações cria sentimentos de euforia e de depressão. Na medicina, um paciente que alterna estados de euforia e depressão sofre de síndrome bipolar. Emoções semelhantes estão por trás dos movimentos de alta e baixa do mercado acionário. Não é novidade. Em 1996, Alan Greenspan, o então presidente do Federal Reserve (o banco central americano), alertava para o risco do que chamou de “exuberância irracional dos mercados”. Era o período de euforia da bolha da internet. Quando ela estourou, em 2000, a euforia deu lugar à depressão. É o que vemos hoje. O incrível é que o sentimento de depressão que se alastrou pelo mundo há um ano já está sumindo. As Bolsas voltaram a subir – sem razão aparente alguma. É o mesmo processo. Ninguém pode detê-lo. O mesmo se dá com a pandemia. Não se pode contê-la. Essa é a conexão entre dois eventos muito diferentes, um na esfera econômica, o outro na esfera da saúde. A humanidade sofre de síndrome bipolar global.

Síndrome bipolar global (SBG)?!?

A síndrome bipolar é a alternância brusca entre dois sentimentos muito diferentes que causam ansiedade. De um lado, temos as emoções ligadas ao estado de depressão. De outro, aquelas ligadas ao estado de euforia, o que chamamos de manias. Para mim, a humanidade começa a manifestar claramente momentos de alternância emocional entre a euforia e a depressão.

A humanidade está doente?

A psicose bipolar é uma forma de doença psiquiátrica. Se olharmos os acontecimentos dos últimos anos, veremos que a SBG é o fator definidor de tudo o que vem acontecendo no mundo – não só na órbita da economia. Esse fenômeno faz parte das transformações causadas na sociedade pelo advento dos novos meios de comunicação.

Quais são os sintomas da SBG?

Os principais sintomas são uma ansiedade incontrolável e a dificuldade de reagir de modo adequado aos problemas. No limite, os sintomas se assemelham aos de um paciente com síndrome do pânico. Quem sofre de pânico escolhe fugir dos problemas, deixar tudo para trás. Jamais enfrenta a situação que causa o pânico para buscar uma solução. Na SBG acontece o mesmo. Quando um banco quebra, todos saem correndo.

Então, a SBG seria a conexão entre a crise global e a pandemia?

Sim, mas de forma indireta. O sentimento global de depressão age como um facilitador para o advento da pandemia. Há uma relação clara entre os humores da economia e a saúde pública. Vivemos numa sociedade de consumo, materialista. Todos sabemos como a falta de dinheiro pode fazer mal à saúde. Ela atrapalha nossos relacionamentos, causa tensão, ansiedade e insônia. Está provado que o aumento dos níveis de estresse está relacionado a uma redução na capacidade de defesa do sistema imune. Logo, é razoável supor que uma crise econômica mundial afete o sistema imune de centenas de milhões de pessoas. E é quando a humanidade está com a saúde fragilizada que eclodem as pandemias.

Há cura para a SBG?

Precisamos criar alguma forma de terapia global. Por analogia, há vários meios para tratar um paciente com pânico. Usam-se remédios com a função de acalmá-lo. Não por acaso, acalmar os mercados é a prescrição usada pelas autoridades para deter o efeito manada nos momentos de pânico. O mesmo se aplica aos meios de comunicação. Acalmar a mídia significa dizer: “Não reajam tão rápido, alardeando o mundo de que há uma nova crise. Esperem!”.

Isso é censura.

Se quisermos interromper esse comportamento irracional coletivo, será preciso agir com despotismo. Esse é o problema que devemos enfrentar.

sábado, 17 de outubro de 2009

Los crimenes de guerra de Israel en Gaza

Juan Miguel Muñoz
El País

En la guerra de Gaza del invierno pasado no hubo color. Israel arrasó, causó 1.400 muertos, gran parte civiles, y destrozó la infraestructura económica de la franja. Pero en el campo político y de la opinión pública, el panorama es diferente. Pese a su feroz campaña diplomática -incluidas tensas conversaciones con primeros ministros de países occidentales-, el Gobierno israelí ha fracasado a la hora de impedir que el informe del juez surafricano Richard Goldstone, que imputa crímenes de guerra a Israel, sea respaldado por el Consejo de Derechos Humanos de Naciones Unidas. Este organismo aprobó ayer una resolución que insta al Consejo de Seguridad a remitir el caso al Tribunal Internacional de La Haya si el Gobierno hebreo rechaza llevar a cabo una investigación creíble sobre las imputaciones vertidas en el informe.

Si los boicoteos académicos, financieros, comerciales y militares a Israel ganan pujanza paulatinamente, en el ámbito de la alta política, el Gobierno de Benjamín Netanyahu ha patinado esta semana con sus socios occidentales. El primer ministro israelí trató de persuadir al secretario general de la ONU, Ban Ki-moon, para que expresara su rechazo al informe. "No puedo intervenir", replicó Ban. Lo mismo intentó con el premier británico, Gordon Brown. Nuevo resbalón. El ministro de Defensa, Ehud Barak, apremió a la secretaria de Estado, Hillary Clinton, para que a su vez convenciera a sus socios en Londres y París. Ni por esas.

Sólo EE UU, Italia, Holanda, Hungría, Eslovaquia y Ucrania votaron en contra de la resolución respaldada por China, Rusia, y hasta 25 países árabes o musulmanes y del tercer mundo. Reino Unido y Francia rechazaron participar. Otros 11 Estados se abstuvieron.

En Israel el asunto suscita enorme preocupación. No porque piensen que el expediente concluya finalmente en el Tribunal Penal Internacional. Antes debería tramitarse en el Consejo de Seguridad, instancia en la que el veto estadounidense podría jugar su papel tradicional. Pero, ¿ha echado Washington toda la carne en el asador para impedir que prosperara la resolución? EE UU se opuso, sí, pero al igual que Londres y París -que eludieron votar en contra- ha presionado al Gobierno israelí para que forme una comisión de investigación, precisamente lo que exige el informe Goldstone. Es evidente que Netanyahu no disfruta del beneplácito a ciegas de Barack Obama del mismo modo que su antecesor, Ehud Olmert, tuvo el de George Bush.

El requerimiento al movimiento islamista carece de relevancia. Sería impensable que Hamás -que animó a "perseguir en los tribunales a los criminales sionistas"- negara su implicación en el disparo de cohetes contra suelo israelí. Pero será igualmente complicado que el Gobierno de Netanyahu acepte crear una comisión de investigación. Se niega, entre otros motivos, porque ello supondría desacreditar a su Ejército, que asegura haber investigado lo sucedido y rechaza toda responsabilidad. Casi nadie en el mundo concede legitimidad a una investigación de quien se constituye en juez cuando además es parte. A juicio de la cancillería israelí la decisión del consejo es "injusta" y "alienta el terrorismo". Así las cosas, la disputa en el organismo internacional supone otro escollo -Israel ha advertido de que bloqueará las negociaciones aún no nacidas si el proceso en la ONU sigue adelante- añadido a los esfuerzos de Obama por relanzar el proceso de paz. Cunde, otra vez, el pesimismo.

ONU aprova relatório sobre crimes de guerra em Gaza

Agencias

O Conselho das Nações Unidas para os Direitos Humanos aprovou um relatório controverso, nesta sexta-feira, que acusa Israel de "ações equivalentes a crimes de guerra, possivelmente crimes contra a humanidade" durante a guerra contra Gaza ocorrida entre dezembro e janeiro, numa das mais graves acusações contra o país já feitas pela comunidade internacional. A resolução aprovada com o apoio de Brasil, China, Rússia e India, mas com a resistencia dos EUA e de alguns países europeus, vai além da investigação da ONU sobre a guerra e culpa Israel pelo cerco aos palestinos de Gaza.

O relatório, baseado em uma missão de sondagem liderada pelo ex-jurista sul-africano Richard Goldstone, pede que ambos os lados envolvidos investiguem independentemente as supostas violações mencionadas no documento. O relatório foi aprovado em Genebra, na Suíça, por 25 votos a favor, 6 contra e 11 abstenções.

As hostilidades começaram no dia 27 de dezembro de 2008, quando Israel lançou uma ofensiva contra o lançamento de mísseis realizado por Gaza em direção a cidades israelenses do sul do país. O conflito terminou no dia 18 de janeiro. O conselho pretende encaminhar o relatório para a Assembleia Geral da ONU. O documento pede que o Conselho de Segurança monitore as investigações e que, se em seis meses as investigações não forem dadas como satisfatórias, o documento recomenda que a questão seja entregue ao Tribunal Internacional de Haia.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

En marcha por otro modelo agrario

Darío Aranda
Página 12

La Organización de Naciones Unidas para la Agricultura y Alimentación (FAO) informó este año la existencia de 1020 millones de personas con hambre, el 15 por ciento de la población mundial. Durante los últimos cincuenta años, la FAO –en sintonía con el sector privado, el Banco Mundial y la Organización Mundial del Comercio (OMC)– insistió en aumentar la producción de alimentos para que ésta derrame sobre las poblaciones en riesgo. “Es una falsa verdad que a mayor producción, menos hambre. Se ha demostrado que esa lógica produjo más hambre y sólo benefició a las empresas, con mayores ganancias. Por eso reclamamos un cambio de modelo”, explicaron desde el Movimiento Nacional Campesino Indígena (MNCI), que hoy se moviliza por el Día Mundial por la Soberanía Alimentaria, un modelo que privilegia la agricultura familiar, contrario a los agronegocios actual. Centenares de campesinos, hombres y mujeres de una decena de provincias, acampan desde ayer frente al Ministerio de Agricultura –a la espera de ser recibidos por autoridades políticas– y marcharán hoy a Plaza de Mayo con sus reclamos históricos.

Soberanía alimentaria es un concepto desarrollado por la Vía Campesina, un movimiento internacional, presente en 56 países, de pequeños productores, trabajadores rurales, indígenas y familias sin tierra. Es el derecho que tienen cada Estado y pueblo a la alimentación y a definir su modo de producción de alimentos de acuerdo con sus propias necesidad, dando prioridad a las economías y mercados locales, y fortaleciendo a los campesinos y a la agricultura comunitaria.

“Lamento anunciar que jamás en la historia de la humanidad ha habido tantas personas que padecen hambre, la mayoría viven en países en vías de desarrollo”, señaló recientemente ante la prensa el director general de la FAO, Jacques Diouf, que insistió con aumentar la producción como posible solución. En la Cumbre Mundial sobre la Alimentación 1996, la FAO se había fijado como meta reducir a la mitad el número de desnutridos para 2015. “Es un objetivo irrealizable”, reconoció Diouf, y aceptó la necesidad de “un nuevo orden alimentario mundial”.

En 1997 había 825 millones de personas con hambre. En 2006 había crecido a 873 millones. Y en 2009 llegó a su record histórico: 1020 millones. En Latinoamérica aumentó un 13 por ciento la cantidad de personas con hambre (se pasó de 47 a 53 millones).

Diego Montón, del MNCI-Vía Campesina, resaltó que en la actualidad “se producen suficientes alimentos para toda la población mundial. El problema no es de producción de alimentos, sino de cómo se producen, quién los produce, cómo se distribuyen y cómo se tiene acceso a los mismos”.

Por ese motivo, los campesinos de Argentina rechazan el modelo de agronegocios actual –que tiene a la soja como emblema–, proponen fortalecer la producción comunitaria y tradicional de alimentos, y exigen una política integral hacia el sector campesino indígena. Advierten que no han tenido ninguna respuesta de la Secretaría de Desarrollo Rural y Agricultura Familiar (a más de un año de su creación, inicialmente como subsecretaría) y afirman que acamparán frente al Ministerio de Agricultura hasta ser recibidos por una autoridad política.

Junto con el Frente Popular Darío Santillán y otro medio centenar de organizaciones sociales, marcharán hoy desde el Ministerio de Agricultura hasta Plaza de Mayo, donde habrá intercambio de semillas criollas y un recital. “La tierra, el agua y los bienes naturales deben cumplir una función social, en manos de campesinas e indígenas que produzcan alimentos para los mercados locales, no forraje (soja) para los animales del primer mundo”, explica la convocatoria. Además de soberanía alimentaria, exigirán una reforma agraria integral (que garantice a las comunidades poder vivir y producir en sus tierras), el freno a los desmontes y denunciarán la represión y criminalización del sector.

“El agronegocio intenta desplazar a la agricultura familiar y campesina, con todo tipo de prácticas ilegales y violentas que a veces cuentan con la complicidad de funcionarios corruptos. Miles de familias campesinas están siendo expulsadas del campo por la acción del agronegocio. Miles de hectáreas de bosques nativos han sido deforestadas por acción del agronegocio. Desde Vía Campesina sostenemos que el agronegocio es contradictorio con la agricultura campesina y la lucha contra el hambre”, explicó Montón.

Según el Centro de Informaciones de Naciones Unidas, en los últimos 50 años la producción mundial de alimentos “aumentó de forma vertiginosa, incluso más que la tasa de la población mundial”. Sólo entre 1990 y 1997 la producción per cápita de alimentos creció un 25 por ciento, sin embargo el hambre aumentó.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A política como prática cotidiana

Vitor Vogas
A Gazeta

Você liga a TV e vê a notícia sobre o novo rombo nos cofres públicos. Abre o jornal e se informa sobre a CPI recém-instalada. Pelo rádio, fica sabendo da "última de Brasília". Os sintomas não deixam a menor dúvida: as instituições políticas brasileiras vivem uma grave crise ética, catalisada, é claro, pelos sucessivos escândalos do Congresso.

Como reflexo, as pessoas vêm perdendo a fé na política e deixando de ver nela o terreno por meio do qual é possível promover transformações positivas em suas vidas. Dessa descrença decorre outro fenômeno ainda mais grave do que a desmobilização: os cidadãos não só se recusam a participar da vida política, como vêm adquirindo um sentimento de repulsa por tudo o que esteja relacionado a ela, a tal ponto que esse desprezo teria virado questão de afirmação social. Contrariamente, as pessoas que ainda enxergam a política como meio de transformações sociais vão ficando isoladas.

Remando contra tudo isso, o sociólogo paulista Marco Aurélio Nogueira sai literalmente "em defesa da política", título de uma de suas obras, publicada em 2001. No livro e nesta entrevista, o professor da Unesp, citado com frequência nos discursos do governador Paulo Hartung, afirma que, por mais desacreditada que esteja a política, é preciso que cada cidadão a pratique cotidianamante e busque aprimorá-la naquilo que está a seu alcance. Até porque, diz o autor, do contrário estaremos caminhando para o caos e a barbárie, num mundo sem respeito às regras, em que o individualismo prevaleceria sobre a coletividade.

Como o senhor define a ideia de política hoje?

A ideia tem uma bifurcação: de um lado, a conquista, a conservação e o uso do poder; do outro, a construção de laços de convivência entre as pessoas. Esses dois sentidos têm convivido ao longo do tempo. No mundo moderno, prevalece o conceito de política associado ao poder. Mas ganhamos mais ao entender que nenhuma comunidade pode se estruturar no mundo atual se não praticar as boas normas da política como construção de espaços coletivos.

Num momento em que atividade política está tão desacreditada, por que ainda defendê-la?

Se quisermos trabalhar com esse conceito mais ampliado, defender a política é defender as próprias condições de sobrevivência da sociedade brasileira. Se, por um passe de mágica, eliminarmos a política da nossa existência, não ficaremos apenas livres do Congresso, dos partidos e dos políticos, mas também de tudo o que nos dá condições para interagirmos de maneira organizada. Vale a pena defendê-la porque, quando falamos em Política com P, estamos falando também de honestidade e lisura. Defender a política contra eventuais atos de corrupção é defender a recuperação dessa dimensão da idoneidade, que permanece extremamente importante.

Apesar de todo o otimismo, o senhor mesmo reconhece que "o quadro geral é de descrença e de desilusão". No caso concreto brasileiro, quais são as consequências imediatas que o senhor observa a partir da crise, em termos de interesse e participação popular?

A principal consequência é o aumento da desilusão. Os maus exemplos dos políticos funcionam como uma dose adicional de jato frio nos cidadãos que já não estão muito empenhados na atividade política. No Brasil e no mundo, vemos um retrocesso das pessoas em termos de engajamento político. O cidadão típico do século XXI não é mais o cidadão disposto a sacrificar uma parte de seu tempo para defender causas de interesse comum. Os jovens, por exemplo, estão muito afastados da política prática, não só em termos de engajamento como de interesse pelos fatos políticos, ainda que possam ter preocupações sociais.

À medida que não depositam mais as expectativas nas instituições políticas, as pessoas se voltam para outras formas de organização, como igrejas, organizações não-governamentais, ou, no caso dos jovens, a internet?

Sim, e isso pode ser traduzido de duas maneiras: tomando particularmente os jovens, porque são a maioria da população brasileira, pode ser uma espécie de fuga para nichos de convivência que de certo modo escapam dos nichos da vida real; por outro lado, há um refluxo em direção à defesa de causas cada vez mais específicas, sintoma de um mundo em que o individualismo prevalece fortemente. As pessoas passam a colocar as suas causas como mais importantes do que as causas dos outros.

O senhor afirma que o mundo atual fez da política "uma espécie de grife", e que "ser contra os políticos é hoje um esporte mundial". Por quê?

Por onde andamos no Brasil, ouvimos as pessoas falarem mal da política e dos políticos. Ser contra os políticos virou indicador de modernidade, como se todos eles fossem sinônimos de atraso e a própria política fosse inconveniente para a modernização da sociedade. Na verdade, vislumbramos um processo de muita afirmação da economia de mercado e do trabalho produtivo contra a política.

Por essa generalização, "não haveria políticos que prestassem". O que há de verdadeiro na afirmação e até que ponto ela não ocultaria um pretexto para o comodismo?

Não há nada de verdadeiro. É uma ideia tosca que aparece como desdobramento desse refluxo a que me referi. As pessoas se desvinculam das questões mais gerais, se aprisionam às questões particulares, e a melhor maneira de justificar isso é atribuir ao conjunto dos políticos uma amoralidade que, por definição, faria com que a política se tornasse algo prejudicial ou até desnecessário para a sociedade.

O fatalismo e a resignação que o senhor observa não seriam um "prato cheio" para a ascensão de populistas?

Sim, é um trampolim para a emergência de lideranças que se apresentam à população como salvadoras da pátria. Isso tem a cara do mundo em que estamos vivendo, onde vários políticos fazem um discurso desse tipo. É como se dissessem: "Não liguem para a má qualidade dos partidos e instituições políticas. Basta que confiem em mim."

Esse conjunto de fatores estaria levando as pessoas ao fenômeno do "esquecimento da política". Mas e quanto aos políticos? Também eles não teriam abandonado a política, em seu sentido original?

Sem dúvida. Não só os políticos, como os partidos e o sistema eleitoral que dá o palco para a sua atuação. Individualmente, eles não podem ser inocentados, o que não quer dizer que não existam bons exemplos de atuação. Mas algo tem que ser feito para que os políticos recuperem um protagonismo eticamente qualificado para ajudar a sociedade a se reencontrar com a política.

"Políticos ruins existirão sempre. Pode acontecer que uma dada classe política se desqualifique por inteiro em determinados momentos e demore para se recuperar." Mesmo não sendo esta sua referência original, o senhor acredita que esse trecho se aplica aos congressistas hoje?

Com certeza, podemos usar isso no mínimo de maneira cautelar. Se essa desqualificação persistir, podemos assistir daqui a alguns anos a uma completa derrocada da classe política. Ela vai se converter em algo que não serve para nada, o que, no limite, pode levar ao suicídio da vida social.

Ao contrário de liquidar a ação política, esse momento de crise pode ter o efeito de renová-la? Se assim for, a crise pode ser considerada positiva?

Estamos hoje, sobretudo com a crise no Senado, assistindo à expansão de uma crise que contém nela mesma uma saída para o país. É perfeitamente razoável pensarmos a crise de um modo mais positivo. Quando um sistema entra em crise, ele precisa optar em algum momento pela vida ou pela morte. E, com a crise mais recente, o sistema político brasileiro se aproximou muito de um ponto de saturação.

Como um pai pode ser um exemplo ético ao filho quando os representantes do povo não o são? Essa decadência ética tende a se refletir no comportamento social?

Esses maus exemplos acabam de algum modo por repercutir no interior das casas. Mas, quando um cidadão comum assiste a todos esses escândalos, do mesmo modo que assiste a guerras e crimes bárbaros, ele pode, em vez de copiar aquilo que vê, fazer o movimento inverso. Ele próprio pode se transformar num bom exemplo para os outros, tanto dentro como fora de casa. Essa situação de descalabro em que a política se encontra pode tanto produzir um mal-estar geral na sociedade (e produz mesmo) como criar um impulso para que cada cidadão se preocupe mais com o que mostrará aos outros.

Um exercício de imaginação: como seria a sociedade se não houvesse mais a política?

Seria o que Thomas Hobbes (filósofo inglês do século XVII) chamou de "Estado de natureza". Uma sociedade sem regras e padrões de vida civilizada, na qual prevaleceria a lei do mais forte, de cada um por si e de ninguém por ninguém.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Eric Hobsbawm: "Uma nova igualdade depois da crise"

Eric Hobsbawm
La Repubblica

O objetivo de uma economia não é o ganho, mas sim o bem-estar de toda a população. O crescimento econômico não é um fim, mas um meio para dar vida a sociedades boas, humanas e justas. Não importa como chamamos os regimes que buscam essa finalidade. Importa unicamente como e com quais prioridades saberemos combinar as potencialidades do setor público e do setor privado nas nossas economias mistas. Essa é a prioridade política mais importante do século XXI.

O "século breve", o XX, foi um período marcado por um conflito religioso entre ideologias laicas. Por razões mais históricas do que lógicas, ele foi dominado pela contraposição de dois modelos econômicos – e apenas dois modelos exclusivos entre si – o "Socialismo", identificado com economias de planejamento central de tipo soviético, e o "Capitalismo", que cobria todo o resto.

Essa contraposição aparentemente fundamental entre um sistema que ambiciona tirar do meio do caminho as empresas privadas interessadas nos lucros (o mercado, por exemplo) e um que pretendia libertar o mercado de toda restrição oficial ou de outro tipo nunca foi realista. Todas as economias modernas devem combinar público e privado de vários modos e em vários graus, e de fato fazem isso. Ambas as tentativas de viver à altura dessa lógica totalmente binária dessas definições de "capitalismo" e "socialismo" faliram. As economias de tipo soviético e as organizações e gestões estatais sobreviveram aos anos 80. O "fundamentalismo de mercado" anglo-americano quebrou em 2008, no momento do seu apogeu. O século XXI deverá reconsiderar, portanto, os seus próprios problemas em termos muito mais realistas.

Como tudo isso influi sobre países que no passado eram devotados ao modelo "socialista"? Sob o socialismo, haviam reencontrado a impossibilidade de reformar os seus sistemas administrativos de planejamento estatal, mesmo que os seus técnicos e os seus economistas estivessem plenamente conscientes das suas principais carências. Os sistemas – não competitivos em nível internacional – foram capazes de sobreviver até que pudessem continuar completamente isolados do resto da economia mundial.

Esse isolamento, porém, não pôde ser mantido no tempo, e, quando o socialismo foi abandonado – seja em seguida à queda dos regimes políticos como na Europa, seja pelo próprio regime, como na China ou no Vietnã – estes, sem nenhum pré-aviso, se encontraram imersos naquela que para muitos pareceu ser a única alternativa disponível: o capitalismo globalizado, na sua forma então predominante de capitalismo de livre mercado.

As consequências diretas na Europa foram catastróficas. Os países da ex-União Soviética ainda não superaram as suas repercussões. A China, para sua sorte, escolheu um modelo capitalista diferente do neoliberalismo anglo-americano, preferindo o modelo muito mais dirigista das "economias tigres" ou de assalto da Ásia oriental, mas abriu caminho para o seu "gigantesco salto econômico para frente" com muito pouca preocupação e consideração pelas implicações sociais e humanas.

Esse período está quase às nossas costas, assim como o predomínio global do liberalismo econômico extremo de matriz anglo-americana, mesmo que não saibamos ainda quais mudanças a crise econômica mundial em curso implicará – a mais grave desde os anos 30 –, quando os impressionantes acontecimentos dos últimos dois anos conseguirão se superar. Uma coisa, porém, é desde já muito clara: está em curso uma alternância de enormes proporções das velhas economias do Atlântico Norte ao Sul do planeta e principalmente à Ásia oriental.

Nessas circunstâncias, os ex-Estados soviéticos (incluindo aqueles ainda governados por partidos comunistas) estão tendo que enfrentar problemas e perspectivas muito diferentes. Excluindo de partida as divergências de alinhamento político, direi apenas que a maior parte deles continua relativamente frágil. Na Europa, alguns estão assimilando o modelo social-capitalista da Europa ocidental, mesmo que tenham um lucro médio per capita consideravelmente inferior. Na União Europeia, também é provável prever o aparecimento de uma dupla economia. A Rússia, recuperada em certa medida da catástrofe dos anos 90, está quase reduzida a um país exportador, poderoso mas vulnerável, de produtos primários e de energia e foi até agora incapaz de reconstruir uma base econômica mais bem balanceada.

As reações contra os excessos da era neoliberal levaram a um retorno, parcial, a formas de capitalismo estatal acompanhadas por uma espécie de regressão a alguns aspectos da herança soviética. Claramente, a simples "imitação do Ocidente" deixou de ser uma opção possível. Esse fenômeno ainda é mais evidente na China, que desenvolveu com considerável sucesso um capitalismo pós-comunista próprio, a tal ponto que, no futuro, pode também ocorrer que os historiadores possam ver nesse país o verdadeiro salvador da economia capitalista mundial na crise na qual nos encontramos atualmente. Em síntese, não é mais possível acreditar em uma única forma global de capitalismo ou de pós-capitalismo.

Em todo caso, delinear a economia do amanhã é talvez a parte menos relevante das nossas preocupações futuras. A diferença crucial entre os sistemas econômicos não reside na sua estrutura, mas sim na suas prioridades sociais e morais, e estas deveriam portanto ser o argumento principal do nosso debate. Permitam-me, por isso, a esse ilustrar dois de seus aspectos de fundamental importância a esse propósito.

O primeiro é que o fim do Comunismo comportou o desaparecimento repentino de valores, hábitos e práticas sociais que haviam marcado a vida de gerações inteiras, não apenas as dos regimes comunistas em estrito senso, mas também as do passado pré-comunista que, sob esses regimes, haviam em boa parte se protegido. Devemos reconhecer quanto foram profundos e graves o choque e a desgraça em termos humanos que foram verificados em consequência desse brusco e inesperado terremoto social. Inevitavelmente, serão necessárias diversas décadas antes de que as sociedades pós-comunistas encontrem uma estabilidade no seu "modus vivendi" na nova era, e algumas consequências dessa desagregação social, da corrupção e da criminalidade institucionalizadas poderiam exigir ainda muito mais tempo para serem combatidas.

O segundo aspecto é que tanto a política ocidental do neoliberalismo, quanto as políticas pós-comunistas que ela inspirou subordinaram propositalmente o bem-estar e a justiça social à tirania do PIB, o Produto Interno Bruto: o maior crescimento econômico possível, deliberadamente inigualitário. Assim fazendo, eles minaram – e nos ex-países comunistas até destruíram – os sistemas da assistência social, do bem-estar, dos valores e das finalidades dos serviços públicos. Tudo isso não constitui uma premissa da qual partir, seja para o "capitalismo europeu de rosto humano" das décadas pós-1945, seja para satisfatórios sistemas mistos pós-comunistas.

O objetivo de uma economia não é o ganho, mas sim o bem-estar de toda a população. O crescimento econômico não é um fim, mas um meio para dar vida a sociedades boas, humanas e justas. Não importa como chamamos os regimes que buscam essa finalidade. Importa unicamente como e com quais prioridades saberemos combinar as potencialidades do setor público e do setor privado nas nossas economias mistas. Essa é a prioridade política mais importante do século XXI.