domingo, 31 de janeiro de 2010

França: Debate sobre a proibição do uso de véus fechados

Ernane Guimarães & Christophe Forcari
Folha

A psicanalista Elisabeth Roudinesco defende a proibição do véu na França, mas critica o uso político do tema por Sarkozy.

A proposta de proibição do véu fechado -por oposição ao lenço que deixa ver o rosto- vem dividindo a sociedade francesa. A psicanalista Elisabeth Roudinesco, feminista que apoiou a lei proibindo o uso de "símbolos religiosos ostensivos" nas escolas, em 2004, diz que o debate é vítima de uma "confusão" criada por jornalistas e políticos conservadores. A comissão parlamentar que propôs uma lei contra véus usou argumentos políticos: contra a dissimulação do rosto e a afirmação étnica na esfera pública. A UMP, partido do presidente Nicolas Sarkozy, fez campanha pela lei falando em "respeito aos direitos das mulheres".

O tema também tem sido associado ao debate sobre identidade nacional francesa defendido pelo ministro da Imigração, Eric Besson. Grupos muçulmanos denunciaram a proposta como discriminatória, e organizações como a Human Rights Watch dizem que tal lei pode colocar em xeque a liberdade individual. Roudinesco lança em maio no Brasil "Retorno à Questão Judaica" (ed. Zahar), que, em suas palavras, "combate os extremismos" -sejam os da política israelense, sejam aqueles que crescem na Europa. Na entrevista abaixo, as respostas da professora de história na Universidade de Paris 7 alternam reações rápidas e enérgicas e -em seguida a pausas ao telefone- explicações meditadas de seu argumento contra o véu.

Quando se fala da proibição ao véu fechado, trata-se de uma questão de direitos da mulher, de identidade francesa ou simplesmente de racismo?

Essa não é uma boa pergunta. Racismo não tem nada a ver com a questão. E o debate sobre identidade francesa, proposto pelo governo, não tem a ver com o trabalho da comissão sobre o véu integral. Tenha o cuidado de separar bem a tomada de posição do governo francês, extremamente reacionário, da comissão parlamentar que se reuniu para debater o assunto. Não se pode misturar tudo. A identidade francesa não se define. Fala-se então em "identidade nacional", mas a ideia de nação ruiu. Há uma oposição frontal de toda a esquerda francesa contra o debate sobre a identidade nacional. Assinei a petição contra essa iniciativa. Querem que os cidadãos respondam a um questionário do tipo "você canta a "Marselhesa'?", "você gosta de queijo francês?". É absolutamente ridículo, além de não funcionar. É como fazer um questionário sobre a identidade brasileira e, caso você não goste de dançar samba e nunca tenha nadado em Copacabana, seja considerado um mau brasileiro. Quase chegamos ao ponto de ter um governo tão ridículo quanto o [do premiê italiano] Berlusconi. A função presidencial deve representar valores intelectuais; é uma instituição.

A sra. ainda não falou em feminismo.

Esses símbolos religiosos são símbolos de uma servidão feminina, mas se trata de uma servidão voluntária. Na França, quem os usa costumam ser mulheres convertidas. A lei não seria suficiente para lutar contra isso.

As conclusões da comissão parlamentar são corretas?

Sou a favor de uma lei que reafirme a proibição de dissimular o rosto em serviços públicos. É uma questão de identificação. Não é preciso portar identidade, passaporte? Pois a foto precisa bater com o rosto de quem porta o documento. Não é necessário exigir isso na rua, mas sim em serviços públicos. Não se trata de proibir esse ou aquele item do vestuário, mas de evitar a dissimulação. É assim em todo o mundo -exceto, talvez, no Carnaval.

Os muçulmanos na Europa são muitas vezes pobres e pouco integrados às sociedades dos países em que vivem. Abolir o véu é uma forma de a maioria (no caso, francesa) praticar a negação do outro?

Isso é ridículo. Falo como republicana, laica e de esquerda. Lembro que a França é um Estado laico, e que a tolerância religiosa é tanto maior quanto menos confessional for o Estado. E não há racismo contra muçulmanos. Não devemos confundir muçulmanos e imigrantes.

Mas os muçulmanos na Europa, imigrantes ou não, frequentemente vivem em guetos. Não corremos o risco de fazer deles os judeus deste século?

De modo nenhum, pois não há guetos na França. E é claro que os muçulmanos não são os judeus deste século.

O Reino Unido e outros países discutem a proibição ao véu. Acredita que se trata de uma tendência no mundo ocidental?

A França é laica, e o Reino Unido é mais "comunitário". Deixou se desenvolverem o véu, o lenço, usados de modo generalizado, incluindo crianças. Com efeito, eu diria que a Inglaterra cometeu o erro de não ser suficientemente laica, mas comunitarista demais. Isso acabou trazendo problemas, criando guetos. Não tendo lutado suficientemente pela laicidade, a Inglaterra agora se encontra confrontada pela questão do islamismo radical. E é preciso compreender que só os Estados laicos podem garantir um verdadeiro funcionamento democrático. Não se pode, portanto, deixar os religiosos imporem suas leis. Se o fizerem, será uma perda para a democracia. E só a democracia pode respeitar os cultos. É claro que, com a ascensão do islamismo radical, há tentativas de desestabilizar os Estados laicos; portanto não se trata de uma tendência do Ocidente -é um problema político. A vontade de dominação religiosa, em todas as suas formas, é sempre problemática para os Estados democráticos e laicos. Vocês têm esse problema no Brasil, com a ascensão dos evangélicos. Na Europa, temos um crescimento dos fundamentalismos religiosos de todos os tipos, notadamente o católico. É também um grande problema.

Podemos esperar futuramente, como consequência, novas leis na França e em outros países?

Não, pois, no que concerne à Igreja Católica, é mais do que certo que ela tem de obedecer à Constituição do país. Não temos tantos evangélicos quanto vocês, mas temos o catolicismo. A Igreja Católica, extremamente reacionária, se opõe ao aborto, à liberdade dos homossexuais, assim como o islamismo radical também se opõe. É contra isso que os Estados laicos devem lutar. Na França, consegue-se separar a igreja do Estado, mas o perigo fundamentalista existe na Europa, em todos os cantos.

Identidade fraturada

Para Vincent Geisser, sociólogo do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas (Paris) e especialista em islamismo, uma lei que proíba o uso da burca [e do niqab, vestimenta muçulmana que deixa só os olhos expostos] pode provocar grande recuo em termos de identidade.

A lei é a única resposta ao uso da burca?

Fica claro que, diferentemente do uso de um véu simples, o uso da burca se inscreve como parte de um fenômeno sectário e religioso. É aí que está o problema. Muitos muçulmanos se opõem ao uso da burca. Mas esse debate, somado ao debate sobre identidade nacional, contribui para radicalizar as posições na porção mais moderada da comunidade de muçulmanos praticantes. Uma lei assim acarreta o risco de efeitos perversos, os quais teriam como consequência uma forma de vitimização ou de martírio. Pode fazer com que pessoas que inicialmente rejeitavam o uso da burca venham a brandir os estandartes de uma identidade à parte.

Como combater o que pode parecer uma agressão aos princípios do Estado laico?

O uso da burca não representa apenas uma agressão aos princípios do Estado laico, mas à interação social como um todo, não importa o país em que seja praticado. Ele é sintoma de uma identidade religiosa que faz com que as pessoas contraiam, como se fosse doença, uma certa forma de pureza de identidade. A comissão parlamentar deveria debater a questão dos sectarismos religiosos em seu todo. A lei acarreta o risco de agravamento da fratura de identidades e comunidades, e os legisladores deveriam, na verdade, tentar reduzir esses riscos. Os proponentes dessa lei são aprendizes de feiticeiro.

Como impedir desvios sectários e religiosos?

Para começar, estamos falando de movimentos fortemente minoritários, mas que têm interesse em uma lei que permita que posem como mártires. Eles dispõem de grande capacidade de influência, com alcance bem superior ao de seus círculos. Aproveitam-se dos pequenos traumas causados àquelas pessoas que se sentem, a um só tempo, muçulmanas e francesas.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Zinn, rebelde que invitaba a hacer historia


David Brooks
La Jornada

El historiador rebelde Howard Zinn, quien falleció el miércoles a los 87 años, dedicó su vida a narrar, nutrir y provocar los milagros que rescatan a la humanidad del cinismo, la opresión y la injusticia.

Con su libro A People’s History of the United States (publicado por primera vez en 1980, y que cuenta ya con varias ediciones actualizadas), que suma millones de lectores, cambió la narrativa de este país. En lugar de la historia oficial de presidentes y poderosos, Zinn relató otra en que los protagonistas son los sindicalistas radicales, los esclavos en rebelión, los indígenas, las mujeres, los activistas de los derechos civiles y contra las guerras. Con este libro y otros 20, además de cientos de artículos y discursos, Zinn rescata la memoria de las luchas colectivas y sus héroes, derrotando así la política oficial de promover la amnesia nacional.

La obra de Zinn fue inseparable de su manera de vivir, declaró hoy Noam Chomsky, en entrevista con La Jornada. Agregó que su proyecto básico consistía en “sacar desde lo profundo a incontables personas desconocidas, cuyas acciones son las raíces de los grandes hechos que se registran en los libros de historia. Su visión era que si uno suprime las raíces, tal como se hace convencionalmente, no sólo fracasa en entender qué ocurrió, sino también anula el poder de las personas, ya que no se les permite alcanzar el entendimiento de que son ellas las que pueden cambiar las cosas”.

Chomsky subrayó que “ese trabajo está ligado a su propia vida, eso hacía”, y recordó la participación directa de Zinn en los movimientos de derechos civiles, antibélicos y laborales. “No puedo decir cuántas veces estuvimos juntos en manifestaciones, cuántas veces nos arrestaron a ambos”, rememoró su colega y amigo. “Hasta sus últimos días, continuó trabajando, viajando, siempre muy optimista”, cuenta Chomsky, y eso a pesar de graves problemas físicos que tuvo al final. “Fue encantador. Un ser humano único, no creo que haya muchos como él”, concluyó.

Como maestro universitario –primero en Spelman College, en Atlanta, y después en Boston University– e intelectual, Zinn se dedicaba a generar el cuestionamiento del poder. “Yo deseaba que mis estudiantes se fueran de mis clases no sólo mejor informados, sino más preparados para abandonar la seguridad del silencio, más preparados para responder en voz alta, para actuar contra la injusticia donde ésta se presentara. Esto, claro, era una receta para atraer problemas”, escribió.

Sus alumnos, tanto los que asistieron a sus clases como los que leyeron sus libros o lo escuchaban en conferencias, foros, acciones de protesta y congresos, están por todo el mundo. El deseo de Zinn era que se volvieran parte de la historia de rebeldía contra la injusticia, la guerra y la opresión. Es decir, el historiador rebelde los invitaba a hacer historia.

Entre quienes se cuentan como sus discípulos hay figuras famosas, como la escritora Alice Walker (El color púrpura, alumna de Zinn en Spelman College), quien hoy, en entrevista con el noticiario Democracy Now habló de la enorme vitalidad de su maestro y de su valentía no sólo en las aulas sino en acciones callejeras con sus estudiantes. Además, dijo, “mi profesor era una de las personas más graciosas que jamás he conocido, y solía decir las cosas más extraordinarias en los momentos más sorprendentes”.

Otros que lo consideran “su maestro”, y quienes participaron en proyectos con él, incluyen al actor Matt Damon (creció como su vecino), Bruce Springsteen (dicen que su disco Nebraska fue influido por los escritos de Zinn), Tom Morello, el cantautor Steve Earle, y actores como Sean Penn, Danny Glover, Tim Robbins, Morgan Freeman y Marisa Tomei, entre otros. Pero tiene millones de admiradores más que no son famosos, algunos que han descubierto otra historia, contada desde abajo por primera vez, a través de su obra; otros que han aceptado su invitación a la disidencia, la resistencia y la rebeldía. A sus 87 años, Zinn era uno de los pocos intelectuales que gozaban de la confianza y respeto de los jóvenes en este país.

Hijo de trabajadores europeos judíos inmigrantes, Zinn fue criado en colonias proletarias de Brooklyn, y después de casarse vivió en el Lower East Side de Manhattan. Trabajador en el puerto de Nueva York, en los astilleros y como cargador en almacenes, son algunos de los oficios que ejerció mientras estudiaba en las universidades de Nueva York y Columbia (donde recibió su doctorado en historia, con una tesis sobre el político progresista Fiorello LaGuardia).

Se sumó a la guerra contra el fascismo y fue bombardero durante la Segunda Guerra Mundial. Pero al visitar los lugares que atacaron desde los cielos, especialmente después de enterarse de las terroríficas consecuencias de la bomba atómica en Japón, Zinn decidió que toda guerra es injustificable, y por el resto de su vida se dedicó a esta causa. Junto con Chomsky, fue uno de los primeros intelectuales en sumarse al movimiento contra la guerra en Vietnam. Zinn cuenta que conoció a Chomsky en 1964 cuando ambos viajaron a Missisipi para protestar contra la detención de activistas de derechos civiles, y que después el movimiento antiguerra los acerco más y desde entonces habían sido amigos.

En 1967, el dramaturgo e historiador publicó Vietnam: la lógica del retiro, el primer libro sobre el tema en hacer un llamado a un retiro inmediato e incondicional de tropas. Junto con el famoso sacerdote católico radical Daniel Berrigan, viajaron a Vietnam del Norte en 1968 para recibir a los primeros tres prisioneros de guerra entregados por las fuerzas de liberación. Fue en la casa de Zinn donde Daniel Ellsberg, el funcionario del Departamento de Defensa que se volteó contra la guerra, escondió los que serían llamados los Pentagon Papers antes de ser publicados en los medios de comunicación nacionales, documentos secretos oficiales que demostraban el fracaso de la guerra cuya publicación fue un paso decisivo para marcar el principio del fin de ese conflicto bélico. En sus últimos años gozó en crear otras maneras de hacer contemporáneas las voces disidentes y rebeldes del pasado a través de películas, obras en vivo y por televisión y el universo cibernético.

Realizó una serie de “lecturas” en voz alta por el país con reconocidos actores, poetas y músicos. Se tomaban turnos para leer, declamar o cantar selecciones de figuras rebeldes conocidas y desconocidas de la historia de Estados Unidos, todo esto introducido por Zinn. Discursos, cartas, ensayos y canciones de lucha, ira, denuncia y gritos por la justicia y contra las guerras a lo largo de la historia de este país resonaban ahí. Así, convocó a los héroes populares del pasado para guiar, apoyar y alentar a los héroes del presente en el movimiento de resistencia en Estados Unidos.

Un documental que registra este esfuerzo acaba de salir a la venta, The People Speak. La película fue presentada el año pasado en el festival de Sundance, y después en la ciudad de Nueva York, antes de ser trasmitido a escala nacional en diciembre por la televisora History Channel.

En uno de estos encuentros, en Nueva York hace un par de años, Zinn introdujo el espectáculo así: “Éstas son las voces no de la historia oficial, sino de los que han resistido, de los disidentes, gente trabajadora, socialistas, anarquistas, los que se opusieron al establishment en nombre de la paz y la justicia para todos. Ellos son la voz de los desafiadores, porque esa es la que necesitamos. Tenemos que alentar a la gente a desafiar este sistema, tenemos que hacer algo, esto es más bien un llamado a la acción”.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Barkat: "La lucha de clases se ha trasladado al interior de cada trabajador"

J. M. Martí Font
e-valencia

Sidi Mohamed Barkat, que fue director del Colegio Internacional de Filosofía de París combina su condición de académico en la más pura tradición de la excelencia francesa, con sus orígenes argelinos, lo que le ha permitido investigar en el campo de las identidades de los individuos y hurgar sin trabas en la memoria de la colonización o el terror como arma política. Los franceses contra el terror de Estado. Argelia 1954-1962 y Les artifices du pouvoir colonial et la destruction de la vie (Éditions d'Amsterdam, 2005), son dos de sus obras más importantes. Actualmente estudia los cambios sustanciales que se están produciendo en la organización del trabajo y los conflictos que generan.

¿El fordismo, la organización del trabajo surgida del sistema de producción en cadena creado por Henry Ford, ya no rige nuestras sociedades?

Los sindicatos se batían por reducir el número de horas y aumentar los salarios y, en menor medida, controlaban las condiciones de trabajo, pero no tocaban lo que pasaba dentro del trabajo. Un sistema que ha permitido el desarrollo de la sociedad de consumo, el crecimiento económico, pero que no ha tratado la cuestión de la existencia, de la respiración.

¿Dónde respiraban?

Los trabajadores respiraban fuera del trabajo. Con el dinero se podía acceder al mundo, se podía entrar en una comunidad -la comunidad nacional-, un mundo -la civilización- y un espacio -el territorio del país-. Eran objetos de amor y conformaban la identidad.

Ahora ya no respiran...

La nueva organización del trabajo ha cambiado este relato y los suicidios son el grito desesperado de los trabajadores que sucumben. El Gobierno buscó una razón para los suicidios y los atribuyó a problemas personales. Para mí son un grito de revuelta ante una situación que nos desborda y de la que no podemos escapar; el suicidio abre una brecha para poder tomar el aire, es una cuchillada, como lo fue realmente en el caso de un trabajador de France Télécom que en medio de una reunión se clavó un cuchillo en el abdomen. El que se suicida nos convoca para ver lo que los demás no vemos. Nuestra civilización no es consciente de que está produciendo muertos vivientes, zombis.

¿Se trata de una cuestión de productividad? ¿Cuál es el factor determinante de este cambio?

La evaluación individualizada de la productividad crea una división en el interior de la persona. El trabajador ha sido transformado en una especie de empleador de sí mismo. En algunos sectores, ciertamente, se le ha concedido un grado considerable de autonomía, e incluso se puede decir que es más libre. Pero lo que sucede es que una parte de sí mismo -el sujeto- va a emplear a la otra parte -el cuerpo- y le va a pedir una serie de cosas. Si los objetivos que se impone son muy elevados, el sujeto puede pedirle al cuerpo tal vez lo imposible y es así como el cuerpo va a trabajar, no sólo en la empresa, sino fuera de la empresa; por ejemplo, pidiendo al marido o a la esposa que le ayude; formándose a su propio coste. El trabajo ha desbordado completamente su esfera para invadir la esfera de lo privado. Incluso a los trabajadores se les regala material como ordenadores, teléfonos, etcétera.

¿Para ayudarles a trabajar?

En realidad para ayudarles a transportar su trabajo fuera del espacio de su trabajo. Ahí es donde empieza el conflicto entre el sujeto que ordena y el cuerpo que obedece. El cuerpo pensante, que es flexible y ligero, no puede serlo más que manteniendo una cierta economía vital; si se le empuja demasiado lejos, es como una máquina a la que se le pide más de la cuenta y se rompe. En lugar de producir ligereza e invención produce pesadez.

¿De dónde viene esta contradicción?

De las nuevas técnicas de gestión empresarial. Se dijo que los trabajadores ya no tenían razones para sentirse enfrentados al capital; se dijo: hemos hecho del asalariado su propio patrón, ya no hay lucha de clases. Pero el capital -ahora en forma de capital financiero- y el trabajo siguen estando ahí y el conflicto se ha trasladado.

¿Dónde se ha trasladado el conflicto?

Hemos trasladado el antagonismo social al interior del individuo. El conflicto social estaba regulado por las negociaciones entre la patronal y los sindicatos, por las reglamentaciones etcétera y por lo que antes definíamos como la comunidad nacional, la identidad..., pero ahora el conflicto está dentro del individuo, y este conflicto es el que lleva a explotar, el suicidio. Se puede hablar de acoso laboral, de jefes malvados, y es cierto, esto está ahí y hay que denunciarlo, pero no es eso lo que sucede dentro de este individuo que se suicida, no es el patrón, es él mismo. No hay manera de establecer una mediación entre uno y uno mismo.

¿Cuál sería el sistema?

La cuestión fundamental es cómo se hace correr a la gente. Si usted sólo quiere simplemente trabajar, no le darán ese empleo. Por esto se busca sólo a jóvenes, a gente que cree en esa idea de que son ganadores y no perdedores y que están dispuestos a comprometerse en el éxito, que están por la acción; gente que quiere moverse... El movimiento es el elemento determinante. El segundo elemento es la polivalencia y la reestructuración, lo que supone sustituir la existencia. Pero esta misma regla permite que la empresa diga regularmente que no hacen suficiente. La gente corre para atrapar, no sólo el salario, no sólo el reconocimiento, corre por el simple hecho de correr. Cuando se corre se crea un hilo y si uno se para, el hilo se rompe. Correr es trazar una línea. Esta línea no existe. Sólo existe cuando se corre.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Honduras: Asumió el nuevo y se fue el derrocado


María Laura Carpineta
Página 12

Flanqueado por uniformes militares, Porfirio Lobo asumió la presidencia hondureña ayer al mediodía en el estadio nacional de Tegucigalpa. No juró ante una multitud eufórica, sino frente a un campo ocupado por militares y policías rígidos y tribunas a medio llenar de hombres y mujeres vestidos con sus mejores trajes. “Acabamos de salir de la peor crisis política de nuestra historia democrática, pero hemos logrado evitar todos los grandes peligros que afrontaba nuestra nación”, dijo victorioso Lobo luego de acomodarse la banda presidencial. Con ese mismo aire triunfalista anunció su primera medida: la promulgación de una amnistía general. Lo hizo allí mismo y una hora después se lo comunicó en persona al ya ex presidente Manuel Zelaya. No bien cumplió con las formalidades, Lobo fue a la embajada brasileña, junto con sus pares de República Dominicana y Guatemala, para escoltar a Zelaya hasta el aeropuerto, desde donde partió a Santo Domingo. Aunque lo intentó, no lo dejaron despedirse de las decenas de miles de personas que se agolpaban en las rejas que bordean la pista de aterrizaje. Se fue serio, pero tranquilo. “Nos prometió que volverá muy pronto”, aseguró el líder de la Resistencia, Juan Barahona, como autoconvenciéndose.

Fue un viaje ameno, según relató a este diario el ex candidato presidencial de la izquierda, César Ham, quien viajó junto a la comitiva hasta el aeropuerto Toncontín. El veterano dirigente político fue uno de los que repudió el golpe de Estado desde el primer momento y ahora será el titular del Instituto Agrario bajo el mando de Lobo. “Lobo y Zelaya conversaron durante todo el trayecto. Tienen una relación muy antigua, sus familias eran amigas. Además, Lobo contribuyó mucho para que tuviera una salida digna”, explicó el dirigente, recordando la decisión del nuevo presidente de firmar un salvoconducto para el mandatario derrocado y su entorno más cercano. “Lobo se comprometió a continuar fortaleciendo la reconciliación nacional”, agregó, sin disimular el sinsabor que había dejado esa “salida digna”.

Al igual que Ham, las decenas de miles de personas que se concentraron desde temprano para despedir al presidente derrocado estaban convencidas de que Zelaya volverá al pequeño y empobrecido país centroamericano. Las cámaras de televisión extranjeras no mostraron llantos y desesperación, sino un reconocimiento alegre hacia un presidente que resistió casi cinco meses de asedio militar y político. Ayer cientos de policías y militares volvieron a rodearlo y evitaron que se acercara a sus seguidores, como inicialmente tenía planeado.

“Zelaya estuvo dispuesto a irse porque sabe que así continuará la lucha y la resistencia”, explicó Barahona, mientras daba direcciones a sus compañeros para empezar a desconcentrar. Hacía apenas 15 minutos que el avión blanco privado había despegado con Zelaya, su esposa, su hija menor y su abogado y compañero leal, Rasel Tomé. A pesar de su inquebrantable convicción, la desazón se sentía en su voz.

“Hoy recibió el mandato presidencial otro golpista. La Resistencia no reconoció las elecciones y no reconocerá a este gobierno. Por eso continuaremos con la lucha, aunque sabemos que el partido político que asumió con Porfirio Lobo es uno de los más represivos. La política de este gobierno va a ser una continuación de la dictadura. Van a imponer medidas neoliberales y para eso tendrán que reprimir al pueblo”, advirtió el dirigente sindical.

En su discurso de asunción, Lobo habló de impulsar una economía social de mercado, pero anunció que una de sus primeras medidas será aprobar una Ley de Protección de la Inversión Extranjera. “Debemos atraer la inversión extranjera, serán bienvenidos todos. Aquí encontrarán leyes justas y reglas claras, enmarcadas bajo el principio de la responsabilidad social empresarial”, declaró. Uno de sus asesores en la transición le había confiado a este diario hace unas semanas que una de las prioridades del nuevo gobierno será “hacer más eficiente al Estado” y “reducir el enorme gasto público”.

Pero por ahora algunos zelayistas e incluso el mismo Zelaya prefieren esperar antes de criticar a Lobo. “Ayer se firmó una amnistía que de algo va a servir en el proceso de reconciliación nacional. Pero tendrá que trabajar mucho para que la democracia sea una realidad y para que las elecciones sean sólo un primero paso hacia la reconciliación y la restitución del imperio de la Justicia”, aseguró el ex mandatario hondureño, minutos después de pisar suelo dominicano.

Fue recibido con honores de Estado por el presidente Leonel Fernández en un breve acto en la misma pista de aterrizaje. De impecable traje, corbata y gomina, Zelaya tenía un aspecto más descansado que en sus últimas apariciones televisivas dentro de la embajada brasileña y también un tono más moderado y conciliador con sus antiguos enemigos. “Como dijo el subsecretario de Estado norteamericano Arturo Valenzuela, las elecciones no son suficientes para restaurar la democracia. Falta hacer mucho más”, señaló. Según adelantó César Ham, Zelaya se quedará en ese país entre dos y tres semanas, luego partirá hacia Ciudad de México, donde se asentará hasta volver al país.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Piñera ya juega en la campaña de Brasil


Darío Pignotti
Página 12

Lula recomendó a sus aliados conformar un frente unido en respaldo de la candidata petista Dilma Rousseff, para evitar repetir la fractura de la Concertación chilena. Pero los “piñeristas” brasileños desbordan de optimismo.

Conservador, “outsider” y mediático: ése fue el perfil que el ex presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992) vendió a los electores brasileños hace 20 años, una imagen en muchos aspectos similar a la del futuro presidente chileno Sebastián Piñera.

Las analogías cosméticas entre Collor de Melo y Piñera son materia de análisis para expertos en mercadeo electoral, pero la victoria conservadora en Chile es un ingrediente que probablemente contaminará la disputa presidencial en Brasil.

Habrá una puja entre el discurso del oficialista Partido de los Trabajadores (PT) para el cual lo ocurrido en Chile no puede ser trasladado a Brasil, como dijo este fin de semana en Bolivia el asesor presidencial Marco Aurelio García, y la coalición opositora, de socialdemócratas y conservadores, que establece paralelos entre los procesos electorales de ambos países.

Lo cierto es que el “factor Piñera” ya se coló en la disputa por la sucesión del presidente Luiz Inácio Lula da Silva. La campaña fue lanzada de hecho por Lula en una reunión de gabinete de la semana pasada, cuando recomendó a sus aliados conformar un frente unido en respaldo de la candidata petista Dilma Rousseff, para evitar repetir la triple fractura chilena, donde el progresismo llevó como candidatos a Eduardo Frei Tagle, Marco Enríquez-Ominami y Jorge Arrate.

Contrastando con la preocupación de Lula y el PT ante el nuevo mapa político chileno, la derecha brasileña se muestra optimista. Y es que el acaudalado Piñera suscitó una adhesión casi unánime en el pétreo bloque de poder conservador brasileño (político, empresarial e ideológico), el mismo que se encuadró a favor de Collor de Mello hace 20 años.

Para los “piñeristas” brasileños, el resultado de las presidenciales trasandinas del 17 de enero marcaron el “agotamiento” de 20 años de centroizquierdismo representado por la Concertación y presagia el fin del ciclo progresista iniciado por Luiz Inácio Lula da Silva en 2003.

Demócratas, el partido donde se reciclaron los cuadros civiles de la dictadura brasileña y uno de los soportes parlamentarios del efímero mandato de Collor, eyectado del gobierno por corrupción, comparó la fallida elección de Eduardo Frei Montalva con el destino que le aguarda a Dilma Rousseff, la casi segura candidata del Partido de los Trabajadores (PT).

Así como la presidenta Michelle Bachelet fracasó en el intento de inyectar popularidad en Frei, Lula no tendrá suerte al procurar transferir su aprobación del 80 por ciento en su correligionaria Rousseff, razonó el senador Agripino Maia, de Demócratas, activo defensor de Collor en los ’90 y tenido como posible candidato a la vicepresidencia en la fórmula encabezada por José Serra, el precandidato presidencial del Partido de la Socialdemocracia Brasileña (PSDB). Serra está a la cabeza de las encuestas con 35 por ciento de las intenciones de voto aventajando por 10 puntos a la preferida de Lula, Dilma Rousseff.

Hartos de 8 años de “lulismo”, que se cumplirán en diciembre, los “piñeristas” brasileños comenzaron a diseminar la tesis de que el “populismo” tiene los días contados en América latina, donde se avista un horizonte de “libertad y apertura al mundo” del cual el primer paso fue la victoria del dueño de Lan Chile, y el segundo, la reelección del colombiano Alvaro Uribe.

Llevemos esa proclama a los hechos. El “antilulismo” (donde cohabitan derechistas puros y los socialdemócratas liberales del ex presidente Fernando Henrique Cardoso) es un arco surgido hace dos décadas cuando fue necesario fabricar la candidatura de Collor (por entonces un caudillo de provincia ignoto en los centros urbanos, para abortar el triunfo del sindicalista Lula da Silva) que ahora se recicla juntando esfuerzos para contaminar el debate electoral con el “efecto demostración” de la victoria de Piñera.

Y así como en 1989 se elogiaban los perfiles atléticos de los candidatos presidenciales Collor (ex karateca) y Hernán Buchi (cuadro económico del pinochetismo y ex tenista), ahora el marketing pregona enterrar el “asistencialismo” hacia la población humilde y las relaciones amistosas con los gobiernos de Morales, Chávez y Lugo.

Una fuente del PT, consultada por Página 12, ve en Piñera un socio poco confiable que amenazará la consolidación de la Unión de Naciones Suramericanas y formará, junto a Uribe y Alan García, una troika tan próxima a Washington como refractaria a la edificación de un espacio autónomo en América del Sur. Con todo, el vocero petista estima que Chile carece de la envergadura suficiente como para determinar que América del Sur giró a la derecha. Habrá que aguardar el resultado del 3 de octubre en Brasil: por allí pasa el fiel de la balanza.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Islandia, paradigma de la globalización

Juan Martín Seco
Público

Hace unos días, un pequeño país llamado Islandia saltó de nuevo a la actualidad europea. Su presidente se había negado a refrendar el acuerdo suscrito por su Gobierno con el Reino Unido y Holanda y decidió someterlo a referéndum. Según el compromiso aprobado, Islandia tiene que abonar a ambos países 4.000 millones de euros a 15 años y al 5,5% de interés, lo que repercute aproximadamente con unos 12.000 euros en cada uno de los contribuyentes. El motivo radica en la quiebra de Icesave, banco online filial de Landsbanki –uno de los tres grandes bancos islandeses–, que se había dedicado a operar en Europa, especialmente en Gran Bretaña y Holanda. Los gobiernos de estos países tuvieron que indemnizar a los depositantes y ahora exigen a la isla del norte el pago de la deuda.

En los diez últimos años, Islandia fue el paradigma del laissez faire y llevó los principios del neoliberalismo económico al extremo: desregulación, libre circulación de capitales, privatizaciones, carencia de supervisión y control. La banca islandesa se embarcó en una descomunal expansión exterior comprando toda clase de activos financieros. Los tres grandes bancos, Glitnir, Landsbanki y Kaupthing, se declararon en quiebra; entre los tres habían acumulado una deuda de 60.000 millones de euros. Tuvieron que ser nacionalizados. El resultado ha sido terrorífico para la economía de ese país. Para percatarse de la gravedad del problema hay que considerar que Islandia es un país muy pequeño, con 300.000 habitantes y un PIB anual de 14.000 millones de euros. Es decir, que la deuda de su sistema financiero supera en cuatro veces su PIB anual.

Islandia se ha convertido en la manifestación más gráfica de las contradicciones y desatinos que componen eso que llamamos globalización. Entre las incoherencias, no es menor la de defender que los bancos y las empresas son internacionales, pero considerarlos nacionales tan pronto comienza la crisis; e incoherencia es también la desproporción que se da en algunos países pequeños entre las dimensiones del Estado y sus entidades financieras, de un gran tamaño y de las que difícilmente van a poder responder. Existe un hecho que, aunque evidente, se nos había olvidado: que el negocio bancario precisa del respaldo y de la credibilidad del Estado para subsistir. Hay estados, sin embargo, a los que, como a Islandia, les resulta difícil, por su tamaño, conceder tal garantía sin verse ellos mismos en graves dificultades.

La situación actual de Islandia es dramática. Se calcula que cada contribuyente se va a tener que hacer cargo de una deuda de 60.000 euros. Ante la gravedad de la crisis, el Parlamento ha pedido el ingreso en la Unión Europea. El mundo empresarial contempla con avidez la posibilidad de pertenecer a la Unión Monetaria. Su actual ministro de Finanzas, Steingrimur Sigfusson, que en el pasado, desde la oposición, calificaba de espejismo la anterior etapa, no está tan seguro de que el euro sea una buena idea. Se pregunta cuál sería la situación del país si en estos momentos no hubiesen podido devaluar y practicar una política de control de cambios.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O primeiro ano de Obama


Gilles Anquetil & François Armanet
Le Nouvel Observateur

Nome central da ficção dos EUA, Russell Banks diz que, um ano após ser eleito, presidente obteve trunfos no plano interno, mas prosseguiu a política de George W. Bush na área externa.

Russell Banks é um dos mais importantes romancistas norte-americanos da atualidade. Várias obras suas já foram transpostas para o cinema, como "O Doce Amanhã" e "Temporada de Caça" -por, respectivamente, Atom Egoyan e Paul Schrader. Figura de destaque entre os progressistas dos EUA e um dos primeiros a apoiar a candidatura de Obama, Banks faz, no entanto, um balanço duro dos 12 primeiros meses do governo do democrata. Para ele, no plano externo Obama praticamente não se distancia do governo de seu antecessor, George W. Bush. É apenas nos assuntos internos que Obama se afirma de forma mais clara -embora, segundo ele, ainda aqui de modo um pouco decepcionante.

Quais são os êxitos e os fracassos do governo Obama?

Deixemos de lado sua personalidade e sua habilidade retórica. No Iraque e no Afeganistão, nada mudou. Paquistão, Iêmen, Irã, Coreia do Norte? Menos discursos belicosos e moralizadores, mas, no fim das contas, é a mesma coisa de sempre. O conflito israelo-árabe? Cuba? Venezuela? Rússia? China? Até mesmo nas nossas relações com a "velha Europa" -e apesar de uma mudança bem-vinda no tom e na escolha das palavras usadas-, a continuidade entre George W. Bush e Obama é tão manifesta como se tivesse sido John McCain [candidato republicano derrotado] quem tivesse prestado juramento, 12 meses atrás.

As mudanças são superficiais, linguísticas, estilísticas e protocolares. Em outras palavras, são puramente táticas. A estratégia global de longo prazo permanece a mesma. Na política interna, em contrapartida, a diferença entre as Presidências Bush e Obama é perceptível. Nos últimos 25 anos, de Ronald Reagan a Bill Clinton, incluindo os dois, todos os presidentes americanos e seus partidários se esforçaram para desmantelar e privatizar as políticas sociais implantadas por Roosevelt durante a Grande Depressão e, depois, por Lyndon Johnson e Richard Nixon nos anos 1960 e 1970.

Sob esse ponto de vista, o centro da vida política americana deslocou-se progressivamente para a direita ao longo dos últimos 40 anos. E, em um sistema de dois partidos, como o nosso, é o centro que é determinante, especialmente em matéria de política interna e econômica. Ao reagir diante da crise econômica, Obama soube fazer esse centro mover-se alguns graus para a esquerda. Nesse caso específico, as palavras empregadas, o estilo e o tom contribuíram para fazer aplicar uma política que não é a de seus predecessores. A população dos EUA está voltando a pensar que, em uma sociedade industrial moderna, é correto e necessário que sejam subvencionadas as necessidades dos pobres, dos sem-teto, dos doentes e dos idosos. Em outras palavras, Obama fez a opinião pública evoluir em matéria de política interna.

É legítimo ou injusto decepcionar-se com Obama após um ano de mandato? O sr. ainda confia nele?

Um ano é um quarto do mandato de um presidente americano. É o suficiente para ter uma ideia do estado de espírito, das intenções e da competência de um presidente. Quem esperava que Obama se revelasse um progressista determinado a pôr fim a um século de imperialismo americano fora de nossas fronteiras e a construir uma social-democracia moderna entre nós deve estar profundamente decepcionado, porque não é isso o que vai acontecer. Mas é impossível ter esse tipo de expectativa quando se sabe como funciona o sistema político americano.

Quando sabemos, por exemplo, que o senador conservador de um pequeno Estado agrícola como o Nebraska tem tanto poder, e às vezes até mais, que seu homólogo progressista de Nova York e que ele pode usar desse poder para bloquear um projeto de lei reformista. Quando sabemos, por exemplo, que as grandes empresas e os grandes doadores financiam as campanhas eleitorais de todos os parlamentares, dos governadores de Estados, de prefeitos e outros eleitos e até mesmo, em alguns Estados, dos juízes e procuradores. Não somos uma democracia. Somos uma República que se esforça há um século para tornar-se uma plutocracia e que está a caminho de consegui-lo.

Por razões estruturais, e mesmo quando tem a intenção, Obama não tem chance nenhuma de satisfazer as expectativas que suscitou entre as esquerdas americana e europeia. Para sermos honestos, ele não mentiu -muito- para nós nem fez promessas que não poderia cumprir, salvo, talvez, a de fechar Guantánamo em 12 meses. Ouvimos promessas que não existiam. Isso talvez seja compreensível: após oito anos de Presidência Bush, estávamos na situação de um homem ou de uma mulher presos em um casamento desastroso: mesmo que ela não pareça nada de especial, a primeira aventura extraconjugal que se apresenta nos parece irresistivelmente sexy.

O Partido Democrata é leal a Obama?

Em um sistema bipartidário como o nosso, os dois grandes partidos são coalizões -uma coalizão da esquerda e uma coalizão da direita que se entrecruzam e se sobrepõem no centro. Após a Guerra do Vietnã, as revoluções culturais dos anos 1960 e 1970 e o surgimento do fundamentalismo religioso na vida política do país, esse centro se deslocou para a direita. Os oito anos em que os "novos democratas" de Bill Clinton estiveram no comando não mudaram nada. Pelo contrário. Por isso, a coalizão que chamamos de Partido Democrata e da qual Obama é o líder não oficial exprime muito melhor os pontos de vista de conservadores como os senadores Joseph Lieberman (Connecticut) ou Ben Nelson (Nebraska) que os de progressistas como os senadores Bernie Sanders (Vermont) ou Dianne Feinstein (Califórnia).

Os EUA não são uma democracia parlamentar na qual o chefe do partido que ganha as eleições de torna o chefe da nação. É o contrário. O chefe da nação se torna chefe de seu partido, mas isso não quer dizer que ele controle ou representa os interesses do partido. Gostamos de acreditar que o presidente encarna os interesses e a vontade do povo, da totalidade do povo e que, como tal, ele se coloca acima dos interesses dos partidos. Por isso, é inútil queixar-se da hesitação de uma grande maioria democrata no Congresso em unir-se sob a autoridade de um presidente democrata. Não foram os 60 senadores que o elegeram presidente, foram os norte-americanos que o fizeram. E ele só foi eleito porque soube captar as vozes dessa maioria que se define como independente e afirma não pertencer a nenhum partido. Mas não há independentes no Congresso.

Obama está ligado demais às potências financeiras? Será que conseguirá de fato reformar profundamente o sistema que causou a crise?

Na véspera de sua posse, quando ele nos apresentou os homens e as mulheres que recrutou para impedir que a grande recessão se convertesse em uma grande depressão, ficou claro que as pessoas que Obama considerava como as mais qualificadas para fazer a economia americana funcionar eram as mesmas que a tinham posto de joelhos: Timothy Geithner, Lawrence Summers, Peter Orszag, Ben Bernanke e todos os outros. Todos vêm de Wall Street ou do alto mundo financeiro de Washington. Não há entre eles nenhum que represente de algum modo os interesses dos operários, dos pequenos proprietários, dos pobres ou mesmo da classe média. Não há nenhum líder sindical, nenhum militante associativo; não há intelectuais ou acadêmicos independentes.

Um ano mais tarde, a situação melhorou, principalmente para Wall Street e os balancetes dos grandes bancos e instituições financeiras. Para a maioria dos americanos, porém, a situação piorou. Segundo o "New York Times", uma família em cada oito tenta sobreviver sem fonte de receita nem meios para comprar alimentos, exceto os cupons alimentícios financiados pelo governo federal. O índice de desemprego oficialmente contabilizado passa dos 10% da população ativa e aumenta constantemente. Os bancos puderam engordar graças ao dinheiro dos contribuintes, porém os sem-teto proliferam como metástases. Mas os mercados estão em alta, chegando a um nível próximo ao de antes da crise, e os bônus e as opções de ações pagos a banqueiros e corretores de ações não são menos obscenos do que eram um ano atrás. Como muitas crianças carentes criadas sem a presença paterna, Obama é um homem que confia demais na autoridade dos ricos, quando o assunto é economia e gestão das finanças.

Os EUA vêm hesitando em honrar suas promessas em matéria de ecologia e da luta contra o aquecimento climático. Obama será mais ousado que seu predecessor?

Ele é incontestavelmente mais dinâmico e mais audacioso que Bush, mas isso não é muito difícil. Basta ele comparecer a uma cúpula internacional ou enviar um representante que não insulte os outros participantes. Foi o que ele fez, aliás. Mas também, nesse quesito, ele parece estar mais disposto a seguir os americanos do que a lhes mostrar o caminho. Em razão da angústia provocada pela crise econômica, a maioria dos americanos não se preocupa com o desastre ecológico iminente, exceto à medida que afete seu cotidiano. Em épocas de crise, o planejamento de longo prazo é eclipsado pelas necessidades do curto prazo: alimentação, abrigo, atendimento médico, emprego. É um pouco como se uma onda gigante estivesse ganhando força perto do litoral e vindo em nossa direção, enquanto nós nos acotovelamos para garantir um lugar na fila da agência de empregos. O ano que vem não existe para os pobres: as esperanças deles se limitam ao dia seguinte. Para que a população pudesse conceder a Obama o poder de agir de modo voluntarista e inovador diante da crise ecológica, seria preciso que desse provas de imaginação para resolver a crise financeira atual. Coisa que ele não faz.

Os EUA de Obama se tornaram mais respiráveis?

Sim, desde que você não inspire muito profundamente. Apesar das críticas e das reservas que apresentei, é muito mais agradável ouvir Obama do que ouvir Bush, se você dá valor às palavras. E, se por acaso você prefere ter um presidente moderno, plugado na internet e elegante, se você prefere que ele tenha senso de humor, seja espirituoso e nutra um respeito sadio pela arte e a cultura, se você prefere que ele tenha lido alguns livros de história e filosofia e que se recorde de suas leituras, então, sim, os EUA hoje são um lugar culturalmente mais agradável do que foram nos oito anos anteriores.

Se você deseja que o presidente reflita a diversidade da população em suas próprias origens raciais e familiares, então é um alívio ter um presidente cujo pai é africano e cuja mãe veio do Kansas, um homem cuja mulher é descendente de escravos afro-americanos e cujas duas filhas pequenas são o retrato vivo das colegas de classe ideais que você desejaria para seus próprios filhos. Mas, se você inspirar mais fundo, os EUA de Obama não são mais respiráveis do que foram os EUA dos anos Bush.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Chile: Reflexões pós-ressaca



Laura Greenhalgh
Estado de S. Paulo

O sociólogo Manuel A. Garretón explica a guinada à direita do Chile ao levar à presidência o senador e bilionário Sebastián Piñera. E critica a encruzilhada da Concertação que, em 20 anos, não se renovou nem soube capitalizar a popularidade de Michelle Bachelet.

"Desde 1988, quando partidos se uniram para enfrentar o plebiscito que disse "não" à pretensão de Pinochet manter-se no poder, a Concertação vem liderando um processo que mudou a sociedade. Foi a coalizão mais bem-sucedida da história do país. Ganha todas as eleições desde 1990, deu-lhes estabilidade, fortaleceu a democracia." Ouvi de Michelle Bachelet essa declaração efusiva no elegante salão azul do Palácio de La Moneda, em maio de 2006, quando a primeira mulher a chegar à presidência do Chile concedeu uma longa entrevista ao Aliás. Tal era o espírito da mandatária com o campo político que a sustentava. Se fossem transformadas em previsão, suas palavras desmentiriam o futuro.

Michelle Bachelet passará a faixa presidencial ao direitista Sebastián Piñera, misto de senador, empresário de sucesso e ricaço de hábitos extravagantes, que, naquele distante 2006, não assustaria nem o mais paranoico situacionista. Mas agora ele assustou - e levou. Só para recapitular: no primeiro turno, Piñera cravou 44% dos votos, empurrando ladeira abaixo os três candidatos de esquerda, Eduardo Frei (29%), pela Concertação, Marco Enríquez-Ominami (20%), independente, e Jorge Arrate (6%), pelo Partido Comunista. No segundo, Frei cresceu bem (48,3%), mas Piñera também expandiu seu eleitorado: foi para 51,6%. E assim, depois de 20 anos de uma coalizão que encerrou o mando de Pinochet e mudou a cara do país, eis que o Chile faz derecha, volver. "Não foi Piñera quem ganhou. Foi a Concertação que perdeu", adverte o sociólogo chileno Manuel António Garretón, enfatizando diferença crucial entre as duas premissas.

Esse é o tema central da entrevista que concede. Por que uma coligação que elegeu em sequência quatro presidentes, a bordo de um projeto de redemocratização de longo termo, perde a hegemonia e ainda mergulha numa crise? Por que Bachelet não converteu em votos para Frei a aprovação de seu governo, acima de 80%? Isso serve de advertência para o presidente Lula e sua candidata Dilma? Professor titular da Universidade do Chile e autor, entre outros títulos, de Pós-Pinochetismo na Sociedade Democrática, Garretón analisa a virada chilena. Com algum pesar e rigor com a atual mandatária.

Em 2006, a presidente exibia confiança no futuro da Concertação. Mas já havia sinais de fratura na coalizão de centro-esquerda, não?

O que eu acho é que não devemos falar de fratura em função dos resultados eleitorais de agora, porque se trata de uma situação bem mais complexa. Sim, no governo Bachelet já se identificara uma necessária mudança de ciclo político no interior da Concertação. Ninguém duvida que a coalização de centro-esquerda mudou o país, mas não logrou completar o projeto democratizador a que se propusera por manter intacta a institucionalidade da era Pinochet e por insistir no modelo econômico que trouxe desigualdade.

O que significa manter a institucionalidade da era Pinochet?

Não é apenas sobreviver no mesmo aparato constitucional, mas manter o mesmo tipo de embate entre forças políticas, as que alimentam o conservadorismo e as que propugnam a democracia. Esse embate continuou a se reproduzir em todas as esferas, no Parlamento, no Conselho de Educação, no sistema judiciário. Exemplo: Bachelet nomeou dois ministros para a Suprema Corte. Um deles defende a impunidade da repressão e justifica a violação dos direitos humanos no regime militar. E por que ela o nomeou? Porque não podia negar isso para a direita. É preciso reconhecer: a Concertação deu mais importância aos seus governos do que ao avanço institucional. Agora está pagando a conta.

Talvez no Brasil tenhamos uma visão difusa do quadro político chileno, no sentido de achar que Pinochet, ao morrer, levou consigo o pinochetismo e a linha-dura.

De modo algum. A direita chilena vive em suas duas vertentes clássicas: a autoritária e a oligárquica, ou plutocrata, que representa os ricos. No regime de Pinochet, não só a vertente dura se impulsionou - a oligárquica, também. E assim nasce uma direita civil de feição autoritária, que hoje faz barulho. Piñera, por sua vez, está alojado num campo democrático de centro-direita, mas também representa a plutocracia. Isso gera contradições num país de distintas classes médias e histórico de centro-esquerda. Pois bem, uma dessas classes médias conseguiu sair da pobreza, subiu na vida e sonha ter o sucesso de Piñera. Trata-se de uma franja social pequena, que muda de voto de acordo com seu projeto aspiracional. Isso do ponto de vista sociológico. Do ponto de vista político, a vertente autoritária, herdeira do pinochetismo e alojada na União Democrática Independente, a UDI, saiu-se bem nestas eleições parlamentares. Ao celebrar, havia grupos que gritavam "Pinochet, Pinochet, esta victoria es para usted". São minoritários, mas atuantes.

Piñera tenderá para a direita oligárquica ou para a direita autoritária?

Com os acenos que faz para a Concertação integrar seu governo, sinaliza que não quer, e nem pode, ficar no campo da direita. Se ficar, o risco de ser manipulado pelos autoritários é tremendo.

O senhor diz que o modelo econômico chileno não evoluiu desde os tempos do Pinochet. Mas seu pais é elogiado pelo crescimento expressivo.

No meu entender, o Chile não é tanto herdeiro do thatcherismo como é do neoliberalismo que sai da escola de Chicago, de Milton Friedman. Até porque o tatcherismo não desmantelou o Estado de bem-estar social inglês do mesmo modo como desmantelamos aqui, sob Pinochet. Neste país devastou-se uma economia de corte popular-nacionalista nos anos do regime militar. Tanto que hoje é consensual a avaliação de que o milagre econômico chileno foi feito mesmo pela Concertação, bastando para isso comparar dados de crescimento da era Pinochet com dados de crescimentos posteriores. É irrefutável. O modelo econômico do general foi implantado para "funcionar" numa sociedade de desiguais. A própria OECD apontou isso em relatório, a partir de análise do modelo educacional.

Então por que socialistas e democrata-cristãos, unidos, não operaram mudanças profundas?

Porque a coalizão caiu na armadilha do próprio êxito. Ela foi se saindo bem, ganhando eleição atrás de eleição e não se deu conta de erros que estava cometendo. Não fez uma reflexão crítica sobre as coisas que faltava realizar e nem sobre obstáculos que a impediam de dar um salto.

Mas o senhor não concorda que o governo Bachelet avançou em termos de proteção social e soube fazer o manejo da crise econômica que eclodiu no ano passado?

O governo Bachelet foi muito criticado nos primeiros anos, lembre-se. E ela mesma tinha baixa popularidade. Começou um ciclo ascendente ao implantar políticas de proteção social e subiu ainda mais com o manejo da crise. Esse bom manejo tem uma explicação: reservas, muito dinheiro que não fora investido até por más razões. Tudo bem, foi dinheiro usado em benefício da população e não para capitalizar bancos.

Terá sido um erro escolher Eduardo Frei para suceder Bachelet?

O erro não foi a escolha em si. O erro foi como a escolha se deu. Em primeiro lugar, é preciso reconhecer o gesto de Frei e até homenageá-lo: ofereceu sua candidatura quando tinha 1% de intenção de voto. Foi para a disputa quando já havia candidatos do seu campo político em cena, como o ex-presidente Ricardo Lagos e o secretário-geral da OEA José Miguel Insulza. Só que nenhum dos dois estava postulando verdadeiramente a candidatura. Frei restou firme, com seu 1% inicial. Era o melhor candidato governista.

Por que Lagos e Insulza, que tinham visibilidade interna e internacional inclusive, caíram fora?

Perguntemos a eles (risos). Minha interpretação é meramente técnica: fizeram cálculos e preferiram não correr riscos. Foi um erro não terem se submetido a primárias abertas, como se cogitou. Primárias poderiam ter sido mobilizadoras. Teriam selado a adesão do independente Enríquez-Ominami e de Arrate, do PC, garantindo mais coesão ao campo político. Enríquez-Ominami acabou conseguindo 20% dos votos no primeiro turno, com uma candidatura sem projeto, sem futuro, apenas interessada em ganhar os descontentes. Resultado: não foi Piñera quem ganhou, mas a Concertação que perdeu. Agora o eleito terá que governar sem maioria no Parlamento, pressionado pela UDI, a direita dura que não quer avançar nas políticas de direitos humanos, que foi contra a instalação do Museu da Memória, que responde conservadoramente a temas como aborto, pílula do dia seguinte, união homossexual, etc. Inclusive é uma direita que não engole totalmente Piñera, tanto que lá atrás tentou impedir sua candidatura.

Que papel jogam os militares hoje?

Defendem basicamente as prerrogativas institucionais e vão fazer pressão para que se mantenha a reserva de 10% do cobre para as Forças Armadas, lei que o novo presidente anuncia rever. Seguem dando provas de que abandonaram a política.


Afinal, que segmento da população definiu a vitória da centro-direita?

Nesses 20 anos, tínhamos um padrão eleitoral delineado em dois grandes campos. Porém, emergiram aqueles 10% flutuantes do eleitorado, uma parcela de cidadãos que muda de voto porque deseja mudar de governo. E só. Foi a parcela que acabou dando a vitória à Aliança para o Chile. Há nisso grande responsabilidade de Bachelet.

Por quê?

O chefe de governo, no regime presidencial, tem que exercer papel de liderança no interior da coalizão. Fosse no parlamentarismo, seria diferente. Mas no presidencialismo é assim. Bachelet demonstrou ter essa liderança ao impedir a renúncia do presidente do Partido Socialista, Camilo Escalona, no segundo turno. A pergunta que se faz: por que não demonstrou a mesma presença durante todo o período no poder? Os presidentes eleitos pela Concertação, salvo Patricio Aylwin, que foi o primeiro governo, não deram importância aos partidos.

O senhor está dizendo que Bachelet deu mais importância à performance do seu governo do que a sua capacidade de liderança política?

Isso mesmo. Por mais sucesso que tenha um governo, e por maior que seja o bem que ele tenha promovido, o fato de não conseguir reproduzir esse êxito do ponto de vista eleitoral é um fracasso político. Não estou falando de uma liderança unicamente mensurável em votos, mas de uma liderança que oriente o debate de ideias.

Qual é o peso de Michelle Bachelet dentro da coalizão?

Como presidente, muito peso. Se a desvinculamos do cargo, vemos que é muito influenciada por setores do partido e não se assume como líder. Como estadista deixa a desejar.

No Brasil analistas e imprensa observam o comportamento eleitoral do Chile, pois há a situação de um presidente com alta popularidade, Lula, empenhado em transferir sua aceitação para uma candidata estreante em disputas eleitorais.

Popularidade é capital pessoal, não se transfere. Se assim fosse, 80% dos chilenos teriam votado em Frei. O que define campanhas é liderança, é conduzir o debate. Lula não passará popularidade para Dilma, isso é uma ideia absurda. Ele já transferiu popularidade para si mesmo, de um mandato para outro. Ponto. Agora, num regime como o chileno, onde não existe a reeleição e o voto não é obrigatório, daí o presidente é obrigado a liderar o processo político no interior da coalizão. Bachelet percebeu isso muito tarde, nos últimos momentos da campanha. Apenas jogou abertamente dois ou três dias antes das eleições do segundo turno.

O Chile nunca se inclinou ao populismo. Como será o relacionamento de Piñera com governos latino-americanos que têm esse perfil?

Penso que o Chile, em termos políticos, tem mais afinidades com o Uruguai do que com a Bolívia ou a Venezuela, onde o colapso dos partidos deu lugar às lideranças pessoais. Também se parece mais com Uruguai do que com a Argentina, governada por um partido com inúmeras divisões internas. O Brasil, no cenário regional, ainda é o país que melhor expressa o entrosamento entre Estado, partidos, movimentos sociais, setores populares e a tecnocracia. Isso inclusive ajuda o presidente Lula a ter toda essa exposição mundial. Já a nossa política externa não tem pretendido que o Chile dispute protagonismo com o Brasil. E temos mantido boa relação com os governos de centro-esquerda. Bachelet vinha encaminhando, com muito tato e junto a Evo Morales, o contencioso marítimo entre Chile e Bolívia - avançaram enormemente, mas, talvez agora haja um retrocesso. Em nome de um progressismo tecnocrata, Piñera pode aproximar-se mais de Felipe Calderón, no México, de Álvaro Uribe, na Colômbia, e mesmo dos EUA. Ou praticar uma política externa isolacionista, o que é ruim.

No La Moneda, Bachelet comentou que quatro anos era pouco tempo para governar. Preferiria mandato de cinco anos, sem reeleição.

Isso não foi para a frente, embora haja setores que defendam a ideia. Não creio que tivesse sido um bom caminho. A tradição chilena sempre foi de mandato presidencial de seis anos, sem reeleição. Mas depois do plebiscito do "não", em 1988, houve um câmbio radical para derrubar o modelo implantado por Pinochet - oito anos, sem reeleição - substituindo-o pela metade. É pouco? Não creio. Penso que a renovação a cada quatro anos, em paralelo com as eleições parlamentares, cria uma boa dinâmica. A Concertação mesmo, a partir desta derrota, terá que trabalhar desde já na própria renovação.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Ayuda sospechosa...

Chile y Bolivia



Sandra Russo
Página 12

Ya hacía unos años que a la Argentina había vuelto la democracia, y apenas un par que este diario existía. Me tocó en suerte una cobertura inolvidable: ir a Chile a cubrir las elecciones con las que Augusto Pinochet se despedía. No se despedía del todo, porque había hecho una Constitución a su medida y quedaba como senador vitalicio. Pero aquel Chile fue una fiesta. En el acto de cierre de la Concertación, en el que hablaba Patricio Aylwin, quien sería el presidente electo, miles y miles de personas se apiñaban haciendo flamear sus banderas. Esas y otras banderas habían estado guardadas durante los años de dictadura. Chile, esas dos sílabas, ese nombre comprimido y rítmico, significaba entonces muchas cosas. Sobre todo significaba todavía Salvador Allende, significaba el Estadio Nacional, en consecuencia significaba Víctor Jara. Chile era llorar por los ausentes, y se lloraba de pena y de alegría al mismo tiempo esos días.

Las democracias latinoamericanas fueron llegando como pudieron. Fueron oportunidades arrancadas al enorme y monstruoso ballet de una generación más de militares que se aceptaron a sí mismos como el brazo armado de un orden de cosas que quisieron instaurar como el orden natural de las cosas. En cada país hubo pequeños grupos de civiles que buscaron y obtuvieron su propia representación en las fuerzas armadas. Tenemos esa clase de burguesías. Bananeras. La chilena, aunque camuflada en la circunspección idiosincrática y el recato religioso, fue tan bananera como la que más. Por bananera entiendo haber rifado sin titubeos una de las democracias más sólidas del continente para sacarse de encima, con estado de sitio, asesinatos y encarcelamiento de opositores, a un gobierno legítimo que estaba orientado hacia los débiles.

Ese sigue siendo nuestro problema en la región. Cómo pueden sostenerse los gobiernos que no se inclinen en el gesto de aceptación acrítica a lo que les exijan los países más poderosos.

Chile en aquel tiempo también significaba Ariel Dorfman y Armand Mattelart, y su Para leer al Pato Donald. Aquellas generaciones de latinoamericanos estaban descubriendo algunos mecanismos de colonización mental, algunos ardides a través de los cuales nuestros pueblos seguían viendo bello al rubio y feo al negro, confiable al blanco y ladino al indio. La aparatología cultural, puro artificio de comunicación de masas, no tenía todavía oponente. No había Ciencias de la Comunicación ni teorías que nos explicaran por qué y cómo la gente votaba contra sí misma, en una ensoñación programada para vulnerar hasta lo indecible a las mayorías.

Teníamos bases de ciudadanía extremadamente acotadas y selectivas. Se daba por bueno lo extranjero y malo lo nacional, como en esa propaganda de la silla que describió hace poco la Presidenta y que muchos hemos vuelto a ver con ojos azorados. Un hombre que se sienta en una silla hecha en la Argentina, y se cae porque la silla está mal hecha, no resiste su peso. Se exhibían entonces muchas otras sillas importadas, en las que cualquiera podía sentarse con confianza.

Lo ingenuo, lo falaz, lo antipatriótico y lo antipolítico de esa propaganda hoy la haría imposible. Sobre todo porque nos hemos sentado en infinidad de sillas importadas que se cayeron, y porque hasta el más desentendido entenderá al menos como un problema la desocupación de los trabajadores que hacen sillas y la quiebra de las fábricas de sillas. Pero en aquella época, en aquella edad del pavo mental que vivimos como continente y que terminó con los peores crímenes que puedan imaginarse, los ciudadanos eran niños leyendo al Pato Donald. Con fuerzas armadas instruyéndose en la Escuela de las Américas. Con burguesías y oligarquías aliadas en la saña que siempre pretendió ser moral o ideológica y siempre mintió, porque era económica. Algunos pocos generaron o preservaron negocios gracias a convencer a muchos de que había un estado de cosas que era el orden natural de las cosas.

Nunca nada tuvo por qué ser como fue. Lo que pasó fue la historia, con sus móviles, sus protagonistas, sus responsables, sus ganadores, sus firmantes. Tanto dolor, tanta muerte, tanto exilio, anidó en la parte más soez de miles de personas que, con el cuello apenas un poco afuera del agua, quieren hundirle la cabeza al de al lado. Hace unos días un hombre más bien pobre, que criticaba furiosamente al gobierno argentino, gritaba que él se había esforzado por pagar su jubilación y que ahora resulta que más de dos millones de vagos que no aportaron gozarán de su mismo beneficio. Eso es lo que han hecho con la idea del Estado: subvertirla tanto, que ya esa gente no entiende por Estado algo en común, sino la amenaza del reparto. No hay ningún pensamiento más funcional a esos pocos que manipulan a tantos, que ése: que la equidad es una amenaza.

Estos días en los grandes medios escuché a unos cuantos comunicadores machacar con el ejemplo chileno. Se referían a que Michelle Bachelet fue a saludar personalmente al presidente electo, el empresario Piñera. Vienen dando el ejemplo chileno porque Chile ya significa otras cosas. Significa beige, no rojo. Lo rojo se apiña en Bolivia, que ninguno de ellos da nunca como ejemplo de nada, a pesar de que es el país de la región cuya economía creció más el último año, y cuyos logros sociales van mucho más allá de lo aceptable para el statu quo. En Bolivia la democracia cura, educa y alimenta. En Bolivia el presidente Morales habla de la “revolución democrática” porque hay que sincerarse: que coman, se curen y se eduquen todos es lo revolucionario en estos países exóticos sólo si se los mira con el ojo del amo. La equidad, es necesario repetirlo, está siendo vestida de amenaza. Ese también es el ojo del amo.

Lamenté profundamente el triunfo de Piñera, lamenté ese retroceso, esa berlusconiada. Lamenté por anticipado lo que pasará y lamenté también tener que sepultar aquel recuerdo, el de Chile explotando de alegría con el fin de la dictadura. Porque la democracia, pensábamos todos entonces, no era solamente el llamado a elecciones sino la posibilidad de recrear las redes de solidaridad y de equidad que la dictadura había roto. La democracia, creíamos entonces, como había expresado aquí el entonces presidente Raúl Alfonsín, era una herramienta para dar de comer, para curar, para educar. Pues bien: eso lo ha hecho Bolivia y no Chile. No lo ha hecho hasta ahora, y con Piñera menos. Los ejemplos no son inocentes.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Cuidar el planeta y combatir el capital


Sebastián Ochoa
Página 12

Con promesas de combatir al capitalismo y defender al planeta, el presidente Evo Morales recibió por segunda vez los bastones de mando de los pueblos indígenas de Bolivia. Ante treinta mil personas, según cálculos del gobierno, Morales sostuvo que “hoy día tengo el orgullo de anunciarles que los tiempos de la Bolivia mendiga e indigna se han terminado, hermanas y hermanos”. Ratificó la muerte del “Estado colonial” y el nacimiento de “un Estado Plurinacional que llega con mucha esperanza para los pueblos del mundo”. Esta mañana, Morales será posesionado por la Asamblea Legislativa Plurinacional, cuyos dos tercios responden al gobernante Movimiento Al Socialismo (MAS). Por la tarde, se presentará ante miles en el estadio de esta ciudad. Luego, Morales y los asambleístas comenzarán a trabajar para dar desarrollo legislativo a la Constitución aprobada hace un año.

Morales habló en quechua, aymara y castellano. “Hay un presidente y dos estados. Un Estado colonial que se va y un Estado Plurinacional que llega. El Estado colonial no trajo esperanza para los pueblos del mundo. Tuvimos que esperar 180 años para refundar Bolivia con un Estado Plurinacional donde todos los originarios tenemos los mismos derechos. El Estado Plurinacional garantiza los mismos derechos para todos, ése es el desafío profundo que debemos llevar adelante.”

Tiwanaku, a 72 kilómetros de La Paz, fue la ciudad del pueblo tiwanakota. Allí se encuentran varios templos llamativos para turistas y arqueólogos. Morales, acompañado por yatiris, amautas y chamanes, realizó cuatro ofrendas en cada lado de la pirámide de Akapana. Agradeció a la Pachamama, pidió bienestar económico para Bolivia, solicitó la unión de su territorio y rogó discernimiento para tomar decisiones. Luego, se dirigió al templo de Kalasasaya de la mano de una anciana encorvada de 88 años. En la Puerta del Sol recibió regalos de pueblos indígenas del continente. También dos bastones de mando, de manos de un niño y de una niña aymaras.

Sobre los espectadores flameaban cientos de banderas wiphalas y de la nación boliviana. Muchos tuvieron que seguir en pantalla gigante la transmisión de Bolivia TV, el canal del Estado, porque los relieves del terreno hacían imposible divisar lo que pasaba en la Puerta del Sol.

Además de bolivianos, abundaban entre la multitud argentinas y argentinos. Para tratar de mimetizarse con las masas indígenas, varios compatriotas optaron por envolverse en wiphalas y banderas bolivianas. También usaban gorros andinos y pulóveres con dibujos de llamas. Algunos grupos de campesinos se divertían remedando las palabras y la entonación rioplatense. “¿Qué hacé, boludo? ¡Somos de Boca acá!”. Los locales se caían de risa. Los “gauchos”, como les dicen, preferían hacerse los desentendidos ante el no saber cómo reaccionar.

“Aproveché que tenía vacaciones en la oficina y me vine a ver a Evo”, comentó a este diario Adrián Rhul, que blandía una bandera del Qollasuyu, uno de los cuatro lados del Tawantinsuyu, el imperio inca.

Frente al templo de Kalasasaya había dos palcos. Uno con invitados extranjeros y otro para ministros, funcionarios e integrantes de las Fuerzas Armadas. Mozos con guantes blancos se encargaban exclusivamente de proveerles infusiones, bebidas y alimentos. Tres señoras indígenas quisieron entrar, pero no los dejaron. “Sólo entran funcionarios del Estado”, les dijeron. “Pero diputadas somos.” De todos modos, las legisladoras tuvieron que quedarse bajo el sol y las nubes, como el resto.

Morales citó a Gualberto Villarroel, un presidente militar que en 1946 fue sacado del Palacio Quemado por grupos de izquierda, quienes lo ahorcaron en uno de los faroles de la plaza Murillo. “El coronel Villarroel decía ‘no soy enemigo de los ricos, pero soy más amigo de los pobres’. Por supuesto que se respeta la propiedad privada, todos tenemos derechos. Pero más tienen los pobres, para que haya igualdad entre todos. Este es el desafío profundo que debemos llevar adelante.” Los indígenas y campesinos contestaron con un “Jallalla”, que en aymara significa “viva” o “arriba”.

El presidente remarcó que “el Estado colonial permitió el saqueo de los recursos de la Madre Tierra. Era un Estado discriminador que siempre nos han visto a los pueblos indígenas como a salvajes”. Ante la aclamación popular, reflexionó que “más importante que defender los derechos humanos es defender a la Madre Tierra. Si los movimientos sociales no asumimos la responsabilidad, seremos cómplices del capitalismo”.

Los 3800 metros de Tiwanaku fueron difíciles de soportar para varios invitados y asistentes extranjeros. En varias ocasiones, los médicos corrieron con tubos de oxígeno y camillas. Un grupo de invitados oficiales que hablaba en inglés salió rápido para evacuar a una de sus integrantes, casi desmayada. “A los gringuitos no les ha gustado lo que ha dicho el Evo”, comentaron graciosos un par de campesinos.

Morales dijo que su próximo gobierno se regirá con la misma máxima que el pasado. “Rápidamente pasaron cuatro años de nuestro gobierno. Han sido años de trabajo permanente, en que nos guiamos por la ley cósmica que nos dejaron los antepasados. Es el Ama Sua (no seas ladrón), Ama Qella (no seas mentiroso) y Ama Llulla (no seas ocioso). Quiero agradecer desde este lugar sagrado a nuestros antepasado por dejar la mejor herencia a mí y a los pueblos del mundo.”

Los actos de posesión continuarán hoy, cuando los 166 asambleístas le entreguen los nuevos símbolos de la patria. La banda presidencial de la República será confinada en una bóveda del Banco Central. Le colocarán la banda del Estado Plurinacional, que mezcla los colores del estandarte nacional con la wiphala, también reconocida como bandera oficial.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Haiti: Terremoto é desastre natural, mas a pobreza extrema, não



Eduardo Sales e Igor Ojeda
Brasil de Fato

Destruição total, corpos estirados, homens e mulheres aos prantos. Os relatos dos repórteres nos jornais que foram a campo não são diferentes. Saques a supermercados, violência, desespero.

Quase em uníssono, os meios decretaram: os efeitos do terremoto de 7 graus na escala Richter ocorrido no dia 12 no Haiti são ainda mais graves devido à extrema pobreza em que vive a população do país, o de menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do hemisfério ocidental. A análise um tanto óbvia não é incorreta, mas a imprensa em geral “esqueceu-se” de explicar o porquê de tanta miséria, praticamente naturalizando o subdesenvolvimento acentuado do Haiti.

“É preciso que se diga que se, de fato, as causas da tragédia são naturais, nem todos os efeitos o são”, opina Aderson Bussinger Carvalho, advogado e ex-conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que visitou o país em julho de 2007. “É preciso saber que indústrias exploram a mão-de-obra barata haitiana, cujos produtos são exportados para o mercado dos EUA, assegurando imensos lucros que não se revertem em favor do povo. As casas construídas somente com areia, a ausência de hospitais, a falta de luz e água... tudo isso vem de antes do terremoto”, afirma.

Pobreza extrema

Atualmente, 80% dos haitianos vivem abaixo da linha de pobreza, sendo que 54% se encontram na extrema pobreza. A mortalidade infantil é de cerca de 60 mortes para cada mil nascimentos (no Brasil, a proporção está em torno de 22 para mil), a expectativa de vida é de 60 anos e o analfabetismo atinge 47,1% da população.

Além disso, o país sofre com a falta de infra-estrutura e indústria nacional. As estradas são bastante precárias, assim como as áreas de energia, telecomunicações e transporte. Dois terços dos haitianos dependem da agropecuária para sobreviver, enquanto apenas 9% trabalham em fábricas, em sua maioria nas chamadas maquiladoras, unidades especializadas em produção de manufaturados para exportação que se utilizam de mão-de-obra barata. “Durante o ano de 2009, percorremos todo o Haiti. Nossa brigada percorreu dez departamentos e conhecemos a situação de pobreza em que vive a imensa maioria da sociedade haitiana”, relata José Luis Patrola, militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e integrante da Brigada Internacionalista Dessalines da Via Campesina, que atua com as organizações camponesas do país.

Triste e estranha realidade para uma nação que foi a segunda das Américas a se tornar independente (da França) e a primeira a abolir a escravidão, em 1804. Ou seja, que tinha tudo para oferecer uma vida digna para seus habitantes.

Construção histórica

“A pobreza extrema do Haiti é uma construção histórica bi-centenária, produto da incessante intervenção colonialista e imperialista, em boa parte devido precisamente a ter sido o Haiti a primeira e única nação negreira onde os trabalhadores escravizados insurrecionados obtiveram a liberdade. Isso após derrotar expedições militares francesa, inglesa e espanhola”, explica Mário Maestri, historiador e professor do Programa de Pós Graduação em História da Universidade de Passo Fundo (UPF), no Rio Grande do Sul.

Segundo ele, a partir de então, o Haiti passou a ser temido pelos EUA, pois poderia servir como exemplo aos escravos estadunidenses. Assim, o país passou a “ser objeto de bloqueio quase total, desde seus primeiros anos, pelas nações metropolitanas e americanas independentes. Já em 1825, foi obrigado a pagar, sob pena de agressão militar, pesadíssima indenização à França. Conheceu nas décadas seguintes intervenções militares dos EUA, que, mesmo após a desocupação, em 1934, transformaram o país em semi-colônia, sobretudo através das sinistras ditaduras dos Duvaliers, Papa-Doc e seu filho [entre 1957 e 1986]”.

De acordo com Osvaldo Coggiola, professor de História Contemporânea da Universidade de São Paulo (USP), o Haiti não é uma exceção na região em que se encontra, mas um caso extremo da dominação imposta pelos países centrais do capitalismo. Assim, para ele, “atribuir seus males à incapacidade da sua população, descendente de escravos forçados a trabalhar na ilha pelos colonialistas franceses, é um conceito abertamente racista. A classe dominante, ela sim, é corrupta até a medula. Se chegar ajuda para o governo local, vão roubar, para vender e chantagear a população”.

Casas amontoadas

Além da pobreza, outro fator vem sendo apontado como potencializador dos efeitos do terremoto, embora ambos estejam fortemente vinculados: a grande quantidade de pessoas vivendo nas cidades (especialmente na capital, Porto Príncipe) em casas amontoadas e construídas precariamente, o que fez com que desabassem mais facilmente. Segundo Patrola, o desastre deixou evidente a precaridade do sistema urbano no Haiti. “Porto Príncipe e as favelas de Cité Soleil e Bel-air foram construídas de forma espontânea com a ausência de recursos mínimos de construção civil. Isso potencializou a destruição”.

Aqui, outra triste e estranha realidade: como se explica que um país cuja agricultura representa 28% do PIB (no Brasil, esse índice é de 7%) possua um índice de êxodo rural tão acentuado e tenha 47% de sua população vivendo na zona urbana?

“Pela eliminação das culturas agrárias locais pelos produtos importados, inclusive os das famosas 'ajudas internacionais'. O subdesenvolvimento eliminou as florestas locais, pois o carvão é quase a única fonte de energia no interior. Em 1970, o Haiti era quase auto-suficiente em alimentação, hoje importa 60% do que come”, responde Osvaldo Coggiola. Segundo dados da ONU, entre 2005 e 2010, a população das cidades haitianas cresceu 4,5% por ano.

Migração

O historiador Mário Maestri explica que a revolução de 1804 teve como consequência a divisão dos latifúndios existentes em lotes familiares, que retomaram as tradições camponesas africanas, proporcionando uma independência alimentar. No entanto, “as intervenções imperialistas, com a colaboração das frágeis e corruptas elites negras e mulatas, desdobraram-se para metamorfosear a agricultura familiar-camponesa em mercantil. Levantes camponeses foram duramente reprimidos, para reconstituir a grande propriedade”, diz.

Patrola, da brigada da Via Campesina no Haiti, responsabiliza ainda as políticas neoliberais mais recentes pelo “desmonte” do campo. “A abertura comercial está destruindo a agricultura haitiana. O Haiti é o quarto importador de arroz dos Estados Unidos”, diz.

O resultado de todo esse processo vem sendo uma grande migração para a cidade. E hoje, de acordo com Maestri, as enormes massas de miseráveis urbanos são vistas como mão-de-obra extremamente barata para as indústrias maquiladoras que se estabeleceram no Haiti.

¿Por qué Haití es tan pobre?

Luis Prados
El País

Las catástrofes naturales, tan frecuentes este principio de siglo -tsunami en el Índico en 2004, Cachemira en 2005, Sichuán en 2008, el reciente de Sumatra y ahora Haití-, ocurridas en países pobres o en vías de desarrollo suelen llevar a que la explicación física del desastre sirva también para justificar las causas de la pobreza de la zona afectada. El castigo de Dios se desataría sobre los más débiles, habitantes de tierras de naturaleza imposible.

Haití, en concreto, tiene algunas desventajas físicas respecto de su vecino, la República Dominicana -menos lluvias, suelo más pobre, los ríos de las montañas dominicanas fluyen en su mayoría hacia el este... Sin embargo, los dos países, como escribe Jared Diamond en su extraordinario libro "Colapso. Cómo las sociedades eligen fracasar o sobrevivir", son el perfecto antídoto para el determinismo geográfico, el mejor ejemplo de cómo son las sociedades las que deciden el destino de un país.

Hagamos un poco de historia. Cuando Colón llega a La Española en 1492 se calcula que habitaban la isla medio millón de nativos, los taínos. Para su desgracia, tenían oro. En 1519 quedaban tan sólo unos 11.000. España tuvo que importar mano de obra esclava, pero pronto encontró lugares en el continente americano de mayor interés.

La negligencia española llevó a la ocupación francesa del tercio occidental de la isla para finales del siglo XVII. El cultivo intensivo de la caña de azúcar, acompañado de una salvaje deforestación y de pérdida de fertilidad del suelo, convirtió a Haití en la colonia más productiva de Francia en 1785. Para entonces, su población esclava ascendía a 700.000 personas, el 85% del total, frente a los 30.000 de la parte de la isla que seguía siendo española.

La rebelión de los esclavos haitianos y la Constitución de la primera república negra en enero de 1804 horrorizó al Occidente blanco. Las nuevas autoridades haitianas legislaron para que nunca se repitiera la tragedia de la esclavitud: no habría más plantaciones, sino pequeñas parcelas de tierra para la subsistencia de cada familia, y se prohibió el establecimiento y las inversiones de los extranjeros.

Al autoaislamiento se unió la exclusión. Haití era la encarnación de la peor pesadilla del colonialismo blanco. Como dice Ian Thomson, autor de Bonjour Blanc, a Journey Through Haiti, "se pensaba que los haitianos eran incapaces de gobernarse a sí mismos porque eran negros. Luego había que probar que eran ingobernables". Estados Unidos, por ejemplo, sólo reconoció la independencia de Haití en 1862, en plena guerra civil. Pese a todo, la pequeña república era aún mucho más rica que su vecina, a la que invadió en varias ocasiones en el siglo XIX. Sin embargo, la República Dominicana contaba con algunas ventajas: no estaba superpoblada, sus habitantes hablaban español y no creole y eran de origen europeo, recibían bien a los hombres de negocios extranjeros y desarrollaron una economía de exportación.

Los países sufrieron inestabilidad política y administraciones atroces -en Haití, de 22 presidentes entre 1843 y 1915, 21 fueron asesinados o expulsados del poder; en la República Dominicana, entre 1844 y 1930 hubo 50 cambios de presidente- y la ocupación durante varias décadas por Estados Unidos. Y después, el despotismo del clan Duvalier y el clan Trujillo. Dos dictaduras cleptómanas cuyas secuelas aún se pueden sentir. No hay maldición geográfica. La suerte de Haití se decidió mucho antes del terremoto de hace una semana.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

¿Es posible Río sin favelas?


Juan Arias
El País

Celebrar los Juegos Olímpicos en el año 2016 con Río de Janeiro sin favelas es el gran sueño del joven alcalde de la ciudad brasileña, Eduardo Paes. El sueño consiste en convertir sus 1.200 favelas, con más de dos millones de habitantres -un quinto de la población total-, en otros tantos barrios normales, con todas las infraestructuras necesarias y la presencia permanente del Estado.

El alcalde Paes trató el asunto en diciembre pasado con el presidente del Comité Olimpico Internacional (COI), Jacques Rogge, quién comentó que, si Río consiguiese urbanizar todas sus favelas, el legado social de los Juegos Olímpicos de 2016 superaría al de todas las otras ciudades en las que se han celebrado hasta ahora.

¿De quién depende la realización de esta quimera? En realidad, del presidente de la República, Luiz Inácio Lula da Silva, que podría dejar en marcha el ambicioso proyecto antes de dejar del poder, en 2011. Según el alcalde, el sueño tiene una cifra: 4.000 millones de reales (unos 1.580 millones de euros), que sólo el Estado puede conceder a la ciudad carioca.

La esperanza es que Lula, que estos días discute con su Gobierno la segunda parte del Plan Acelerado de Crecimiento (PAC II), incluya dicha partida en el presupuesto. Que Lula lo desea tanto como el alcalde de Río es cierto. Fue él quien aseguró que deseaba borrar del diccionario la palabra favela, para transformarla en la palabra barrio.

Por lo pronto, la alcaldía de Río ha anunciado ya oficialmente la remoción, antes de 2012, de 109 favelas y 12.196 casas localizadas en zonas de riesgo. Las lluvias torrenciales de las semanas pasadas, que dejaron muertos, heridos y casas destrozadas en Angra, São Paulo y Río, entre otras regiones del país, han hecho disparar las alarmas sobre muchas de las favelas que fueron construidas en zonas fácilmente vulnerables a las calamidades naturales.

La posibilidad de que una ciudad como Río convierta en barrios urbanizados todas sus favelas es importante porque, además, podría ser un ejemplo para otras urbes que sufren también la lacra del crimen organizado, que impera en zonas a las que no llega el Estado y que acaban convirtiéndose en nidos de violencia exportable al resto de la ciudad. En Sâo Paulo, Recife, Fortaleza, Bahia y otras ciudades brasileñas hay tantas favelas en proporción al número de habitantes como en Río. Más de la mitad del país cuenta con amplias zonas favelizadas. En el Estado de Río, el 76% de los municipios tiene favelas. El 90% de los casos de deslizamientos de tierra a causa de las lluvias, que dejan muertos y heridos, se registran en lugares con favelas.

Además de urbanizar estas barriadas pobres, el segundo requisito para que no sigan creciendo es la construcción en todo el país de casas populares. Brasil necesita hoy ocho millones de viviendas. Lula ha prometido construir un millón este año. Pero, por ahora, es sólo una promesa.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Relações com o Brasil devem continuar boas, preveem analistas

Alexandre Costa Nascimento
Gazeta do Povo

A guinada à direita no Chile não deverá afetar negativamente as relações do país com o Brasil. Ao contrário, especialistas apontam para um fortalecimento da “histórica aliança estratégica” entre os países. Prova disso é que alguns ex-chanceleres chilenos e senadores ligados à coalizão que elegeu Piñera defendem abertamente na imprensa local que a primeira viagem internacional do presidente – que tem o significado simbólico de demonstrar as prioridades da política externa de um novo governo – tenha como destino o Brasil.

“Não há nenhuma agenda negativa entre o Brasil e o Chile. As relações políticas, econômicas e culturais entre os países sempre foram amistosas. O próprio Piñera, enquanto candidato, visitou o presidente Lula e tem manifestado que o Brasil é um parceiro do Chile e continuará sendo”, disse à Gazeta do Povo uma fonte diplomática da embaixada brasileira em Santiago e que preferiu não ser identificada.

Em relação ao processo de integração no subcontinente – uma das prioridades do Itamaraty – a fonte considera que o novo governo chileno deverá manifestar “algumas reservas” quanto à possibilidade de que a União das Nações Sulamericanas (Unasul) ou o Mercosul possam ser utilizados como palco para discursos populistas dos países que fazem parte da aliança bolivariana, liderada pelo presidente venezuelano Hugo Chávez.

“O Chile teve um papel importante na criação da Unasul, exercendo, inclusive, a primeira presidência rotativa do bloco. Mas haverá algumas reservas no que se refere ao bolivarianismo. O próprio Piñera disse isso claramente no último debate”, explica.

Já o chileno Fernando de la Cuadra, mestre e doutorando em Ciência Sociais pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), aposta em uma maior aproximação do Chile com países governados por políticos de direita, como a Colômbia e o Perú. “O Chile deverá priorizar os tratados de livre-comércio e se afastar do Mercosul (bloco do qual é membro associado desde 1996), formando um eixo de direita com os presidentes Uribe (Colômbia) e Alan Garcia (Peru)”, avalia.

Socialista de carteirinha, de la Cuadra reconhece que o presidente eleito tem um posicionamento liberal em temas como ética e cultura. Piñera já se declarou favorável a união entre casais do mesmo sexo ou o uso da pílula do dia seguinte. “O problema é a aliança que o elegeu. Entre os grupos que o apoiaram estão a direita pinochetista, e grupos católicos ultraconservadores, como a Opus Dei e os Legionários de Cristo, que possui uma universidade que forma mulheres para serem donas de casa”, afirma.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Gabriel Salazar: “Hemos retrocedido permanentemente”

Pamela Gutiérrez
La Nación

El Premio Nacional de Historia 2006 pasa revista a Chile con miras al bicentenario. Afirma que claramente hay rasgos de nuestro país que se implantaron desde la Independencia en 1810, como el centralismo y la rígida separación social, y que hoy hay menos participación ciudadana que la que había en el siglo pasado.

Gabriel Salazar es especialista en mirar a Chile desde los personajes que influyen desde la base, no de la elite. Aunque también ha mirado a algunos integrantes de la aristocracia chilena como los Edwards. Acá analiza para La Nación Domingo los siglos que han marcado a Chile con miras al bicentenario.

¿Cuáles son los rasgos que hemos mantenido los chilenos desde 1810 hasta este siglo?

Hay tres rasgos que se han mantenido hasta hoy. El primero es que Santiago haya tenido ya por esa época un centro comercial alrededor de la Plaza de Armas, que al mismo tiempo era el barrio donde vivía el patriciado, la elite comercial, y todo el resto de la ciudad constituida por ranchos, salvo al oriente, donde estaba el cerro Santa Lucía. Por eso la gente de clase alta escapó hacia arriba. Lo otro es la diferenciación entre una elite que se considera más perteneciente a Europa, en ese tiempo a España, y no chilenizada. Por eso ven a los indígenas y a los mestizos como un pueblo distinto, como si fueran colonizadores. Por lo tanto, a los indígenas se los mira como un enemigo interno, se les aplica la ley antiterrorista y eso proviene del período colonial. Lo tercero es el centralismo político, que reproduce el centralismo imperial desde España absolutista y un gobernador radicado en Santiago.

¿Cuál es el rasgo que caracterizaba a la sociedad chilena en 1810, 1910 y ahora 2010?

Hay que verlo por siglo. El siglo XIX es un siglo largo, ya que se inicia en 1800 y termina en 1930. Desde 1910 se produce una crisis muy profunda en que el Estado portaliano empieza a declinar por corrupción política, y esa crisis se arrastró por 20 años porque el Ejército defendió ese Estado por mucho tiempo y, en la práctica, la crisis fue superada parcialmente a partir de 1938 con el Frente Popular. El siglo XX, en cambio, es un siglo corto, porque parte en 1930 y finaliza en 1973. En el ’30 se inicia con la crisis económica y en el ’38 con la crisis política. Lo similar entre el siglo XIX y el XX es que la Constitución de 1925 fue una copia feliz de la de 1833, donde Arturo Alessandri logró imponer un Estado completamente distinto al que querían los actores sociales de esa época. El único cambio es que se separan la Iglesia y Estado.

¿Qué consecuencias tuvo para el Estado su divorcio con la Iglesia?

El Estado del siglo XIX nunca se preocupó del desarrollo social y económico. Todo lo que tenía que ver con educación, pobreza, salud, incluso el empleo, eran responsabilidad de la Iglesia o del municipio. La Iglesia hizo las veces de ministerio social desde el siglo XIX hasta 1930, sobre la base de la caridad. Pero hacia 1914 la Iglesia se dio cuenta de que la caridad no podía resolver el problema social y por eso se produce la separación. Pero el Estado tenía un problema serio, dado que la Constitución de 1933 no decía nada sobre las políticas sociales ni de desarrollo económico, tampoco la de 1925, por eso la solución del desarrollo social, económico e industrialización, tuvieron que hacerlo los radicales después de 1938, a través de resquicios legales.

¿Por qué marca el fin del siglo XX en 1973 y no, por ejemplo, en 1989, con el reinicio de la democracia?

El ’73 puso fin a ese Estado que, siendo liberal, intentó desarrollar la economía y la industria y resolver el problema social, lo que se llamó el Estado populista o Estado nacional desarrollista, que amparó las políticas de desarrollo de los radicales, la DC y la UP. Desde el ’73, achicaron el Estado y lo dejaron convertido en un Estado liberal muy parecido a como lo concibió el equipo de Diego Portales en el siglo XIX. Entonces, el siglo XXI chileno está operando con los mismos parámetros del siglo XIX, históricamente hablando.

Chile en estos dos siglos ha sufrido varias revueltas políticas que lo han marcado. A su juicio, ¿cuál ha sido la de mayor impacto?

Las tres veces en que la ciudadanía o los actores sociales han querido construir un Estado de acuerdo a un proyecto que ellos han concebido, han sido reprimidos violentamente o engañados y traicionados por los militares, en primer lugar, y luego los políticos. Eso ocurrió entre 1829, cuando Diego Portales y los militares dieron un golpe de Estado y reprimieron a los que estaban proponiendo el Estado ciudadano e impusieron el Estado de 1833. Frente a esa imposición, la ciudadanía se rebeló al menos en 21 oportunidades. Sigue con la sociedad de la igualdad, la guerra civil de 1851, la de 1891, las matanzas que comienzan el siglo XX en Valparaíso en 1903; Santiago, 1905; Antofagasta, 1910. A partir de 1925 se le impone de nuevo a la ciudadanía un Estado que no quería a través de un golpe civil, por así decirlo, una traición brutal de Arturo Alessandri. La ciudadanía se rebeló, no para cambiar el Estado como lo hizo en el siglo XIX, sino para exigir a los políticos desarrollo en el país y resolver el problema social. Son movilizaciones de masas, peticionistas y protestantes en las calles. El tercer quiebre fue en 1973, donde de nuevo nos impusieron un Estado que no queríamos. En el 1829 y el ’73 fueron golpes sangrientos y por eso la ciudadanía quedó con una gran prudencia.

¿Prudencia? ¿No es más bien miedo?

No es miedo, sino prudencia, de decir “bueno, voy a respetar la ley, no me gusta, pero si no llega de nuevo el golpe militar”. Eso pasó en el siglo XIX y está pasando ahora. Eso explica por qué las encuestas muestran desde el 2005 que la gente no tiene confiabilidad ni credibilidad en el aparato político que nos rige. Hay un descontento enorme que está larvado, metido para adentro, y no ha aflorado por dos razones: como hoy no hay izquierda parlamentaria y el PC está dentro del modelo de Pinochet aunque haya elegido a tres diputados, la gente no canaliza en esa dirección su descontento. La izquierda transó con el modelo, el PS está metido hasta los huesos en el modelo neoliberal. La otra razón es más sutil y es que la ciudadanía no se siente pobre. No es que no haya pobreza, sino que está disfrazada con el endeudamiento.

En democracia, ¿cuáles han sido los mayores progresos y qué cosas están pendientes?

En términos generales, hemos retrocedido permanentemente. Los políticos van a decir que estamos más democráticos que nunca, pero no es así. Hasta 1830, con el golpe de Estado de Portales, en los pueblos se autogobernaban a través de asambleas o cabildos que se efectuaban en la plaza, que era el lugar donde la comunidad se reunía para tomar decisiones de-mo-crá-ticamente, donde todos participaban: hombres, mujeres y niños, proletarios, hacendados, comerciantes, artesanos, campesinos suburbanos. Los únicos que no participaban en esas asambleas eran los que no pertenecían a la ciudad o a la villa, es decir, los mestizos, los indígenas, los huachos. Eso era el bajo pueblo. La democracia de los pueblos era avanzadísima y mucho más perfecta que la de hoy día, y fue aplastada por el régimen portaliano. Eso fue un retroceso enorme y aparece todo el control del Estado, las elecciones y la clase política, que reemplaza el pueblo. Eso fue durante todo el siglo XIX.

¿Y la democracia en el siglo XX?

En el siglo XX, después de las traiciones de Alessandri y de Ibáñez, después de 1930, las grandes necesidades de Chile, como desarrollo industrial e igualdad social, los políticos tenían que implantarlas con resquicios legales, por lo tanto, el Estado resuelve y la ciudadanía le entrega el derecho a petición. Por lo tanto, el Estado resuelve todo y, en la calle, la ciudadanía pide y eso la transforma en masa, pedigüeña, peticionista y mendicante, que puede saltar y gritar sus necesidades, pero no deja de ser masa. Los políticos van a decir: “Es que había elecciones”. Cierto, un hombre, un voto, pero ya no hay democracia participativa. Por eso, a mi modo de ver hay un retroceso. El electoralismo no es democracia participativa y por eso la gente no sabe participar en política. Sabe pedir, sabe gritar, pero cuando hay que proponer, cero.

¿Podría dar un ejemplo de eso?

Fue el gran problema de los pingüinos. Entendieron que tenían que volver a las asambleas y recobraron la democracia participativa. Designaron voceros y no directivos que se apernaran, pero quedaron cortos en la propuesta, porque en Chile perdimos la costumbre de elaborar propuestas. Hoy lo que tenemos es una democracia electorera, por eso es que la gente ya no le cree al sistema electoral y dos millones de cabros no se inscriben.