sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Vândalos, bandidos, criminosos!



Silvio Caccia Baca
Le Monde diplomatique


É com essas palavras que a grande imprensa brasileira qualifica as revoltas juvenis de Londres, ecoando o surpreendente discurso do governo inglês, que as tratou como um caso de polícia e os manifestantes como criminosos. Nesta mesma toada estão sendo interpretadas as últimas grandes manifestações da juventude chilena, que saiu às ruas em centenas de milhares de pessoas, enfrentando a polícia com pedras, paus, coquetéis molotov, quebrando vidraças e ateando fogo em veículos.

É um endurecimento sem precedentes. No caso da Inglaterra, nenhuma das questões sociais que levaram esses jovens a um estado de revolta foi considerada. O argumento de transgressão da ordem, da prática de atos criminosos – o foco nos saques de estabelecimentos comerciais que vendem os ícones de consumo como telefones, ipads, computadores, roupas e calçados de grife, no incêndio de veículos – pretende dissociar estes atos do contexto em que ocorrem e criminalizar as manifestações e seus participantes.

Para esse comportamento, a resposta do Estado é a proibição das manifestações públicas, proibição da ocupação de praças, repressão, prisões, intimidação. Chegamos ao cúmulo de ver a justiça inglesa condenar a quatro anos de prisão dois jovens, de 20 e 21 anos, por convocarem através de seus telefones manifestações que, aliás, não ocorreram.

O tratamento dado pelos governos a essas manifestações, por meio da polícia e do judiciário, e a linha editorial dos jornais da grande imprensa, tanto inglesa quanto brasileira, reforça esse tipo de julgamento que associa tais atos a vandalismo, prefiguram tempos mais difíceis e mostram o quanto o sistema político e a grande mídia optaram não pelo diálogo com os manifestantes, mas por uma linha dura que não se dispõe a negociar ou ouvir as demandas que geram essas manifestações.

No caso das ações na Inglaterra, isso ocorre num contexto de crise financeira que envolve todo o continente, com os novos ajustes, dito claramente, cortes nas políticas públicas que todos os governos europeus estão fazendo, num momento em que acabou-se o Estado de bem-estar social e o desemprego cresce, a imigração é criminalizada, as políticas de proteção social cada vez mais se fragilizam. E a população mais pobre, isto é, as maiorias, verão sua existência ainda mais precarizada.

Neste novo cenário é previsível que ocorram por toda a Europa manifestações, como já são registradas em diferentes intensidades, na Grécia, na Espanha, na França, na Inglaterra. E o governo inglês sinaliza que, se houver novos protestos, eles serão reprimidos. Serão estes indícios de como os demais Estados tratarão a questão social? Tratar essas mobilizações e revoltas juvenis que se espalharam por várias cidades como atos criminosos é negar-lhes o direito ao discurso.

Foi muito parecido o que aconteceu em Paris, em 2005. Estes mesmos jovens negros, moradores dos bairros mais pobres, foram vítimas da ação intimidatória do policiamento ostensivo. Um grupo deles, tentando escapar das humilhações, fugiu de uma abordagem da polícia. Três deles se esconderam em uma área de alta tensão de energia elétrica e morreram eletrocutados ou em decorrência das queimaduras. Esse momento foi a faísca que incendiou um contexto vivido por toda parte. E os jovens se revoltaram contra a morte de três colegas e, por toda a cidade, atearam fogo em 10 mil carros.

Afinal, o que eles querem? Alguém perguntou? Eles precisam quebrar mais para ser ouvidos? A história das discriminações e violências cotidianas que sofrem esses jovens, pobres, na maioria negros, sem futuro, também não conta na análise dos últimos acontecimentos na Inglaterra. Foi aí, nos bairros mais pobres e precários, que começou a revolta. Aí, justamente em Totenham, onde o governo está cortando 75% das verbas para as políticas sociais para a juventude e endurecendo o policiamento ostensivo.

O que surpreende ainda mais é certa adesão popular a esse discurso de criminalização dos movimentos sociais, esse apoio para tratar como bandidos os participantes das revoltas. Mas para que esse apoio ocorra e as questões sociais sejam ignoradas, é preciso “informar” a opinião pública, papel em que a televisão e os jornais têm enorme importância.

Talvez porque tais revoltas não tenham conseguido expressar sua cara humana, dizer a que vêm, quais são suas demandas, talvez porque os cidadãos desconheçam essas práticas ou tenham lido e ouvido insistentemente os mesmos argumentos, esses jovens estão sendo tratados como criminosos. O governo traça uma linha de segregação e repressão que só pode levar a uma maior polarização da conjuntura. Se a repressão for eficiente agora para desmobilizar os descontentes, ela apenas adia o momento de novas explosões.

Vale nos perguntarmos aonde nos leva esse caminho. Vale nos perguntarmos a quem interessa implantar o domínio do medo. Vale nos perguntarmos que papel tem tido a mídia na formação da opinião pública sobre esses acontecimentos.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Italia clama contra Silvio Berlusconi



Pablo Ordaz
El País


Silvio Berlusconi se siente una víctima, perseguido sin cuartel por la oposición, los fiscales y la prensa, pero cada día son más los que piensan que la única víctima es Italia. Después de conocer las últimas escuchas telefónicas practicadas al círculo cercano del primer ministro, la patronal y hasta la Iglesia han puesto el grito en el cielo. ¿Es lícito que Berlusconi, que hoy cumple 75 años, pueda hablar así de sí mismo y de su país?: “De mí pueden decir que follo, es lo único que pueden decir de mí, ¿está claro? Que me pongan los espías donde quieran, que me pinchen las llamadas, me la trae floja… Dentro de unos meses me piro a otro sitio, me voy de este país de mierda. Estoy desquiciado y punto”. Miles de manifestantes salieron a la calle para protestar por la intención del Gobierno de aprobar una ley que limite la utilización de las escuchas por parte de los fiscales y su publicación posterior en la prensa.

Ya no solo está en juego el poder de Berlusconi, sino la economía y hasta la moral de Italia. Dos de las voces que se han alzado en los últimos días, impactando de lleno en la línea de flotación del primer ministro, son las de Emma Marcegaglia, presidenta de la patronal de los industriales (Cofindustria), y la del cardenal Angelo Bagnasco, presidente de la Conferencia Episcopal. Las palabras de Marcegaglia reflejan muy bien cómo las gracias de Berlusconi ya dejaron de tener gracia: “Ya estamos hartos de ser el hazmerreír de la comunidad internacional. Estamos cansados los emprendedores de ir al extranjero representando nuestros productos y ser acogidos con sonrisitas por culpas que no tenemos nosotros. Eso daña al orgullo nacional y a nuestra capacidad de exportación”. Y las del cardenal Bagnasco van incluso más allá: “Mortifica asistir a comportamientos no solo contrarios a la dignidad pública, sino también tristes y vacuos. Quien elige la militancia política debe ser consciente de la moderación, sobriedad, disciplina y honor que eso conlleva, como dice la Constitución. La colectividad mira con desconcierto a los actores de la escena política y la imagen del país en el extranjero queda peligrosamente afectada. La cuestión moral no es un invento mediático, sino algo muy serio”.

La última frase del cardenal tiene mucha importancia por cuanto los partidarios de Berlusconi intentan hacer pasar por simple chismorreo lo que la oposición, los fiscales y buena parte de la prensa considera mal gobierno. Ya no se trata tan solo de las estrambóticas canas al aire del primer ministro, sino de cómo se ha ido rodeando de una peligrosa cohorte de tipos de la peor calaña. De hecho, las últimas interceptaciones telefónicas que han trascendido se refieren a la investigación de la fiscalía de Nápoles contra Giampaolo Tarantini, al que acusan de extorsionar a Berlusconi.

Aunque en el juicio contra Tarantini, Berlusconi empezó siendo solo víctima de chantaje, los fiscales de Nápoles proponen que se investigue también al primer ministro ya por “inducción a proporcionar declaraciones falsas o a callarse”, un delito que puede conllevar penas de dos a seis años de cárcel. Sin embargo, todos los esfuerzos resultan baldíos. Berlusconi no parece dispuesto a dar el paso atrás que le reclama la oposición y ahora los industriales y hata voces acreditadas de la curia. “Si me quieren echar”, ha declarado, “que me presenten una moción de censura”. Por lo pronto, la calle ya lo ha hecho. Miles de manifestantes pidieron ayer en Roma su dimisión con motivo de una manifestación contra la ley mordaza. Fulvio Fammoni, portavoz del Comité para la Libertad y el Derecho de Información, declaró que no van a parar hasta bloquear definitivamente la ley: "Somos más de 100 asociaciones de la sociedad civil, de periodistas y magistrados. La ley que pretende el Gobierno amordaza la libertad de contar lo que pasa y ralentiza las investigaciones: es decir que viola los derechos fundamentales de los ciudadanos! Ya paramos esta ley dos veces y volveremos a bloquearla".

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A filosofia por trás do movimento "Ocupar Wall Street"



Vijay Prashad
Counterpunch


“É possível que os especuladores não façam tanto mal quanto as bolhas. Mas a posição é séria quando a empresa vira uma bolha, no redemoinho da especulação. Quando o desenvolvimento das atividades de um país vira subproduto das atividades de um cassino, o trabalho provavelmente será mal-feito”. (John Maynard Keynes, 1936)

As análises do Relatório sobre Estabilidade Financeira Global do Fundo Monetário Internacional (REFG-FMI) são sempre muito sóbrias. O Relatório distribuído dia 21/9 passado avisa que a economia mundial está entrando em “uma zona de perigo”. O FMI rebaixa o crescimento estimado global, de patamar já baixo de 4,3%, para 4%, com o crescimento dos EUA cortado, de 2,7% para 1,8%. “Pela primeira vez desde outubro de 2008, no REFG-FMI, aumentaram os riscos para a estabilidade financeira global, o que assinala reversão parcial no progresso alcançado nos três anos anteriores.” Em outras palavras, todas as medidas tomadas para estancar a hemorragia provocada pela crise do crédito global de 2008 em diante já deram o que podiam dar. E estamos de volta ao dia em que se fecharam as cortinas do Lehman (Brothers).

O FMI não podia ignorar a continuada crise política e econômica que sacode sem parar a eurozona, nem fingir que o crédito dos EUA não foi rebaixado. Nem, de fato, poderia fazer-se de cego para a turbulência dos mercados financeiros (...). Três processos obrigaram o FMI a ser mais atento: primeiro, os EUA terem-se mostrado incapazes de dar conta do trauma agudo no mercado imobiliário de moradias; segundo, os bancos europeus, que estão em curva de retroalimentação adversa entre as obrigações a pagar no “Club Med” (de Portugal à Grécia) e as próprias reservas; e, terceiro, as baixas taxas de juros que espantaram a finança privada, da luz do dia, para os calabouços sombrios e furtivos do sistema bancário (fundos hedge e tal).

Ambos, Olivier Blanchard, economista-chefe do FMI, e José Viñals, conselheiro financeiro do Departamento de Mercados Financeiros e Monetários do FMI, pareciam mais nervosos que o usual. Viñals sabe dos riscos na eurozona. Foi vice-presidente do Banco da Espanha, cujas reservas financeiras estão em estado tão lamentável quanto as reservas de água da Cidade da Sujeira do filme Rango (2011).

O mantra do mundo atlântico tem sido “austeridade”. Assume-se que, se os orçamentos dos governos forem purgados dos gastos de interesse social para preservar o equilíbrio, daí advirá o crescimento. Estranha economia. Problema crônico é a falta de demanda efetiva (“confiança do consumidor”), que é indexada, nos EUA a salários rebaixados com transfusões eventuais de “confiança” produzida por crédito barato que criou, como bolha que ainda não explodiu, o endividamento pessoal; em maio de 2011, chegava a $2,4 trilhões. Os cortes massivos no gasto do governo só farão encolher a demanda ainda mais, e não produzirão qualquer esperança de crescimento no curto prazo. Programas de austeridade nem sempre fazem aumentar a confiança dos consumidores, mas sempre fazem aumentar a confiança entre os financistas que amam a ideia de “finanças sólidas”.

O FMI identifica o problema com uma mão e, em seguida, enfia a outra mão no moedor de carne: a atual crise não pode ser resolvida, até que se administrem as dificuldades políticas. Os “líderes políticos nessas economias avançadas ainda não conseguiram mobilizar suficiente apoio político para implantar políticas suficientemente fortes de estabilização macrofinanceira.” As ferramentas financeiras e monetárias estão pressionadas. Faz falta estratégia de comunicação mais efetiva, para convencer o público a alinhar-se a favor de medidas de austeridade para dar solidez à finança; para isso, é preciso fazer baixar a retórica ideológica que afasta as pessoas do que o FMI entende que seja uma Razão apolítica. Mas a massa ignara não conhece a razão.

O que nem o FMI nem os governos do mundo Atlântico conseguem perceber, por razões políticas, é o poder de classe do capital financeiro, que controla os mercados monetários aos quais os governos e o FMI têm de recorrer para tomar empréstimos, se querem estimular gastos ou emprestar a países em dificuldades. A confiança dos financistas é emoção muito mais importante que a confiança dos consumidores.

Em tempo de crise, a abordagem humana deveria ser ampliar os estímulos ao consumo até o momento em que milhões de pessoas consigam sair da condição de vida nua. Para fazê-lo, os governos devem desejar, nas palavras do economista Prabhat Patnaik, “exercer adequado controle sobre o sistema financeiro para garantir que os empréstimos às pessoas sejam sempre financiados, de modo a que o Estado não se torne prisioneiro dos caprichos dos financistas.”

O debate entre austeridade e estímulos é conduzido como se se travasse entre dois conjuntos racionais de pessoas. Os que clamam por austeridade são agentes dos grupos financistas, para os quais é pecado ver diminuir a própria riqueza; os que clamam por estímulos são eticamente corretos, mas não movem ataque de classe direto aos financistas, deixando-se navegar em ilusões. A única solução real para a crise do Atlântico Norte é, como receitou John Maynard Keynes, fazer “a eutanásia do rentista”.

É esse impulso para desafiar diretamente Wall Street que mostra o quanto é razoável e necessário o movimento “Occupy Wall Street” , protesto que agita lower Manhattan (bem perto de onde George Washington foi empossado presidente). Os cidadãos que decidiram acampar permanentemente e não deixar suas tendas, e que estão sendo brutalmente atacados e agredidos pela Polícia de NY, encontraram instintivamente solução muito melhor para o país, que (1) os que insistem em exigir “mais austeridade”; e (2) muito melhor, também que os que clamam por “estímulos” sem jamais desafiar os mandarins das finanças, os quais mais facilmente mandarão a economia dos EUA para o brejo, do que admitirão perder o poder que têm sobre o sistema econômico mundial. Sem luta contra o capital financeiro, ordenar “austeridade” é ato de crueldade; e ordenar estímulos é ilusão.

O FMI e os políticos norte-americanos não querem desafiar a classe financeira. De fato, o FMI até alerta contra qualquer “repressão financeira” (“Com os estados sob estresse financeiro e as economias lutando para se desalavancar, os políticos podem ser tentados a suprimir ou tentar escapar aos processos e informações do mercado financeiro.”) Deve-se evitar tudo isso, diz o FMI. Querem que a salvação lhes venha de países do Sul Global, os quais, diz o FMI, “estão em fase mais avançada do ciclo de crédito”. O FMI adoraria que China e Índia entregassem seus superávits ao Norte, como estímulo... Seria via excelente para que aqueles países passassem a exportar menos e a importar mais.

O mais estranho nisso tudo é que o FMI também agia como espada do capital internacional quando advogou que Índia e China se tornassem economias orientadas para exportar e dessem as costas às políticas nacional-desenvolvimentistas. Agora, a China está pronta para exportar bens de baixo custo para as economias atlânticas... E então, em vez de recomendar que China e Índia usem seus superávits como estímulos para criar demanda em seus próprios países (para arrancar suas populações mais rapidamente da miséria, investindo em infraestrutura, criando meios para prevenir catástrofes ecológicas) o FMI prescreve que China e Índia resolvam “os desequilíbrios financeiros” mandando seus superávits para o Norte! Por que o FMI não recomendou que o Norte tomasse essas medidas, nos anos 1980s e 1990s, quando as flechas financeiras estavam miradas na direção do Sul?

Os chineses dizem agora que podem ajudar a resgatar a eurozona, se a Europa atender a algumas “condições” que os chineses imporão (na linguagem do FMI, na era dos “ajustes estruturais”, essas condições chamavam-se “condicionalidades”, como cortar todos os investimentos de caráter humano e social, nos anos 1980s, como precondição para receber empréstimos).

Os chineses querem que os europeus acabem com processos por desobediência a leis de mercado – que é outro modo de dizer que os chineses querem morder fundo na carne do regime de propriedade intelectual – um dos últimos mecanismos ainda restantes que garantem o crescimento sem empregos que ainda mantém os EUA à tona. Mas por que, agora, a China não estaria fazendo certo? Diz o FMI que a China, agora, não está fazendo certo, por causa de seu “boom de empréstimos induzidos pela política”, também chamado de “plano de estímulos de 2009-10” – e que foi construído e aplicado sem qualquer influência dominante do capital financeiro.

É muito mais fácil mostrar os chineses como agentes do mal, do que apontar o dedo aos financistas. Toda a conversa sobre revalorização da moeda e barreira ao livre comércio não passa de conversa fiada, de quem não tem argumento a oferecer.

Lá, em Wall Street, norte-americanos comuns decidiram enfrentar, de vez, o capital financeiro. Não precisam recorrer à xenofobia ‘econômica’, nem se escravizar a ilusões de que os Buffets do mundo seriam a vanguarda da luta por justiça social. Querem é tirar, do pescoço dos povos do mundo, a botina-tacão das finanças.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Os donos do mundo



Ivan du Roy
Basta!


Um estudo de economistas e estatísticos dá a conhecer as interligações entre as multinacionais mundiais. E revela que um pequeno grupo de actores económicos – sociedades financeiras ou grupos industriais – domina a grande maioria do capital de dezenas de milhares de empresas no mundo.

O seu estudo, na fronteira da economia, da finança, das matemáticas e da estatística, é arrepiante. Três jovens investigadores do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique examinaram as interacções financeiras entre multinacionais do mundo inteiro. O seu trabalho - “The network of global corporate control” (“A rede de controle global das transnacionais”) - examina um painel de 43.000 empresas transnacionais (“transnacional corporations”) seleccionadas na lista da OCDE. Eles dão a conhecer as interligações financeiras complexas entre estas “entidades” económicas: parte do capital detido, inclusive nas filiais ou nas holdings, participação cruzada, participação indirecta no capital.

Resultado: 80% do valor do conjunto das 43.000 multinacionais estudadas é controlado por 737 “entidades”: bancos, companhias de seguros ou grandes grupos industriais. O monopólio da posse capital não fica por aí. “Por uma rede complexa de participações”, 147 multinacionais, controlando-se entre si, possuem 40% do valor económico e financeiro de todas as multinacionais do mundo inteiro.

Uma super entidade de 50 grandes detentores de capitais

Por fim, neste grupo de 147 multinacionais, 50 grandes detentores de capital formam o que os autores chamam uma “super entidade”. Nela encontram-se principalmente bancos: o britânico Barclays à cabeça, assim como as “stars” de Wall Street (JP Morgan, Merrill Lynch, Goldman Sachs, Morgan Stanley...). Mas também seguradoras e grupos bancários franceses: Axa, Natixis, Société générale, o grupo Banque populaire-Caisse d'épargne ou BNP-Paribas. Os principais clientes dos hedge funds e outras carteiras de investimentos geridos por estas instituições são por conseguinte, mecanicamente, os donos do mundo.

Esta concentração levanta questões sérias. Para os autores, “uma rede financeira densamente ligada torna-se muito sensível ao risco sistémico”. Alguns recuam perante esta “super entidade”, e é o mundo que treme, como o provou a crise do subprime. Por outro lado, os autores levantam o problema das graves consequências que põe uma tal concentração. Que um punhado de fundos de investimento e de detentores de capital, situados no coração destas interligações, decidam, por via das assembleias gerais de accionistas ou pela sua presença nos conselhos de administração, impor reestruturações nas empresas que eles controlam... e os efeitos poderão ser devastadores. Por fim, que influência poderão exercer sobre os Estados e as políticas públicas se adoptarem uma estratégia comum? A resposta encontra-se provavelmente nos actuais planos de austeridade.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

E.P. Thompson y William Morris: dos eco-comunistas



Peter Linebaugh
Counterpunch


Si tenemos en cuenta la contaminación de los mares, del suelo y de la atmósfera, así como de las capas geológicas submarinas, el mundo, considerado como una organización química, se encuentra actualmente en regresión. Gases peligrosos procedentes del subsuelo marino se respiran en la tierra y de ahí se elevan hasta la atmósfera con graves consecuencias para el equilibrio biológico del mundo. Como ha señalado Rebecca Solnit, el mundo está “patas arriba”, aunque no en el sentido que comúnmente se le da a esta frase, que fue tuvo un significado igualitarista y antiimperialista. Antes “patas arriba” describía las revoluciones espirituales y políticas: San Pablo, por ejemplo, fue acusado de “poner el mundo patas arriba” cuando predicó universalmente a todos –griegos y judíos, hombres y mujeres– en Tesalónica (Hechos, 17:6). Ése fue justamente el nombre de la melodía que supuestamente se interpretó en la rendición de Cornualles en Yorktown, cuando se consiguió la independencia estadounidense (“todos los hombres son creados iguales”). Como igualitaristas y antimperialistas, E.P. Thompson y William Morris eran comunistas, y ahora necesitamos más comunistas que nunca. ¿Pero qué significa el término exactamente?

Como fundador de una organización de clase, anticapitalista y revolucionaria, Morris propuso varias definiciones viables para su programa político: “Bien, lo que quiero decir por socialismo es un estado de la sociedad en el que no habrá ya ni ricos ni pobres, ni opresores ni oprimidos, ni ociosos ni gente sobrecargada por el trabajo, ni trabajadores intelectuales espiritualmente enfermos ni trabajadores manuales enfermos del corazón, un mundo en el que todos los hombres vivirán en igualdad de condiciones y gestionarán sus asuntos sin pérdidas y con la plena conciencia de que el daño a uno de ellos será el daño a la comunidad: la realización del significado último de la palabra riqueza común (Commonwealth).”[1] La mayoría de los elementos de esta definición –que puede haber diferentes tipos de sociedades, que la sociedad dominante esta basada en clases de ricos y pobres, que la igualdad es una condición alcanzable, que la sobrecarga de trabajo y la alienación violan los principios de solidaridad humana– proceden de las luchas de la primera revolución industrial, como llegamos a saber de ellas gracias al libro de E.P. Thomson, La formación de la clase obrera inglesa (1963). El único punto en que difiere del de Morris es la demanda de que no haya “pérdidas”. Esto es lo que hace a su comunismo “verde”, que volvemos a sentir cuando Morris pierde su temperamento: “Vivimos en una época de mala calidad. La mala calidad reina. Desde el hombre de estado hasta el zapatero: todo es de mala calidad”, exclamó a un reportero. “Entonces, ¿no admira usted el sentido común de John Bull, Mr. Morris?”[2] “John Bull es un zoquete estúpido y poco práctico”, respondió Morris. En otro momento, ya más calmado, añadió, “aparte del deseo de producir cosas hermosas, la principal pasión de mi vida fue y es el odio a la civilización moderna.” Ese odio procede de una repugnancia hacia todo lo que era miserable, estúpido, aburrido y odioso en el capitalismo, y que le condujo a repudiarlo de raíz. El anticapitalismo de Morris fue alimentado por su estudio de los poetas románticos y demostrarlo fue uno de los logros de Thompson.

Morris poseía “un profundo amor por la tierra y la vida sobre ella, (y una) pasión por la historia del pasado de la Humanidad. ¡Piénsese! ¿Por qué había de terminar todo ello en un despacho de contabilidad, sobre un montón de cenizas...?” La cuestión se ha tornado mientras tanto más urgente: los despachos de contabilidad se han convertido en rascacielos, el montón de cenizas, en montañas de carbón y restos de fabricación, compuestos venenosos, enormes derrames de petróleo, berilio enterrado, etcétera. Morris dice: ¡Pensadlo! Para nosotros es más bien una obligación. Hacia el final de su vida Morris proporcionó un significado a todo ello mucho más familiar, cuya modestia esconde lo que había de más revolucionario en él, concretamente la sugerencia de que el futuro se encuentra inmanente en el pasado: “Vivimos en una época donde hay un combate entre el capitalismo comercial, un sistema de dispendio peligroso, y el comunismo, un sistema que refleja el sentido común de la comunidad.”

Como leal miembro del Partido Comunista de Gran Bretaña, Thompson no tuvo la misma presión que Morris sintió como fundador de una organización para idear definiciones que comprendieran tanto. El problema de Thompson fue precisamente el opuesto. Se unió al partido que había logrado el socialismo en un sólo país, la Unión Soviética, así que la definición estaba obligada a incluir la raison d'état, lejos del sentido común de la comunidad. Como fundador de la Nueva Izquierda, Thompson injertó en lo viejo lo nuevo, concretamente, el “humanismo socialista”, que, sin embargo, aún hoy no se ha afianzado. Morris tuvo una práctica estética como poeta y artesano, donde la relación entre el comunismo revolucionario y los comunes (commons) encontró múltiples expresiones. Para Thompson, la relación encontró una expresión privada y familiar que se trasladó a su estilo de escribir, como historiador y pacifista. El logro político más duradero de Thompson fue en el movimiento para el desarme nuclear.

Las épocas en que Morris escribió sus textos, a finales del siglo XIX, y a mediados del XX, cuando Thompson escribió sobre Morris, se caracterizaron por una transición planetaria en las fuentes de energía que impulsaban el desarrollo económico, concretamente del carbón al petróleo y de éste a la energía nuclear. Estos cambios están en buena medida ausentes en los escritos de Thompson, igual que los están en los comentarios de Morris. Nada más lejos de mi intención que “reducir” el pensamiento de ninguno de los dos a la base material y energética de las sociedades en que vivieron (la reducción de la superestructura ideológica a la base material fue el error de los marxistas que más criticó Thompson). Morris fue un artesano de muchos y variados materiales, Thompson fue un historiador con talento e innovador. Ambos eran materialistas históricos. Si hemos de reintegrar la noción de comunes (commons) al comunismo revolucionario debemos entender el aspecto material del desarrollo histórico.

Como comunistas, ambos se opusieron al modo de producción capitalista, pero escribieron muy poco sobre él per se. Puesto que el capital requiere la separación del obrero de los medios de producción y subsistencia, y puesto que el más importante de estos medios es la tierra, la comunalización (commoning) debe ser lógicamente la respuesta a los males de la sociedad de clases. No sólo los comunes son la respuesta o la cura terapéutica (si la hubiera), sino que fueron el estado previamente existente: la expropiación original se hizo a partir de los comunes. Morris era consciente de esto, y también lo era Thompson, aunque lo expresó de manera diferente. Así pues, históricamente hablando, el capitalismo es solamente la parte de en medio, un intermedio, uno quisiera poder decir, entre los viejos comunes del pasado y el verdadero comunismo del futuro. Nuestro lenguaje refleja ese cambio en la degradación del significado del término “común” (commoner): de una persona con acceso a la tierra comunal a una masa innoble e indistinguible, con el significado implícito de que él o ella no posee nada que pueda decir que es suyo.

Esta edición de William Morris: de romántico a revolucionario (William Morris: Romantic to Revolutionary) se publicó en 1977 considerablemente revisada y con notables diferencias con respecto a su primera edición en 1955, como la adición de un post-scriptum de cincuenta y cinco páginas. La primera edición fue ya el resultado de muchos años de trabajo. Contamos con tres fechas en la evolución del Morris de Thompson: 1951, 1955 y 1977. De hecho, la relación entre ambos comenzó mucho antes.

En enero de 1944 Frank escribió a Edward, dos hermanos que eran soldados en los ejércitos que en aquel momento derrotaban al fascismo en Europa, sobre Noticias de ninguna parte (News from Nowhere), al que describió como un ejemplo del “idealismo más apasionado posible”. “Hasta que podamos formar conscientemente nuestro propio destino no podrá haber un bien coherente y equilibrado o belleza”. Cuando las tropas regresaron estaban determinadas a formar conscientemente su propio destino. Noticias de ninguna parte ayudó a formar las perspectivas de Jack Dash, un estibador de Londres y un enérgico dirigente de los trabajadores portuarios –no sólo de su propio puerto, sino de los de la nación y del mundo– cuya huelga de 1947 fue el comienzo de los desórdenes industriales de posguerra.

Morris permaneció con Thompson toda su vida. A un periodista estadounidense que le entrevistó le dijo que “[después de la guerra] impartí tanto literatura como historia. Pensaba, ¿cómo puedo ante todo mejorar una clase para adultos, muchos de los cuales participan en el movimiento obrero, discutir con ellos el significado de la literatura en sus vidas? Y empecé leyendo a Morris. Me capturó. Pensé, ¿por qué se le ve como a una antigualla? Sigue teniendo razón.” Thompson llegó a la conclusión de que Morris fue “el primer artista de mayor estatura en la historia mundial en tomar posición, conscientemente y sin un ápice de duda, a favor de la clase obrera revolucionaria.” “La discusión entre Morris y Marx la he llevado siempre dentro desde entonces. Cuando en 1956 mis desacuerdos con el marxismo ortodoxo se articularon definitivamente, regresé a los modos de interpretación que aprendí en aquellos años de compañía cercana con Morris, y encontré así, quizá, la voluntad de seguir discutiendo a partir de la presión de Morris que sentía detrás mío.” Y quizás fue éste el modo de mantener la fe en el idealismo apasionado de su hermano. Thompson no eliminó la frase rotunda sobre la fidelidad de Morris hacia “la clase obrera revolucionaria” en su edición de 1977. El propio Thompson elaboró a partir de ella su labor como historiador, aunque no su política contemporánea, pues ambas palabras, “revolución” y “clase obrera”, habían sido perversamente distorsionadas en el discurso de la Guerra Fría.

William Morris: de romántico a revolucionario, fue publicado por vez primera en 1955. A comienzos de 1956 Jruschov realizó su “discurso secreto”, denunciando a Stalin, pero en octubre de aquel mismo año los tanques soviéticos recorrían las calles de Budapest suprimiendo la revuelta de consejos obreros. Entre ambos acontecimientos, Thompson y su camarada John Saville comenzaron una discusión en The Reasoner que duró tres números. Thompson estaba concretando sus ideas sobre moral que había estado explorando a través del estudio de Morris. En el tercer y último número de The Reasoner escribió que la “subordinación de la moral y de las facultades imaginativas a la autoridad política y administrativa es equivocada; la eliminación de los criterios morales del juicio es equivocada; el miedo al pensamiento independiente, el aliento deliberado de las corrientes anti-intelectuales entre el pueblo es equivocado; la personificación mecánica de las fuerzas sociales inconscientes; el menosprecio del proceso consciente de conflicto intelectual y espiritual, todo eso es erróneo.” Thompson fue expulsado del partido. Pero también fue un momento de liberación personal. Describió “una estructura psicológica entre los intelectuales comunistas, desde mediados de los treinta hasta finales de los cuarenta, que nos dejó a todos faltos de confianza en nosotros mismos cuando nos confrontamos con las intrusiones de 'el partido'.”

No fue algo fortuito que el cuestionamiento del Partido Comunista de Gran Bretaña representado por el debate en The Reasoner y, menos directamente, por su biografía de William Morris publicada el año anterior, ocurriese cuando los estudiantes y trabajadores de Hungría se alzaron contra la dominación de la URRS formando a medida que avanzaba la insurrección consejos de democracia directa. Los estudiantes de Budapest se levantaron el 23 de octubre de 1956. Una semana antes, el 17 de octubre, la Reina Isabel II inauguraba la primera central nuclear con fines comerciales que proporcionaba electricidad. Fue en Calder Hall, Sellafield (Cumbria), en la costa del Mar de Irlanda. Hasta entonces la electricidad en Inglaterra se generaba gracias al trabajo de decenas de miles de mineros del carbón que tenían el poder de instalar el Estado del bienestar e incluso ir más allá. Desde que el presidente Eisenhower dio su discurso “Átomos por la paz” en la ONU en 1953, el uso pacífico de la energía nuclear condujo a numerosos sueños antojadizos de energía barata sin las interrupciones de la política de los países productores de petróleo o las huelgas obreras. La respuesta en Inglaterra fue la Campaña para el Desarme Nuclear (CND, por sus siglas originales), cuyo famoso símbolo de la paz señaló un tabú sobre las bombas nucleares, pero no sobre la energía nuclear. Aunque la Nueva Izquierda estuvo definida por su relación con las marchas de Aldermaston contra las armas nucleares (1958), fue incapaz de organizarse contra la energía nuclear como tal. La base de la mercancía estaba directamente vinculada a la maquinaria bélica. Se evitó una guerra nuclear, pero Three Mile Island (1979) y Chernobyl (1986) estaban al final de ese camino.

Su subtítulo plantea algunas cuestiones. ¿Qué es un romántico? ¿Qué es un revolucionario? ¿Es el primero todo idealismo e imaginación mientras el último todo realismo y ciencia? El movimiento romántico inglés entre los poetas se correspondió tanto con la contrarrevolución como con la intensificación en el movimiento de cercamiento de tierras. Los comunes agrarios y la subsistencia que proporcionaban estaban desapareciendo rápidamente. Aunque Thompson hará de este tema uno de sus libros de historia más importantes, Customs in Common, no lo vinculó en los cincuenta a los poetas románticos. Thompson afirma que la grandeza de Morris se encuentra en su “realismo moral” que infundió especialmente en Noticias de ninguna parte (1890) y Un sueño de John Ball (1886).

William Morris dio una lectura sobre comunismo en 1893 hacia el final de su vida en la Hammersmith Socialist Society. Afirmó que “si nuestras ideas de una nueva sociedad son algo más que un sueño, tres cualidades deben animar el deber de la mayoría del pueblo trabajador; y entonces, por así decir, la cosa estará hecha.” Las tres cualidades que deseaba lograr eran “inteligencia suficiente para concebir, coraje suficiente para querer, poder suficiente para forzar.”

El valor de la biografía de Thompson es que hace que te encuentres justo en el desarrollo político de la vida de Morris como militante quien, en consecuencia, debe ir, primero, a la clase trabajadora, y de aquí al modo de producción. Thompson puede que no haya escrito sobre los cambios materiales en la vida social de la época sobre la que estaba escribiendo, pero ciertamente era consciente de ellos en la época en que Morris vivía. “¿Cuál es la bisagra de la que depende actualmente el mundo del trabajo?”, preguntaba Morris. “La minería”, respondió.

La biografía perteneció a un año en el que la gente de color del mundo se reunió en Bandung, Indonesia, buscando una tercera vía que no fuese capitalista ni comunista. Rosa Parks tomó asiento en el frente de un autobús en Montgomery, Alabama. El historiador francés Alfred Sauvy acuñó el término “Tercer Mundo” en 1952 para reflejar una realidad que comprendía geográficamente a Latinoamérica, el Sureste asiático, Oriente próximo, África y Oceanía, y que no era ni el Occidente capitalista ni el Oriente soviético. Su uso remitía al Tercer Estado, los comuneros de Francia que, antes y durante la Revolución francesa, se opusieron a los clérigos y nobles que componían el Primer y el Segundo estado. Sauvy escribió que “como el Tercer Estado, el Tercer Mundo no es nada y quiere ser algo.” Allen Ginsberg leía ese mismo año su poema Aullido (Howl) buscando un enlace rapsódico, hip, con la gente de color contra el “Moloch cuyo amor es petróleo y piedra sin fin” (Moloch whose love is endless oil and stone). Aunque la biografía de Thompson fue una poderosa contribución a la búsqueda de las raíces indígenas radicales en Inglaterra, también fue parte de la agitación mundial de las capacidades morales de la humanidad, cuya indignación más amarga acaso fue el recibimiento de la explosión americana de la Bomba H (nombre código Bravo) en el Atolón de Bikini en 1954, que envenenó a los pescadores japoneses a bordo del “Lucky Dragon” e inspiró Godzilla.

Notas:
[1] La palabra inglesa Commonwealth significa “mancomunidad” y refiere hoy a una forma política, pero como término compuesto, su origen remite a la expresión “riqueza común”.
[2] John Bull es la personificación del carácter nacional británico –particularmente del inglés– en el mismo sentido que Michel lo es de los alemanes. Aquí se refiere al ciudadano común inglés.

sábado, 24 de setembro de 2011

El derecho a existir



Fernando Cibeira
Página 12


En un día histórico, el presidente Mahmud Abbas pidió en la ONU el reconocimiento de Palestina como Estado miembro de la comunidad internacional. La mayoría de la Asamblea General aplaudió de pie en el clímax de una sesión emocionante y en Cisjordania hubo festejos multitudinarios. Israel se pronunció en contra.

Sólo el tiempo podrá determinar con exactitud cuánto de histórica tuvo la jornada de ayer en la Asamblea General de las Naciones Unidas. El presidente de la Autoridad Palestina, Mahmud Abbas, le presentó una solicitud al secretario general de la ONU, Ban Ki-moon, para que reconozca a Palestina como un Estado miembro de la comunidad internacional, de la que luego agitó una copia delante del plenario. El anuncio provocó el aplauso de pie de una amplia mayoría de las delegaciones, en el clímax de una sesión emocionante. “Después de 63 años de sufrimiento ya basta, ya basta, ya basta. Ha llegado el momento”, se pronunció Abbas. Dos oradores más tarde, el primer ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, rechazó la posibilidad del reconocimiento hasta tener “acuerdos reales” para la seguridad de su país. El pedido palestino será analizado el lunes por el Consejo de Seguridad, donde Estados Unidos ya avisó que hará uso de su derecho a veto en caso de ser necesario. Con todo, un camino se abrió y hubo festejos en la Plaza Arafat de Ramalá.

En el aire había algo eléctrico, y no sólo por la tormenta que cayó durante todo el día en Nueva York. Hacía mucho tiempo que una Asamblea de las Naciones Unidas no debatía un tema con tanto acaloramiento como ocurrió durante esta semana por el reconocimiento del Estado palestino. Los dos grupos ya habían agotado su capacidad de lobby y llegaron a la jornada decisiva más o menos como se había previsto. Abbas decidió seguir adelante con su planteo, sin importar lo que sucediera. Sabía que tenía a su favor el número de apoyos, pero en contra el rechazo de los países desarrollados. Eso había quedado claro en el primer tramo de la Asamblea, con Dilma Rousseff y Cristina Kirchner en fervorosa defensa del reconocimiento palestino –“Vamos a contribuir a vivir en un mundo no solamente más seguro, sino también en un mundo más justo”, argumentó la Presidenta argentina–, mientras que Barack Obama y Nicolas Sarkozy se pronunciaron con igual determinación, pero en contra de la movida.

En la sala de prensa de la ONU se podía seguir a pantalla partida los movimientos del presidente palestino tras bambalinas, como si fuera una estrella de rock. Veterano de las guerrillas palestinas de los setenta con el nombre de Abu Mazen, Abbas debió haber imaginado varias veces una jornada como la de ayer que tal vez no culmine con éxito, pero que ya le permitió una gran ganancia simbólica. En un momento se lo vio saludando y luego sentado en una larga mesa con Ban Ki-moon. Parecía un saludo protocolar, pero después reveló que era el momento en que le entregaba la petición palestina.

Abbas

La Asamblea lo recibió a las 12.14 con una ovación, poniendo en evidencia de qué lado estaban la mayoría de las simpatías. En su mensaje, Abbas presentó a Israel como culpable de no cumplir con las resoluciones de las Naciones Unidas y de ser el responsable del fracaso de las negociaciones de paz. Además, lo acusó de nunca abandonar la política de asentamientos en sus territorios destruyendo el modo de vida de los palestinos. “El gobierno de Israel sigue confiscando la tierra de los palestinos a través de los asentamientos y acelerando la construcción del muro. Continúa con sus agresiones en la Franja de Gaza”, lanzó. Aunque aclaró que su objetivo no era “aislar ni deslegitimar” a Israel, sino la acción de sus colonos y, en cambio, legitimar a los palestinos.

Abbas hizo un largo repaso de los padecimientos de su pueblo. “Redadas, detenciones, matanzas en los puestos de control”, detalló. Entonces, con timing del buen orador que dosifica el suspenso, hizo el anuncio de que ya había presentado al secretario general de las Naciones el pedido para que el Estado palestino sea reconocido con las fronteras que tenía al 4 de junio de 1967 y capital en Jerusalén, a la que llamó por su nombre árabe, Quds Al Sharif.

“Este es el momento de la verdad, y mi pueblo está esperando escuchar la respuesta del mundo. Somos el último pueblo en estar ocupado. ¿Permitirá el mundo a Israel estar por encima de la ley? ¿Es esto aceptable?”, se preguntó. “No creo que nadie que tenga conciencia pueda rechazar nuestra petición de ser miembros libres en las Naciones Unidas y que se nos acepte como un Estado independiente.” En el tramo final de su discurso de poco más de media hora, Abbas fue varias veces interrumpido por aplausos. “Es hora de que el pueblo palestino consiga su libertad y sus derechos. Ha llegado la hora de la primavera palestina, de la independencia”, continuó. En el cierre, el presidente palestino citó a un poeta árabe. “Tenemos una sola meta, el ser, y así será”, culminó, con otra ovación de varios segundos de fondo.

Netanyahu

Las razones del orden de la lista de oradores de la Asamblea nunca están del todo claras, obedecen a distintas variables. La cuestión es que no había pasado ni una hora del discurso de Abbas cuando el premier israelí ya estaba en el estrado para responderle. Los estilos fueron bien diferentes. Abbas habló en árabe y con emoción. Netanyahu lo hizo en su fluido inglés americano, aprendido durante sus años de educación en Estados Unidos. A veces acodado sobre el atril, parecía un avezado político norteamericano. Incluso por su por momentos feroz tono irónico, ausente en el mensaje de Abbas.

Como cuando arrancó y dijo ser consciente de que Israel no tenía una buena imagen en las Naciones Unidas dado que había recibido en ese ámbito más condenas que el resto de las naciones juntas. Concluyó que esa “mayoría automática” podía decidir cualquier cosa. Puso como ejemplos que en algún momento la Libia de Muammar Khadafi presidió la Comisión de Derechos Humanos y la Irak de Saddam Hussein, la de Desarme. “Es la parte desafortunada de la ONU”, disparó.

Tanto Abbas como Netanyahu mantuvieron las formas durante sus discursos, hablando siempre a favor de un eventual diálogo entre ambos y tendiendo la mano hacia su rival. Sin embargo, durante la mañana, la representación diplomática israelí en las Naciones Unidas había difundido por Twitter y otros medios un supuesto discurso privado de Abbas en el que aseguraba que nunca reconocería “al Estado judío de Israel”, aun cuando Palestina obtuviera su reconocimiento.

La estrategia de Netanyahu fue presentar a Israel como la única democracia de Medio Oriente, una solitaria contención en una región de islamistas radicales. “No vine a buscar aplausos, vine a hablar con la verdad”, tiró, dolido por las ovaciones que Abbas había recibido unos minutos antes. “La paz debe basarse en acuerdos de seguridad, no debe salir por resoluciones de las Naciones Unidas. Los palestinos quieren un Estado sin paz, ustedes no pueden dejar que esto suceda”, siguió.

Dijo que era falso el argumento de Abbas de que el avance de los asentamientos era el motor del conflicto. Primero, porque el conflicto era previo a que comenzaran los asentamientos. Segundo, porque Israel se había retirado del sur del Líbano y de Gaza y la violencia había seguido. Más ironías: “Abbas dijo que los palestinos sólo están armados de esperanzas y sueños, pero no mencionó las diez mil armas y proyectiles que les proporciona Irán”. En otro tramo sostuvo “que la Primavera Arabe no se transforme en el invierno iraní”.

Netanyahu argumentó que Abbas ni siquiera pudo imponer la paz en Gaza, así que difícilmente pueda garantizarla a Israel. “No hay paz, hay guerra. Tenemos a Irán, que ha abatido a la Autoridad Palestina allí, a través de su satélite, Hamas”, definió. Concluyó que nadie querría tener el peligro tan cerca de sus familias. Por eso propone que “los palestinos deben conseguir la paz con Israel antes de conseguir su estado, después no lo vamos a poder hacer. Cuando haya paz, seremos el primer país en reconocer aquí a Palestina como Estado independiente”. Y le propuso a Abbas sentarse a negociar ayer mismo, en el edificio de las Naciones Unidas. Con sus propuestas dialoguistas de cierre, Netanyahu también consiguió una despedida digna con una buena cantidad de aplausos.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Com orgulho e alegria, palestinos celebram dia da dignidade




Eduardo Febbro
Carta Maior


Às vezes a história atravessa as entranhas, é música, cor, bandeiras, cantos e o poema de Mahmud Darwich que o locutor da praça Al-Manara vai recitando enquanto a multidão palestina que veio escutar Mahmud Abbas apresentar, perante a ONU, o pedido de reconhecimento do Estado Palestino, celebra essas palavras feitas de amor e alento: “eu nasci aqui e meu sonho é morrer aqui”. Os cantos e a alegria se fizeram mais potentes quando os homens do palanque foram dizendo, um após outro, os nomes dos países que apoiam o Estado Palestino.

Antes, os organizadores da concentração organizada na praça central de Ramallah tinham destacado as frases mais significativas pronunciadas pelos líderes mundiais nas Nações Unidas. A da presidenta argentina dizia: “com a Palestina como Estado 194 da ONU o mundo será mais seguro e mais justo”. A Autoridade Palestina quis evitar os distúrbios, mas os jovens foram mesmo assim para as imediações do check-point de Kalandia jogar pedras nos soldados, que respondiam do lado de dentro do muro. Cenas repetidas, desproporcionais, na história destes dois povos: jovens com bodoques e pedras, soldados treinados e com armas modernas.

A sexta-feira começou com proibições. Pela rua central de Jerusalém, Jaffa Street, um grupo de israelenses manifestava-se livremente de bicicletas contra a circulação de automóveis. 600 metros abaixo, os árabes tinham restringida a passagem ao núcleo mais denso da Cidade Velha, a Esplanada das Mesquitas. Israel deslocou cerca de 22 mil homens para garantir a segurança. Entre a porta de Herodes e a de Damasco, do mesmo modo que nos outros acessos à Cidade Velha, os palestinos homens menores de 50 anos tinham a entrada proibida. “Eles controlam meu destino e minha liberdade quando tem vontade”, dizia com raiva Hamad, um habitante de Jerusalém Oriental. “Mas não importa”, acrescentou, “ninguém nos tirará o orgulho de viver esse dia”.

O orgulho e a emoção brotavam dos milhares de palestinos reunidos em Ramallah. “Este é o dia mais feliz da minha vida”, dizia um membro da Autoridade Palestina. Há muitos anos que não se via palestinos tão felizes e cheios de orgulho, fazendo corpo com seu presidente. Não temos ilusões. “Sabemos que isso é só um começo, um passo curto em uma história muito longa, mas não é um passo vazio, não é um passo violento, é um passo que nos legitima, que nos faz visíveis aos olhos do mundo, um passo que veio desde cima para dar dignidade a nós, os de baixo”, dizia Nabil, outro palestino da Praça Al Manara. Olhos cheios de lágrimas, negros, profundos, olhos que esqueceram em um instante as humilhações sofridas. Tinha vindo com as chaves da casa na qual viviam seus avós, expulsos de suas terras pela ocupação israelense. Só lhe tinha sobrado isso, mas saltava como uma criança com as chaves na mão.

O governo de Benjamin Netanyahu fez previsões dramáticas. Antecipou mortos, brigas populares, piquetes, levantes e distúrbios que, em grande medida, não ocorreram. “Este é o dia da verdade e não o dia da violência”, repetiam os dirigentes da Autoridade Palestina. O Executivo israelense insistiu nesse discurso: os palestinos sempre foram, são e serão uma ameaça para a segurança de Israel. Não ocorreu o esperado. A Autoridade Palestina também se meteu no jogo e agiu para aplacar os excessos. Era um dia de dignidade e não para a morte. Mas houve uma: Issam Kamal Odeh, um palestino de 35 anos que protestava com um grupo de 400 pessoas na localidade de Qusra, ao norte dos territórios, em Naplusa. Os colonos da zona provocaram o enfrentamento. Montaram uma contra-manifestação para defender a propriedade desse território. Palestinos e colonos se enfrentaram a pedradas. O exército israelense abriu fogo e Issam Kamal Odeh caiu nessa refrega.

O oficialismo evidente dos festejos de Al Manata, praça rebatizada Praça Arafat, não mascarou a autenticidade das expressões de alegria. O chamado “dia da verdade” foi paradoxal. As pessoas terminaram gritando o nome de seu presidente, Mahmud Abbas, mas este dirigente seco, sem encantos nem muito carisma, também arrasta um déficit de legitimidade democrática substancial. Ontem subiu ao céu do reconhecimento. Os palestinos gritaram seu nome, junto ao nome de Arafat. Façanha de um instante que ainda não garante o caminho da paz, nem tampouco o duro trabalho da reconciliação palestina entre as lideranças da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, controlada pelos fundamentalistas do Hamas. O Hamas se opõe a tudo, começando pelo pedido de reconhecimento do Estado Palestino na ONU e terminando pela própria existência de Israel.

O Hamas quase não existe na Cisjordânia. A polícia secreta palestina segue-os de perto, não os deixa falar nem existir. Mahmud Abbas e o primeiro ministro de Gaza, Ismail Haniyé, estão separados por um abismo, que não é só político, mas também territorial: Gaza fica do lado oposto ao da Cisjordânia. Há duas palestinas que precisam ser unidas.

Mas a ilusão de uma terra reconhecida, o espaço que o tema palestino ocupou rapidamente na comunidade internacional, a maioria esmagadora de países que apoia o Estado Palestino, tudo isso deixou uma sensação de novo amanhecer, de perspectiva tangível. Orgulho e alegria sem enganos, alegria lúcida, como as palavras de Mahmud Anhel, um comerciante palestino de 50 anos que saltava e cantava com sua mulher e seus filhos na Praça Arafat: “o que mais podemos fazer, tínhamos o futuro bloqueado e agora surgiu isso, quase nossa única solução. É emocionante e importante. Admito e admitimos que talvez o fracasso nos aguarde, mas isso é novo como a água fresca, novo e diferente”.

Qais Abu, outro palestino da praça, mais jovem e combativo, dizia, com uma bandeira palestina na mão e um retrato de Mahmud Abbas na outra: “sabe que o mundo se deu conta de coisa com essa história da ONU. Todos falam e falam de Nova York da liberdade, liberdade daqui, liberdade de lá, mas o único povo que não a tem é o nosso porque vivemos sob ocupação. Se isso ficar claro teremos ganho um século de reconhecimento sem disparar um só tiro”.

Já é tarde, Agora, Jerusalém oriental também festeja, atravessando a meia noite. Carros com frondosas bandeiras palestinas circulam pela cidade, na artéria que circunda a Cidade Velha. O mesmo grito se repete a cada automóvel, como um eco ressoando no coração da noite de Jerusalém Oriental: “Palestina Livre”. Um sonho. Uma esperança. Uma condição para, enfim, viver em paz.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Los hombres de negro



Juan Gelman
Página 12


Actúan en 70 naciones del mundo –por ahora– y no precisamente en la TV. Son comandos de las fuerzas de operaciones especiales de los EE.UU. que así visten y en este minuto mismo están haciendo algo de lo suyo en alguna parte: ejecuciones extrajudiciales, secuestros, espionaje, construcción de bases y prisiones secretas, financiación y entrega de armas y entrenamiento en prácticas idénticas a nacionales de numerosos países del planeta. Entre otras cosas, enseñan cómo matar a civiles paquistaníes o somalíes con aviones no tripulados. El manto de clandestinidad que los envuelve empezó a rasgarse con el operativo que terminó con Osama bin Laden.

El Comando de Operaciones Especiales de EE.UU. (Socom, por sus siglas en inglés) se estableció en 1987, su misión consiste en combatir al terrorismo en todo el mundo y es una fuerza combinada de marines, comandos de la fuerza aérea, boinas verdes, rangers, asesores y militares de otras ramas. No ha cesado de crecer desde su creación: de 37.000 efectivos a comienzos de los ‘90 pasó a unos 60.000, su presupuesto se ha cuadruplicado y asciende hoy a 9800 millones de dólares y, sobre todo, se ha convertido en una suerte de Pentágono dentro del Pentágono. Goza de independencia para adquirir armas y puede organizar sus propios equipos de tareas, prerrogativas en general reservadas a instancias de mayor jerarquía, como el Departamento de Marina y el Departamento de Ejército.

El almirante Eric T. Olson, ex jefe del Comando, lo dijo con todas las letras: “El Socom es un microcosmos del Departamento de Defensa, lo integran componentes de tierra, mar y aire, y tiene una presencia global y facultades y responsabilidades semejantes a las de los departamentos, servicios y organismos militares”. La criatura preferida de ese hijo preferido del Pentágono es el Comando Conjunto de Operaciones Especiales (JSOC, por sus siglas en inglés): su misión fundamental es perseguir y asesinar a sospechosos de terrorismo. Informa y responde directamente a Obama, como la SIDE a Videla, y en su lista de candidatos a difunto figuran ciudadanos estadounidenses. Para John Nagel, ex asesor de contrainsurgencia del próximo director de la CIA, el general David Petraeus, el JSOC es “una máquina contraterrorista de matar casi a escala industrial”.

Centenares de yemenitas que protestaban para liberarse de la tiranía de Abdullah Saleh fueron asesinados gracias a la ayuda militar, el entrenamiento del ejército del país, las armas y los ataques con aviones no tripulados de EE.UU. y resulta difícil sospecharlos de terrorismo. Más bien son víctimas del terrorismo de Estado que Washington fomenta en la región según sus intereses. No es curioso que “el arco de inestabilidad”, como lo bautizara W. Bush, que según él abarcaría a 97 países del Medio Oriente, Asia, Africa y aun del sur de América latina, coincida en gran medida con territorios de grandes reservas petrolíferas. La extendida presencia de los hombres de negro es otra expresión de la voluntad del gobierno estadounidense de imponer su dominio en todo el mundo.

El Socom tenía presencia en 60 países al concluir la era W. Bush y Obama aumentó su despliegue a 75. El 85 por ciento de sus efectivos opera en veinte países del Gran Medio Oriente, desde Afganistán, Yemen y Egipto, hasta Siria, Jordania y Turkmenistán. El resto, desde el sudeste asiático hasta el Cono Sur pasando por Centroamérica. Pero esto no ha de quedar así: el coronel Tim Nye, vocero del Socom, anunció que los hombres de negro estarán a fines de este año operando en 120 países, el 60 por ciento de las naciones de la Tierra. En fin, no es el mundo entero todavía.

El periodista Ron Suskind recuerda en su libro The One Percent Doctrine (Simon & Schuster, Nueva York, 2006) el plan destinado a llevar a cabo “operaciones detalladas contra terroristas en 80 países” que preparó la CIA en el 2001. Casi al mismo tiempo, el entonces jefe del Pentágono Donald Rumsfeld declaró que EE.UU. estaba embarcado en “un amplio esfuerzo conjunto que probablemente englobe a 60 países”. Obama, por lo visto, le duplica la apuesta.

El mandatario estadounidense ha aumentado además el número de bases militares, secretas y no, en la región del “arco de inestabilildad”, que llega hasta las fronteras con China. Se ha convertido en un eficaz vendedor de armas a esos países y “documentos del Pentágono y de otras fuentes públicas indican que los organismos militares y de inteligencia de EE.UU. operan en todas las naciones del arco, sin excepción”. En este campo, Obama no sólo ha vencido a W. Bush: también se ha derrotado a sí mismo, al Obama que se opuso a la guerra de Irak aun antes de que comenzara.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Momento clave para Chile



Santiago O'Donnell
Página 12


Momento clave para Chile. Momento constitucional, lo define el destacado politólogo de la Universidad de Chile, Manuel Antonio Garretón, al teléfono desde Santiago. Los estudiantes negocian directamente con el presidente Piñera, algo que ya sería llamativo en la Argentina, imagínense en un país tan estructurado y formal como Chile, donde hasta ayer los interlocutores habituales de estos líderes sociales eran los camiones hidrantes de los carabineros. Pero los chicos crecieron. Sus protestas desnudan el agotamiento del sistema político y del modelo socioeconómico heredados de la dictadura de Pinochet. Un actor en movimiento, organizado y articulado horizontalmente en todo el país, con amplio consenso social, va más allá de la indignación y plantea una agenda. ¿Se sigue reformando lo que dejó Pinochet o se empieza de nuevo? ¿El momento se congela o fluye hacia un proceso refundacional? Todo eso está por verse. Garretón plantea un camino, un horizonte posible, pero al mismo tiempo advierte que ese camino está repleto de contradicciones.

El escenario. “En este momento los estudiantes intentan retomar la cuestión de las movilizaciones para reforzar las negociaciones que tienen con el gobierno, mientras el gobierno los presiona con la amenaza de cerrar el año lectivo el 7 de octubre, y así muchos estudiantes perderían sus becas y tendrían que pagar sus préstamos por no cumplir con los días de clase. Ha habido otras manifestaciones paralelas como la de (la central obrera) CUT, de trabajadores de la salud en contra del sistema municipal, pero son más bien reclamos puntuales. Con los estudiantes la agenda está planteada y lo que está en juego es una serie de demandas en términos de la calidad, la equidad y el endeudamiento. Esto hay que resolverlo aumentando recursos y haciendo algunas reformas versus hay que refundar el sistema de educación primario, superior y universitario.”

Las demandas. “Hay acuerdo sobre los temas fundamentales y se están estableciendo las condiciones del diálogo. Los estudiantes dicen que no pueden negociar con una pistola en la cabeza. Piden que el gobierno congele el decreto que establece el cierre del 7 de octubre. Los estudiantes exigen también que haya transparencia en el debate, que las discusiones sean televisadas. Y que no se envíen proyectos de leyes educativas, como el proyecto para aumentar el valor de las becas y rebajar las tasas de crédito de los préstamos estudiantiles del seis por ciento al dos por ciento. Para los estudiantes sería un gran avance, pero a la vez plantea una tensión, porque sería tomar el camino de mantener el sistema y aliviar la situación, evitando un cambio más sustantivo.”

El límite. “El único instrumento que tienen los estudiantes son las movilizaciones. Las protestas no sirven si no hay un momento de solución, no pueden ser indefinidas. Por eso los estudiantes quieren el máximo de garantías para avanzar. De las doce demandas que presentaron, el gobierno contestó cuatro, ninguna de fondo, y dos puntos que dijeron que no van a conceder, el de la gratuidad y el del lucro en la educación primaria y superior. Tampoco va a conceder el tema del lucro, aunque estuvo de acuerdo en discutirlo en primer lugar, como exigen los alumnos. La respuesta a la desmunicipalización es vaga, aunque no creo que lo revisen a fondo. El tema de la calidad es más de fondo, donde el gobierno plantea mejorar los controles con más recursos versus la idea de que la calidad y la equidad requieren un cambio estructural, por la fragmentación del sistema.”

El actor. “En los otros campos no hay un movimiento que se haga cargo del tema. Sólo puede hacer el movimiento estudiantil lo que en otras épocas hacían los trabajadores y los movimientos políticos. En Chile la tasa de sindicalización es del diez por ciento, la de negociación colectiva es del cinco por ciento. El gremio del cobre, por tener otras condiciones laborales, no tiene enraizamiento en el resto de la clase trabajadora, cuando hacen paro los demás gremios no adhieren. Por otra parte, si usted suma los estudiantes afectados, mala calidad y la desigualdad en los costos, y suma que el ochenta por ciento de las familias de los universitarios están endeudadas, obtiene una base social que respalda al movimiento que alcanza el ochenta, noventa por ciento de la población. No hay otro movimiento que alcance un segmento tan alto. Los demás son movimientos de descontento, indignados. Los estudiantes, además de estar indignados, tienen agenda, tienen contrapropuesta. El único otro campo estructurado con contrapropuesta es el movimiento mapuche, tiene una capacidad de incidencia muy acotada. Y a diferencia de los movimientos de consumidores, que son tremendamente dispersos, las universidades y escuelas están organizadas transversalmente en federaciones estudiantiles y forman una base estructural.”

El legado. “Estamos en una situación anómala en la que el presidente negocia directamente con el movimiento estudiantil. Refleja una ineficiencia del sistema político para procesar una demanda. El tema no se discute en el Parlamento porque los estudiantes no le tienen confianza después de la experiencia de los pingüinos (la protesta estudiantil del 2006), donde las principales demandas, terminar con la municipalización y el fin del lucro educativo, no quedaron en los acuerdos finales. El movimiento estudiantil ha tomado a su cargo dos cuestiones pendientes en el proceso de democratización del país. La transición chilena dejó sin resolver el tema modelo económico-social, cuyo eje central es la generación de desigualdad. Ese sistema, al crecer y expandirse, reproducía esa desigualdad. El sistema político genera un empate que impide cambiar el sistema educativo. Es un sistema donde la minoría manda e impone la agenda por el manejo del quórum. Es un sistema democrático, pero con ley de minoría, no de mayoría. Entonces no es posible cambiar el sistema educativo, trasladando el gasto de la familia al Estado como corresponde, ni cambiar el sistema de financiamiento universitario, o hacer una gran transferencia de recursos del Estado al sector educativo, si antes no se hace una reforma tributaria. Por eso lo que se busca es un cambio de eje en el modelo económico social, pero el sistema político no está en condiciones de procesar esa demanda.”

El instrumento. “En estos días se ha planteado la idea de un plebiscito, pero no me parece viable. No tiene sentido plebiscitar la educación cuando está pendiente un momento constitucional del país, que apunta a cambiar dos ejes, el político y el económico-social, que a lo sumo fueron corregidos, desde que empezó el proceso de democratización (en 1990). La percepción de que el modelo de reformas pospinochetista está agotado se ha hecho generalizada. Por eso la idea de ampliar la Concertación (de partidos políticos de centro y centroizquierda) para que emerja como el gran sujeto político del proceso refundacional, juntando partidos políticos y movimientos sociales para que surja un nuevo sujeto político, en cuya ausencia hoy actúan los estudiantes. La idea sería que las próximas elecciones municipales resulten en una gran derrota para el gobierno y triunfo opositor, y que en la próxima elección presidencial esté presente el dilema de la nueva sociedad versus el mantenimiento del sistema. Pero esta solución no da cuenta de la sensibilidad del movimiento social hacia los partidos políticos, y presenta el dilema de cómo incorporar nuevos actores muy desconfiados del campo político porque en ese campo pueden perder la autonomía la importancia que tienen.”

El momento. “Estamos en un momento refundacional. Hay que ver si este momento se transforma en un proceso refundacional, en proceso constituyente, o si se congela el momento con adecuaciones, reacomodos políticos y reformas en la educación y el paso de una época a otra queda congelado, a la espera de otros momentos. Es lo que hicieron todos los otros países de la región después de sus dictaduras, con constituciones nuevas que marcaron un cambio radical en el sistema político, incluso en Argentina (con la reforma de 1994), también en Brasil, Ecuador, Venezuela o Bolivia. No digo que las reformas hayan sido buenas o malas, pero se hicieron. En este sentido, Chile marcha a la retaguardia de la región, no a la vanguardia.”

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

El futuro de la decadencia y caída de Estados Unidos



Mike Davis
Tomdispatch


1. Torres gemelas

Dentro de dos años, el personal de Vanity Fair y The New Yorker se mudará al edificio más atormentado del mundo. Allí, la elite de los fotógrafos de celebridades estadounidenses, columnistas de espectáculos y periodistas de revistas quizás encuentren nuevas y lúgubres musas.

En los pisos superiores del World Trade Center (donde la editorial Condé Nast firmó el contrato más costoso), van a mirar por las ventanas hacia ese vacío aterrador a pocos metros, donde 658 empleados de Cantor Fitzgerald estaban sentados en sus escritorios a las 8:46 del 11 de septiembre de 2001.

No hay que preocuparse: la “Torre de la libertad”, según nos aseguran los promotores, será un consuelo duradero para las familias de los mártires del 11-S así como un ícono del renacimiento cívico y nacional. Sin mencionar la espectacular revitalización del valor de las propiedades del vecindario. (Confieso que me desconcierta esa fusión de especulación de bienes inmuebles con sublimes conmemoraciones: es como proponer construir un puerto deportivo para yates sobre el hundido Arizona o un parque temático acerca de Katrina en el Lower Ninth Ward de Nueva Orleans.)

En el diseño original del World Trade Center también se pretendió recuperar la supremacía en arquitectura vertical en Manhattan y lograr el edificio más alto del mundo. Pero esa rivalidad fálica mundial la ganó la supertorre Burj Khalifa de Dubai, que se terminó el año pasado y tiene el doble de altura que el edificio Empire State.

Sin embargo, dentro de pocos años, Dubai tendrá que entregar la copa dorada a Arabia Saudita y la familia Laden. Financiado por el Principe Al-Waleed bin Talal, que se deleita con ser conocido como el “Warren Buffet árabe”, la Torre del Reino en Jeddah, la hipérbole máxima del despotismo de Arabia Saudita, atravesará las nubes en la costa del Mar Rojo con una increíble altura de todo un kilómetro (3.281 pies).

Por otro lado, World Trade Center alcanzará un máximo de 1.776 pies sobre el Hudson. (Los especuladores de conspiraciones pueden obsesionarse con esta coincidencia: la cantidad de pies con que la torre de Arabia Saudita superará a la estadounidense coincide exactamente con la cantidad de personas que perdieron la vida en la Torre Norte del World Trade Center en 2001.)

Con poca publicidad, el contrato inicial de mil millones de dólares para la torre de Jeddah fue otorgado por el Príncipe Al-Waleed a los megaconstructores y expertos en rascacielos del mundo árabe, el Grupo Binladen. Esto puede mantener vigente el nombre familiar durante muchos siglos más.

2. Connivencia

Diez años atrás, Lower Manhattan se convirtió en la Sarajevo de la Guerra contra el Terrorismo. Si bien la conciencia intenta prevenirnos de hacer una ecuación moral entre el asesinato de un solo Archiduque y su esposa el 28 de junio de 1914 y la masacre de casi 3.000 neoyorquinos, por lo demás, la analogía es inquietantemente acertada.

En los dos casos, una pequeña red de conspiradores periféricos pero bien conectados, enaltecidos a sus propios ojos por los implacables reclamos de su región, atacaron a un gran símbolo del imperio responsable. Los atentados fueron realizados deliberadamente para detonar conflictos más grandes y catastróficos, y según ellos, fueron exitosos y superaron la imaginación más siniestra de los conspiradores.

Sin embargo, la magnitud de las explosiones geopolíticas resultantes no fueron simples funciones de la notoriedad de los actos mismos. Por ejemplo, en Europa entre 1890 y 1940, más de dos docenas de jefes de Estado fueron asesinados incluyendo a los reyes de Italia, Grecia, Yugoslavia y Bulgaria, una emperatriz de Austria, tres primeros ministros españoles, dos presidentes de Francia, etc. Pero, excepto el asesinato de Franz Ferdinand y su esposa en Sarajevo, ninguno de estos eventos incitaron una guerra.

Asimismo, un solo terrorista suicida en un camión mató a 241 marinos estadounidenses y marineros en sus barracones en el Aeropuerto de Beirut en 1983. (Cincuenta y ocho paracaidistas del ejército francés fueron asesinados por otro terrorista suicida el mismo día.) Un presidente democrático seguramente hubiera recibido presión para tomar una represalia masiva o intervenir a gran escala en la guerra civil libanesa, pero el Presidente Reagan, muy sagazmente, distrajo al público con una invasión de la pequeña Granada, mientras retiraba silenciosamente el resto de sus marinos del este del Mediterráneo.

En cambio, si Sarajevo y el World Trade Center desencadenaron matanzas y caos mundial se debió a la connivencia de facto que existió entre los atacantes y los atacados. No me refiero a los míticos complots británicos en los Balcanes o los agentes de Mossad volando las Torres Gemelas, sino simplemente a los hechos conocidos: en 1912, el Estado Mayor General de Alemania ya había decidido aprovechar la primera oportunidad para desatar una guerra y los poderosos neoconservadores alrededor de George W. Bush esperaban el derrocamiento de los regímenes en Bagdad y Teherán incluso antes de contar el último voto en Florida en 2000. Tanto los Hohenzollern como los texanos buscaban un casus belli que legitimara la intervención militar y silenciara la oposición nacional.

El militarismo prusiano, por cierto, fue particularmente privilegiado por el Black Hand, un grupo terrorista patrocinado por el estado general serbio, que asesinó al Archiduque y su esposa, mientras que el espectáculo de horror de al-Qaeda en Lower Manhattan consagró el derecho divino de la Casa Blanca de torturar, encarcelar en secreto y matar por control remoto. En aquel momento, pareció como si Bush y Cheney hubieran montado un coup d'etat contra la Constitución. Sin embargo, pudieron apuntar, cínica pero exactamente, a todo un catálogo de precedentes.

3. “Inocencia” e intervención

Para ser sincero, cada capítulo en la historia de la extensión del poder de EE. UU. ha empezado con la misma frase: “Inocentes estadounidenses fueron atacados con alevosía…”. ¿Recuerda el Maine en el puerto de la Habana en 1898 (274 muertos)? ¿El Lusitania hundido por el torpedo de un submarino alemán en 1915 (1.198 ahogados, incluyendo 128 estadounidenses)? ¿El asalto de Pancho Villa en Columbus, Nuevo México en 1916 (18 ciudadanos estadounidenses muertos)? ¿Pearl Harbor (2.402 muertos)? Los mismos ataques inesperados, la misma indignación nacional justificada. El mismo pretexto para los planes clandestinos.

Además, los historiadores también recordarán la legación sitiada en Pekín (1899), la presunta perfidia de Emilio Aguinaldo en las afueras de Manila (1899), los varios crímenes contra bancos y empresarios estadounidenses en América Central y el Caribe (1900-1930), el bombardeo japonés del USS Panay en 1938, el cruce del ejército chino del Río Yalu en Corea (1950), el incidente del Golfo de Tonkin en Vietnam (1964), la captura norcoreana del Pueblo (1968), la captura de Camboya del Mayagüez (1975), los rehenes de la embajada de EE. UU. en Teherán (1979), los estudiantes de medicina puestos en peligro en Granada (1983), los soldados estadounidenses acosados en Panamá (1989), etc.

Esta lista apenas roza la superficie: la sincronización de intervención y autocompasión en la historia de EE. UU. es inexorable. En nombre de los “inocentes estadounidenses”, Estados Unidos se anexó Hawai y Puerto Rico; colonizó Filipinas, castigó el nacionalismo en el Norte de África y China, invadió México (dos veces), envió a una generación a los campos de la muerte en Francia (y encarceló a los disidentes en su hogar), masacró a patriotas en Haití, República Dominicana y Nicaragua, aniquiló ciudades japonesas, bombardeó y convirtió en escombros a Indochina y Corea; apoyó a dictadores militares en América Latina y se convirtió en socio de Israel en el asesinato rutinario de civiles árabes.

4. ¿Decadencia y caída?

Algún día, tal vez más pronto de lo que creemos, un Edward Gibbon en China o India probablemente se siente a escribir La historia de la decadencia y caída del Imperio estadounidense. Ojalá se trate de un volumen de una obra mayor y progresista, tal vez El renacimiento de Asia, y no el obituario por un futuro humano perdido en el codicioso vacío de Estados Unidos.

Creo que probablemente se clasificará a la hipócrita “inocencia” estadounidense como uno de los afluentes más tóxicos de la decadencia nacional, con el Presidente Obama como su máxima encarnación. De hecho, desde la perspectiva del futuro, ¿cuál será considerado el mayor crimen? ¿Haber creado la pesadilla de Guantánamo o haberla conservado desestimando la opinión popular mundial y las propias promesas electorales?

Obama, que fue elegido para que retornara las tropas a casa, cerrara los gulags y restaurara la Declaración de Derechos, se ha convertido en el principal encargado del legado de Bush: un converso vuelto a nacer de las operaciones especiales, los aviones asesinos, los enormes presupuestos de inteligencia, la tecnología de vigilancia al estilo de Orwell, las prisiones secretas y el culto de superhéroe al anterior general y actual Director de la CIA, David Petraeus.

Nuestro presidente “antiguerras” tal vez esté llevando el poder a lo más tenebroso de lo que podamos imaginarnos. Y mientras más fervientemente Obama adopta su papel como comandante en jefe de la Fuerza Delta y los Navy Seals, menos probable será que los futuros demócratas se atrevan a cambiar la Ley Patriótica o a desafiar la prerrogativa presidencial de asesinar y encarcelar en secreto a los enemigos de Estados Unidos.

Seducido por las guerras contra fantasmas, Washington ha hecho caso omiso de cada tendencia importante de la última década. Malinterpretó completamente los verdaderos anhelos de las calles árabes y la importancia del populismo islámico dominante, ignoró la emergencia de Turquía y Brasil como potencias independientes, se olvidó de África y perdió mucha de su influencia en Alemania y los reaccionarios cada vez más arrogantes de Israel. Lo más importante es que Washington fracasó en desarrollar una estructura política coherente para su relación con China, su principal acreedor y rival más importante.

Desde un punto de vista chino (supuestamente la perspectiva de nuestro futuro Gibbon), Estados Unidos está demostrando síntomas incipientes de ser un estado fallido. Cuando Xinhua, la agencia de noticias semioficial de China, regaña al congreso de EE. UU. por ser “peligrosamente irresponsable” en las negociaciones de deudas o cuando altos dirigentes chinos se preocupan abiertamente por la estabilidad de las instituciones económicas y políticas de EE. UU., es claro que se han cambiado los papeles. Especialmente cuando, a la espera de una oportunidad y con la Biblia en la mano, aguarda la generación de locos del 11-S: los candidatos presidenciales republicanos.

domingo, 18 de setembro de 2011

A liberdade que nos une



Ivan Marsiglia
O Estado de São Paulo


Na mesma data em que a Organização das Nações Unidas (ONU) celebrava o Dia Internacional da Democracia, essa quinta-feira, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, e o premiê britânico, David Cameron, erguiam desajeitadamente os braços do líder rebelde Mustafa Abdul Jalil em Benghazi, na Líbia, anunciando um futuro de liberdade e progresso após a queda do ditador Muamar Kadafi.

Assim será? Os rebeldes estão prontos para traduzir os anseios da população líbia? E como fica a situação da Síria e de outras nações do Oriente Médio e do Norte da África que se insurgiram na chamada "primavera árabe"? Estarão as grandes democracias ocidentais dispostas a colaborar, respeitando a soberania nacional, nesse processo emancipatório - sem esquecer, como disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, em sua mensagem comemorativa, que "a democracia não pode ser exportada ou imposta de fora, ela deve ser gerada pela vontade das pessoas e alimentada por uma sociedade civil forte e ativa"? O mundo atual caminha de fato na direção da livre manifestação do pensamento, das liberdades civis e dos direitos políticos? Como anda a qualidade da democracia no Leste Europeu, na Ásia, na América Latina e, em especial, no Brasil?

Para responder a essas perguntas, o Aliás escalou um time internacional de cientistas políticos especializados no tema. Do Brasil, falou José Álvaro Moisés, professor da Universidade de São Paulo e diretor do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas (NUPPs), que coordena atualmente uma ampla pesquisa sobre os 25 anos de democracia no País. Da Europa, o convidado foi Leonardo Morlino, professor da Universidade de Florença e presidente da Associação Internacional de Ciência Política (Ipsa). Dos Estados Unidos, o representante foi Scott Mainwaring, professor da Universidade de Notre Dame e diretor do Instituto de Estudos Internacionais Helen Kellogg. A seguir, os pontos de vista de cada um.

Com o fim das ditaduras latino-americanas nos anos 70 e 80, a dissolução da União Soviética nos 90 e a recente 'primavera árabe', podemos dizer que a democracia venceu?

José Álvaro Moisés: A expansão da democracia por várias regiões do mundo, a partir dos anos 70, foi o fenômeno político mais importante do século 20. Ela sobrepujou todas as alternativas, como o fascismo, o stalinismo e os autoritarismos militares. Hoje, um dos seus grandes desafios continuam sendo as desigualdades econômicas e sociais que afetam a liberdade política, a competição eleitoral e a participação dos cidadãos. Outro são o terrorismo e a intolerância política, que, em alguns casos, foram usados para justificar a invasão de nações e o cerceamento de liberdades civis e políticas. Apesar disso, as virtudes da democracia alimentam um poderoso efeito-demonstração, apontando as implicações do regime na qualidade de vida das pessoas.

Scott Mainwaring: A democracia certamente se expandiu globalmente desde o final dos anos 70, mas de maneira muito desigual. Segundo as avaliações da Freedom House (organização sem fins lucrativos sediada em Washington que promove pesquisas sobre direitos humanos, democracia e Estado de Direito), em 1978, quando a terceira onda de democratização na América Latina teve início, 30% dos países do mundo eram considerados livres, 35% eram parcialmente livres e 24% não eram livres. Essas estimativas não eram tão precisas na década de 70, mas são a única fonte confiável disponível. O último relatório dela, lançado em 2010, diz que 45% dos países hoje são livres, 31% parcialmente livres e 24% não livres. É um bom sinal. Entretanto, a Freedom House considera a situação global da economia estagnada desde 1998. Vários países, incluindo a proeminente Rússia, regrediram: considerada parcialmente livre na década de 90, degringolou para o autoritarismo.

Leonardo Morlino: Não há dúvida de que desde o início dos anos 70 o fenômeno da democratização teve forte aceleração no mundo. Entretanto, há hoje dois aspectos que não nos permitem dizer que ela seja dominante no mundo. O primeiro é o fato de o país com o segundo maior PIB mundial, a China, ter um regime politicamente não democrático. Sem falar na já citada Rússia, que pratica uma espécie de autoritarismo eleitoral. O segundo aspecto está relacionado ao contexto mundial de crise econômica e desemprego que vivemos - que pôs em xeque a capacidade de ação das elites políticas das grandes democracias.

Entender democracia como mero sistema eleitoral é um engano frequente?

Morlino: O sistema eleitoral é muito importante, ele é a regra chave para o mecanismo de resolução pacífica de conflitos que está no coração da democracia. Mais: os arranjos institucionais da democracia, seus procedimentos básicos, estão diretamente relacionados às eleições. Assim, entender democracia como sistema eleitoral não é engano. É, no entanto, uma simplificação, se deixamos de prestar atenção em outros valores fundamentais dela, como a igualdade econômica e social.

Moisés: Eleições limpas, regulares e competitivas são condição sine qua non da democracia, mas insuficientes. Exemplo disso são os casos em que elas convivem com o desrespeito ao primado da lei, a expansão incompleta dos direitos de cidadania e a inexistência de instituições, mecanismos e normas eficazes de fiscalização e controle dos poderes republicanos. Alguns exemplos são os casos da Venezuela, Equador, Paquistão, Rússia e, em menor escala, Bolívia. O Irã não tem eleições livres. Em alguns desses países, lideranças escolhidas pelo voto popular tendem a se sobrepor às instituições democráticas, intervindo no Poder Judiciário, limitando o Legislativo e, às vezes, anulando a capacidade de ação dos partidos de oposição. Essas são democracias incompletas ou iliberais.

Mainwaring: Entender democracia exclusivamente como sistema livre e justo de contagem de votos é certamente um engano. Ele não é frequente entre cientistas políticos, mas a Organização dos Estados Americanos (OEA) e diversos governos nacionais focam exclusivamente a tabulação de votos na hora de avaliar a democracia nos países. Em sua acepção contemporânea, ela depende de três elementos: sufrágio adulto quase universal, sistema de proteção das liberdades civis e direitos políticos e ausência de atores políticos capazes de veto ou controle da arena de decisões políticas.

Como avaliar a qualidade da democracia?

Mainwaring: A qualidade da democracia depende do grau de entendimento, por parte da sociedade, dos procedimentos que a preenchem. Uma democracia de alta qualidade é a que o campo em que se dá o jogo eleitoral seja justo, em que quase todos os adultos exerçam seus direitos políticos formais, em que o Estado garanta efetivamente direitos políticos e liberdades civis e, repito, em que os governantes eleitos não estejam sujeitos a veto por parte das Forças Armadas, por exemplo. Em grande parte da América Latina, o grande desafio hoje é garantir a existência de um campo político justo, para que os diversos grupos disputem as eleições em condições de igualdade.

Morlino: Essa é uma questão muito importante hoje. Em meu último livro, Changes for Democracy (Oxford University Press), vejo três significados na qualidade da democracia. O respeito ao império da lei, com accountability eleitoral e institucional, é um deles. A promoção dos valores da liberdade e da igualdade é outro. O terceiro é a "responsividade" (conceito que se refere à obrigação e capacidade de governos de corresponderem às expectativas dos que os elegeram). Em minhas pesquisas na Europa e América Latina, estipulei indicadores para avaliar cada uma dessas dimensões.

Moisés: Democracias eleitorais só se transformam em democracias efetivas se os poderes militar e policial forem devidamente controlados pelas autoridades civis eleitas e se os conflitos e divisões internas próprios de sociedades complexas tiverem meios efetivos de solução por mediação institucional. Instituições existem para controlar o abuso de poder, assegurar a efetividade do Estado de Direito e do império da lei e o que Norberto Bobbio chamou de "promessas democráticas". Se, por exemplo, o acesso à Justiça for negado a setores menos privilegiados da sociedade, partidos e Parlamentos não convencerem os eleitores de sua credibilidade e a política for vista como um domínio de privilégios e distorções que beneficiem alguns, a própria ideia de democracia fica profundamente afetada.

Países da ‘primavera árabe’ receberam tratamento diferenciado das nações ocidentais, dependendo de seu alinhamento ou não a elas. Como se ‘promove’ a democracia?

Mainwaring: Não há fórmula predeterminada. Depende das condições específicas de cada país. Normalmente, dar suporte internacional às oposições democráticas, como ocorreu agora na Líbia, é uma opção melhor do que assumir o protagonismo na criação da nova democracia - como aconteceu de maneira extremamente custosa, em termos de dólares, vidas humanas e destruição da infraestrutura, no Iraque em 2003. Já os esforços da OEA para desencorajar retrocessos autoritários são positivos: por meio da resolução 1080, a organização impediu golpes na Guatemala em 1993 e no Paraguai em 1996 - além de ajudar no restabelecimento de eleições livres no Peru em 1995. Por outro lado, a OEA não soube ser efetiva em situações de autoritarismo eleitoral, como na Venezuela desde 1999.

Morlino: Na última década houve desenvolvimento efetivo de estratégias de promoção da democracia. O chamado mecanismo das "condicionalidades" (que determina de que maneira organismos internacionais como Banco Mundial, FMI e outros prestem apoio a países de histórico autoritário ou em processo de democratização) é importante. Mas pesquisas empíricas feitas por diversos acadêmicos mostram que tais ações, para funcionar, devem ter credibilidade e continuidade no tempo. Ações externas só são eficazes quando encontram forças domésticas prontas a assumir o risco de implementar uma agenda democrática no país.

Moisés: Intervenções militares são sempre questionáveis do ponto de vista moral, político e do direito internacional. Por isso, são quase sempre negativas para "encorajar" a democracia. Isso não se confunde, no entanto, com situações como a vivida hoje pela Síria e até recentemente pela Líbia - em que governos ditatoriais reprimem com violência a reivindicação legítima de suas populações civis. Esses casos exigem coragem e determinação das nações democráticas, pois o respeito a direitos humanos não pode ser limitado por fronteiras diplomáticas ou considerações de realpolitik. Meu juízo, nesse caso, é que a posição do Brasil em recentes decisões da ONU foi lamentável, e deveria ser revista. Invasões como a do Iraque, contudo, envolvendo claros interesses econômicos e geopolíticos, não podem ser chamadas de estímulo à democracia.

Vinte e cinco anos após a redemocratização, como os senhores veem a qualidade das instituições no Brasil?

Molino: O Brasil tem sido importante para o desenvolvimento da democracia em toda a região da América Latina por duas razões. Em primeiro lugar, a forma bem-sucedida como ela foi implementada no País enfraqueceu alternativas neopopulistas como a da Venezuela e a da Bolívia. Em segundo lugar, as políticas brasileiras de redução da desigualdade e da pobreza mostraram à região que na democracia os valores da liberdade e da igualdade podem e devem andar juntos. Não é possível haver liberdade sem algum nível de igualdade no que se refere à educação, qualidade de vida, assistência médica, etc. E vice-versa.

Mainwaring: A qualidade da democracia no Brasil melhorou muito desde Sarney e Collor. Naquela época, os militares ainda tinham poder de veto sobre importantes decisões políticas. As engrenagens do período autoritário permaneciam fortes, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. Hoje, as eleições são livres, justas e raramente contestadas. A participação política se expandiu. A proteção às liberdades civis e aos direitos políticos avançou enormemente. A imprensa e a sociedade civil são independentes e vigorosas. Há ainda, no entanto, desigualdade de direitos. Os pobres e a população negra no Brasil não desfrutam dos mesmos direitos e liberdades civis. Outro déficit da democracia brasileira é a impunidade de políticos flagrados em casos de corrupção. Mas, falando estritamente, eu diria que os grandes problemas do Brasil hoje são mais econômicos e sociais que de qualidade de sua democracia.

Moisés: O Brasil é um país democrático, não há duvida. Mas penso que a qualidade da sua democracia está em questão, sim. A hipertrofia do Executivo, herdada do período autoritário, limita a autonomia e a independência do Legislativo, comprometendo a representação da sociedade e o poder efetivo dos eleitores. O sistema partidário brasileiro é fragmentado e relativamente instável, com quase 30 partidos nominais e perto de 10 efetivos. A corrupção é endêmica, frauda a igualdade da competição eleitoral e desvia para fins privados recursos que deveriam ser investidos em políticas públicas. O chamado presidencialismo de coalizão, se por um lado garante a governabilidade, por outro estimula a irresponsabilidade dos partidos que formam as coalizões governistas majoritárias sem comprometê-los com a probidade no uso dos recursos públicos. Os escândalos nos Ministérios dos Transportes, da Agricultura e do Turismo atestam isso.

Como a corrupção afeta a democracia?

Moisés: Minhas pesquisas de cultura política mostram que um dos fatores determinantes da altíssima desconfiança dos cidadãos nas instituições democráticas do País é a corrupção. Essa prática desmoraliza a política, passa a ideia de que a lei e as normas democráticas são irrelevantes e não precisam ser cumpridas. O exemplo que vem de cima deteriora a moralidade política e desqualifica a dimensão republicana da democracia. É certo que houve avanços, devidos às denúncias da mídia e à ação do Ministério Público, da Polícia Federal, do TCU e, mais limitadamente, da CGU. Mas, em anos recentes, o governo Lula foi considerado um dos mais corruptos pelos entrevistados de pesquisas de opinião, só perdendo para o governo Collor.

Mainwaring: Não há dúvidas de que a corrupção mina a confiança pública. E, obviamente, enfrentá-la é um dos grandes desafios da democracia brasileira e de grande parte da América Latina. A perspectiva de punição é a melhor vacina contra a corrupção. O País precisa desenvolver métodos efetivos de investigação e um Poder Judiciário capaz de perpetrar punições exemplares. Por outro lado, é preciso reconhecer que a capacidade do Estado brasileiro de investigar e punir a corrupção foi bastante aperfeiçoada desde a metade dos anos 90. O problema é que a classe política age com instinto de autopreservação, formando um "clube da impunidade": um protege o outro. Um círculo vicioso difícil de quebrar.

Morlino: Um nível alto de corrupção mostra que o império da lei é frouxo e afeta a confiança nas instituições e na democracia. A sociedade civil e as elites políticas precisam combater essas práticas. Mas deixe-me de novo ressaltar os avanços do Brasil nos últimos anos, e quanto a situação era pior há duas décadas. Muitas vezes sofremos de "perfeccionismo democrático": buscamos altos resultados imediatos e subestimamos os avanços parciais obtidos. Uma dose de realismo é necessária para não se criar expectativas impossíveis que só nos levam ao desapontamento.

O STF tem sido acionado para arbitrar questões que o Congresso não esteve apto a discutir, como a união civil entre pessoas do mesmo sexo. O que isso diz a respeito de nossa democracia? Plebiscitos são uma boa alternativa para a inação do parlamento?

Mainwaring: Plebiscitos podem ser um instrumento suplementar à democracia representativa. Porém, como pude perceber morando na Califórnia, onde esse tipo de iniciativa popular é frequente, eles também podem ser manipulados por interesses particulares. Lá, grandes corporações e lobbies poderosos muitas vezes conseguem propor e dominar plebiscitos. Eles não são uma panaceia. A democracia representativa é que precisa funcionar bem.

Morlino: A melhor maneira é a mais difícil: via mobilização e participação popular. O papel cada vez maior da magistratura é um fenômeno disseminado por todas as democracias e parte da accountability institucional. Plebiscitos e referendos podem ser instrumentos ocasionais, mas de fato podem ser distorcidos e manipulados por forças políticas ou grupos de interesse. Sobre eles, vale o slogan: use com moderação.

Moisés: O STF tem agido em casos em que o Congresso e os partidos são omissos ou as leis votadas são inconstitucionais. Seria melhor se isso fosse evitado, mas depende do Congresso recuperar suas prerrogativas e assumir papel efetivo na definição da agenda política do País. A pressão da sociedade - crescente através das redes sociais - é um novo caminho. A adoção de plebiscitos, referendos e iniciativa popular de leis, previstos na Constituição, pode revitalizar a democracia representativa.

Democracia e sustentabilidade combinam?

Moisés: O desenvolvimento sustentável depende da democracia. Só nesse regime a sociedade tem informações claras e qualificadas sobre as decisões de governos que afetam o meio ambiente. O caso das usinas nucleares é exemplar: muitas decisões do regime militar sobre sua construção e suas implicações só se tornaram conhecidas no Brasil após a conquista da democracia. Sem falar no debate sobre as implicações ambientais, o incremento da produção de petróleo, a alternativa do etanol e a construção de grandes usinas hidroelétricas como Belo Monte em áreas que afetam a preservação ambiental e as condições de vida das populações autóctones, que surgiu, mas mostrou também quanto temos de caminhar nesse tema.

Morlino: É preciso trabalhar para que ambas andem juntas, mas a ideia de sustentabilidade ecológica precisa estar ligada à de sustentabilidade econômica - levando em conta, igualmente, os custos sociais e civis de cada decisão. É doloroso ver as novas democracias emergirem em um mundo que discute como manter ou baixar suas expectativas para torná-las compatíveis com os recursos econômicos existentes.

Mainwaring: Democracias tendem mais à sustentabilidade do que ditaduras. Mas vamos ser claros: há uma batalha nas democracias sobre o que priorizar neste momento. O governador do Texas, Rick Perry, é pré-candidato à presidência nos EUA e nem sequer acredita na existência do aquecimento global. E a profunda crise econômica pela qual o país passa torna ainda mais difícil um encontro entre democracia e sustentabilidade no curto prazo: a prioridade é promover crescimento e gerar emprego. Por outro lado, não podemos desconsiderar o fato de que algumas ditaduras são eficazes na promoção do ambientalismo quando querem. A China, que chegou atrasada à discussão e tem graves problemas ambientais, está se transformando rapidamente em país de ponta nas tecnologias verdes.