quinta-feira, 6 de outubro de 2011

As mobilizações estudantis no Chile



Camila Maciel
ADITAL


Desde maio, milhares de estudantes no Chile estão mobilizados por transformações no sistema educacional do país. Marchas, ocupações, intervenções dão o tom do movimento que tem recebido apoio de diversos setores da sociedade chilena, assim como de organizações de outros países. Com o objetivo de refletir sobre as mobilizações estudantis no Chile, o Programa de Educação Tutorial (PET), do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC), realiza um debate, aberto ao público, nesta quinta-feira (6), às 15 horas, no Auditório Luiz de Gonzaga.

Na ocasião, os estudantes brasileiros irão conferir a exposição do professor Fernando Marcelo de la Cuadra, da Rede Universitária de Pesquisadores sobre América Latina (Rupal), a qual é parceira do evento. "Temos visto um movimento de grandes proporções no Chile. (Nesse sentido), interessa aos alunos das Ciências Sociais refletir sobre essa realidade”, afirma o professor. Após a exposição, haverá o debate com a participação da professora Alba Pinho, também da UFC, e representantes do Diretório Central dos Estudantes e do Centro Acadêmico do Curso de Ciências Sociais.

De acordo com Fernando de la Cuadra, as mobilizações estudantis no Chile repercutem um modelo neoliberal da educação, com um sistema privatizado, que tem gerado o endividamento de cerca de 80% das famílias. Ele aponta que, embora o governo tenha sinalizado medidas atenuantes, como a diminuição da taxa de juros de 6% para 2%, atualmente, as reivindicações extrapolam a questão financeira. "Começou com uma pauta econômica, mas se transformou em uma demanda maior de que país se quer construir”, avalia.

O professor, que tem nacionalidade chilena, revela a existência de famílias que passam até 15 anos para terminar de pagar a dívida adquirida com a formação superior dos filhos. Mesmo nas universidades públicas, pagam-se matrículas. "Temos um sistema privatizado, onde o Estado funciona como fiador dos estudantes. O Estado é solidário à dívida, mas quem paga é a família”, explica. Outra proposta apresentada pelo governo nas negociações seria o aumento do número de bolsa.

Os estudantes, no entanto, rechaçam tais propostas, tendo em vista que estão exigindo mudanças estruturais no modelo educacional chileno. O "Acordo Social pela Educação”, um documento inicial que sintetiza as demandas dos atores sociais mobilizados pela educação, expressa a necessidade de "recuperar a educação como um direito social e humano universal (...), e que seja estruturado em um novo Sistema de Educação organizado e financiado pelo Estado em todos os seus níveis (...)”.

Para o professor Fernando, há diferenças basilares entre a educação privada e a pública. Uma "educação pública e de qualidade” significa que o Estado está participando ativamente da formação de seus cidadãos. "Falar em educação pública é pensar em um bem coletivo. Um médico não se forma só para ganhar dinheiro, mas para contribuir com a sociedade, para desenvolver o país”, afirma.

Em consonância com essa ideia, Fernando de la Cuadra revela que as últimas enquetes realizadas no Chile apontam a educação como principal tema do país, na avaliação dos cidadãos. Tal compreensão aponta a posição destacada que o tema ocupa no debate público, passando a frente de questões como segurança, saúde, dentre outros que, normalmente, figuram dentre os mais recorrentes.

Quanto à possibilidade de conquistas pelos estudantes, o pesquisador da Rupal afirma que não há como prever se haverá mudança estrutural. No entanto, ele aposta que esse é um momento histórico para repensar o modelo neoliberal de desenvolvimento do país. Nesse contexto, ele destaca o quadro de impopularidade por que passa o governo do presidente Sebastián Piñera, o qual possui 70% de rejeição. "O governo perdeu espaço de negociação”, avalia o professor.

Os estudantes participarão também do Plebiscito Nacional pela Educação, uma iniciativa da organização Mesa Social pela Educação com objetivo de construir uma ferramenta concreta de opinião para o movimento pela educação.

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