segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Itália: Lágrimas no funeral do bem-estar social

Agencias

O Conselho de Ministros do governo italiano, presidido por Mario Monti, aprovou neste domingo o primeiro ajuste orçamentário do Executivo de tecnocratas, o qual será explicado pelo primeiro-ministro nesta segunda-feira no Parlamento da Itália, informaram fontes governamentais. A ministra do Trabalho, Elsa Fornero, abordou um dos temas mais conflituosos, a modificação do sistema de previdência, e chorou ao anunciar as mudanças.

A Ministra do Trabalho italiana, Elsa Fornero, não conseguiu conter o choro ao explicar a parte do arrocho de 30 bilhões de euros anunciado neste domingo pelo primeiro ministro Mário Monti, que penalizará fortemente o sistema previdenciário do país. A previdência italiana passará a ter o mínimo de 42 anos (para os homens) e 41 (para as mulheres) para poder receber o benefício "antecipado" sem recorrer ao sistema de cotas. No setor privado, em 2012, a aposentadoria para as mulheres foi elevada para 62 anos no caso das mulheres e 66 anos para os homens, com uma penalização de 3% anual para aqueles que quiserem retirar antes, enquanto a equiparação total de idades será de 66 anos em 2018.

A antecipação de pedidos de aposentadoria até lá exigirá um mínimo de 41 anos de contribuição para mulheres e de 42, no caso dos homens. Pensões acima de 936 euros foram congeladas; aquelas abaixo desse valor serão corrigidas apenas parcialmente. Trata-se de um arrocho de sangue sobre as gerações mais velhas, que congela e corrói o amparo social justamente quando mais se necessita dele na curva final da vida, uma ruptura de valores e laços compartilhados que desmantela as bases do Estado do Bem-Estar Social pelo qual muitos dos que agora estão sendo descartados lutaram.

Na cena asséptica e pastosa da solenidade montada para vestir de fatalidade contábil aquilo que é uma expropriação de renda em benefício dos rentistas, Elsa Fornero destoou. Em lágrimas, não conseguiu concluir o raciocínio justificatório para a palavra 'sacrifício'. Precisou interromper a explicação sobre os detalhes do pacote sendo substituída então por Monti, o tecnocrata elegante, na verdade um bloco granítico e calculista a serviço dos mercados, explicitamente reconhecido como um interventor deles no Estado italiano.

Depois que a ministra concluiu seu emocionado discurso, Monti assinalou que o plano visa congelar as aposentadorias superiores aos 960 euros mensais, mantendo a revisão das aposentadorias mínimas em função da inflação. A aprovação do pacote de medidas econômicas e financeiras estava prevista para segunda-feira, porém, os políticos decidiram antecipar o Conselho de Ministros, que durou mais de três horas, depois que Monti apresentasse o plano aos sindicatos, empresários, agentes sociais e partidos políticos.

Em entrevista coletiva, Monti disse que seu governo tem "um mandato de curta duração" e "o firme compromisso de ajudar à Itália a sair de uma crise gravíssima, de uma crise internacional e de um mal-estar da economia e da sociedade italiana que colocava em risco tudo o que foi construído por quatro gerações de italianos". O presidente do governo se dirigiu aos italianos antes de proceder a explicar o plano de ajuste. "É um momento que a Itália tem potencial para enxergar que é um grande país, capaz de encontrar força em si mesmo para resolver os problemas".

Monti também afirmou que "a grande dívida pública italiana não é culpa dos europeus, mas culpa dos italianos que no passado não deram importância ao futuro das crianças do país". "Temos necessidade de criar condições para buscar o crescimento da Itália e pôr sob controle o déficit e a dívida pública. Temos dado também um peso muito particular ao equilíbrio", declarou o primeiro-ministro.

"Também tivemos que distribuir os sacrifícios e tivemos cuidado ao distribuí-los. Vão ver que nossas medidas são, sobretudo, incisivas em relação à evasão fiscal", completou Monti, acrescentando que "a pluralidade de sacrifícios deve ser vista como um novo despertar da economia italiana e da sociedade".

O presidente do governo, que deseja que o decreto se chame "Salva-Itália", anunciou que apoiará a proposta de um imposto sobre as transações financeiras nas instituições europeias, um ponto que a Itália tinha sido contra até o momento. Monti também afirmou que haverá "sacrifícios", mas também ações em apoio das empresas e da liberalização em interesse dos consumidores e da concorrência. Ao mesmo tempo em que a luta contra a evasão fiscal será prioridade do governo, Monti exclui a opção de recorrer às anistias.

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