domingo, 21 de outubro de 2012

Antonio Elizalde: América Latina está tendo pleno desenvolvimento por meio das lutas sociais

Natasha Pitts
ADITAL


Na tarde de quinta-feira (18), o professor chileno Antonio Elizalde, reitor da Universidade Bolivariana do Chile (1995 – 2006) e editor da revista Polis visitou a sede da Adital. De passagem por Fortaleza, Estado do Ceará (Nordeste do Brasil) para participar da 6ª edição do Seminário da Rede Universitária de Pesquisadores sobre a América Latina (Rupal), Antonio Elizalde aproveitou a oportunidade para conhecer a Agência de Informação Frei Tito e conversar sobre a conjuntura latino-americana.

Entre os temas levantados, o professor falou sobre ‘Contradições e dilemas da integração latino-americana no século XXI’, assunto discutido no Seminário da Rupal. Ao esclarecer quais são estas contradições e dilemas, destacou a questão indígena em países da América Latina, governados por presidentes "com inclinações progressistas”.

"Apesar da existência do direito constitucional em favor dos indígenas e em favor da natureza, no governo de Evo Morales tentam construir uma estrada que atravessa o Tipnis e em definitivo se vê claramente uma sorte de dilemas, de paradoxos, de contradições, que traz uma sorte de confrontações no interior do próprio povo indígena”, destaca.

Antonio Elizalde destaca que outros governos da América Latina também tiveram problemas semelhantes. "Algo parecido ocorreu com [Rafael] Correa e a comunidade indígena no Equador. Algo parecido também ocorreu com Chávez na zona do Orinoco. Ou seja, há uma violação permanente das populações mais desatendidas, no caso a população indígena. As políticas, inclusive as progressistas são de alguma maneira incertas e numa visão de mundo na qual se pensa que o crescimento é imprescindível. (...) Os países tem que produzir sua matéria-prima, industrializá-la, chegar ao mercado. Em definitivo o que ocorre é grave. No fundo, a lógica do capital tem sua natureza própria, é inerente a ela a condição do crescimento. O objetivo central do capitalismo é ter ganâncias, ter benefícios”, lembra.

"Este processo pode chegar mais longe do que se podia pensar”

Em virtude de suas experiências e vivências na Colômbia, o professor também falou com propriedade sobre o importante momento político em que este país vive. Após passar cinco anos visitando a Colômbia de três a quatro vezes por ano, como colaborador do movimento pacifista, Antonio Elizalde destacou que o país não pode viver uma guerra permanente e que crê na paz.

"A Colômbia não pode viver em uma guerra permanente. Não é possível, até fisicamente, se aposentar como guerrilheiro. A única forma de romper com isso é um incremento dos níveis de consciência humana. A Colômbia é um país marcado por uma tremenda tragédia. (...) Minha impressão é que se pode chegar ainda mais longe. Este processo pode chegar mais longe do que se podia pensar. Estamos às portas de um processo de avanço para a pacificação”, acredita.

O professor acrescenta ainda que para além do desarme material é necessário um ‘desarme espiritual’. "É muito complica alguém que viveu há 10 ou 20 anos sequestrando gente, depois que se firma um protocolo a pessoa deixe de exercer o que era sua função. O processo de desarme ainda vai durar muito tempo e ainda vai gerar muito sofrimento. Vai ser muito difícil aceitar que passe em frente à sua casa o responsável pela morte de seu pai, seu primo, sua mulher”, pontua.

"América Latina está tendo seu pleno desenvolvimento no momento presente”

Relembrando os golpes e as tentativas que se produziram no continente nos últimos anos – Honduras, Equador, Paraguai – Elizalde relembrou a situação de desigualdade em que vive e se desenvolve a população latino-americana.

"O que nós temos é um sistema que se consolida sobre a base de estruturas do tipo feudal, que se tem na Europa. (...) Na prática, estamos conseguindo agora, através das lutas sociais, ir progressivamente acabando com esse caráter tremendamente feudal. A América Latina está tendo seu pleno desenvolvimento no momento presente. Por meio das lutas sociais”.

Rumos da América Latina

Ao ser questionado sobre os rumos da América Latina neste momento de crise financeira e econômica na Europa e de ascensão de alguns países da América Latina, o editor da ‘Revista Polis’ respondeu de imediato que é visível que o continente está em seu melhor momento.

"Estamos no melhor momento da América Latina. Nós não estamos vivendo a crise que vive a Europa e estamos tentando avançar apesar de toda a influência do neoliberalismo. Muitos países até já começam a falar de renda básica cidadã. Temos taxas de crescimento positivas. Possivelmente poderemos ter avanços mais significativos em términos de progresso social. Minha impressão é que o contraste que a Europa está vivendo de alguma maneira acentua uma sorte de pressão popular por conseguir consolidar. Há aqui uma situação há qual se conseguiu manter-se imune da epidemia desta crise financeira”, encerrou.

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